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Evangelho Prêt-à-Porter

Se não conseguirmos fazer o ideal, que façamos o possível!

*Edson Sardano, colunista de AnaMaria Digital. Publicado em 20/03/2024, às 10h06

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Imagem Evangelho Prêt-à-Porter

O fabulista grego Esopo, narra em uma de suas histórias, adaptada posteriormente por Jean de La Fontaine, que uma raposa tentava comer um cacho de uvas pendurado em uma vinha muito alta e, como após um tempo pulando não conseguiu, vai embora desdenhando e afirmando que as uvas estavam verdes.

Às vezes fenômeno semelhante acontece com os religiosos em geral e os espíritas em particular, pois muitos livros, oradores e divulgadores trazem lições importantes, consoladoras, elucidativas, mas com poucas chances de serem seguidas na prática.

Limitando-me ao exemplo do amor, o tão propagado amor: somos exortados a amar a Deus, aos inimigos, aos criminosos e ao próximo como a nós mesmos.

- É exagero?

- Não! É o correto.

- Melhor: é o ideal.

Acontece que por estarmos ainda muito longe do ideal, corremos o risco de agir como a raposa e deixarmos de lado tais postulados do Evangelho pelo simples fato de serem, ao menos no momento, inalcançáveis.

É aí que eu faço uma outra comparação, uma espécie de metáfora “fashion”, referindo-me ao mudo da moda.

Todos já devem ter visto ou ouvido falar desses desfiles realizados nas chamadas semanas da moda, conhecidas pelo nome em inglês, “fashion week”. Há em São Paulo, no Rio de Janeiro e mundo afora.

Nesses desfiles, modelos badaladas desfilam roupas que nenhuma criatura ousaria vestir, possivelmente nem mesmo as meninas que as envergam no evento.

- Qual o propósito então?

- Dizem os entendidos que é “moda conceito”.

Não sei bem o que é isso, mas tenho certeza que é para não usar.

Na outra ponta do mundo da moda, há um setor definido pela expressão em francês “prêt-à-porter”, e que produz roupas mais simples, como diz a tradução literal, pronta para uso.

- O que tem isso a ver com o Evangelho, ou mesmo o Espiritismo?

Explico: nasci em uma família de espíritas militantes e já nos primeiros anos de vida assisti aos meus pais, junto com uma série de abnegadas criaturas, dedicando-se de corpo e alma à causa do Evangelho, destacando, entre eles, o médium, orador e benfeitor Divaldo Pereira Franco, com quem eu convivi intimamente desde os seis anos de idade (tenho hoje 65).

Vendo essas pessoas todas, vivendo quase que exclusivamente para a Doutrina Espírita, com exceção de Divaldo que, aí sim, era exclusivamente, eu, por muitas vezes, me questionava se algum dia poderia ser assim também, se esse era o caminho que eu deveria trilhar e, ainda, se essa era a única estrada que todos deveriam seguir.

Algum tempo depois, com muito estudo e orientação, cheguei à conclusão que me remeteu ao mundo da moda, na comparação que fiz há pouco: essas pessoas são “criaturas conceito”, mostram no presente, como deveremos ser no futuro.

São nossas referências, nossas metas, mas que nem sempre temos estrutura para alcançar de pronto.

- O que fazer então?

- Imitar a raposa?

-  Dar de ombros?

- Desdenhar e sair fora?

- Não!

Devemos partir para o possível, ou seja, o “prêt-a-porter”, o que eu posso, o que todos podemos, o que alcanço, mesmo que, ou melhor, principalmente, com muita dedicação e esforço.

- Posso amar o próximo como a mim mesmo?

- Não, mas posso ser tolerante, caridoso, respeitoso;

- Posso amar meus inimigos (o ideal é não os ter)?

- Não, mas posso orar por eles, não desejar que morram ou se arrebentem.

É o Evangelho “prêt-à-porter”, é o Cristo real, do dia a dia, ao alcance de todos, presente no trabalho, no estudo, em todos os espaços onde haja uma oportunidade de ser hoje melhor do que ontem e amanhã melhor do que hoje.

O conceito sempre estará lá. Para poucos ainda!

É a bússola a indicar o destino e, por mais distante que pareça, temos a certeza de que, com simplicidade, muito esforço e abnegação chegaremos lá.

O Cristo afiançou: “nenhuma ovelha se perderá do meu rebanho”

“Linha e agulha” nas mãos, vamos costurar um futuro melhor.

*Edson Sardano (@coronelsardano) é coronel da reserva da Polícia Militar, escritor e orador espírita. Envie sua pergunta para Edson Sardano responder aqui em sua coluna de AnaMaria: [email protected]