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Comportamento / confira

Por que existem poucas meninas e mulheres autistas?

Estereótipos de gênero são uma barreira para o diagnóstico de mulheres com transtorno do espectro autista (TEA); saiba mais

Estereótipos de gênero são uma barreira para o diagnóstico de mulheres autistas - Imagem │Unsplash
Estereótipos de gênero são uma barreira para o diagnóstico de mulheres autistas - Imagem │Unsplash

O processo de identificação do espectro do transtorno autista (TEA) é longo e complexo. No entanto, as mulheres enfrentam desafios significativos em relação ao tema. Isso porque os estereótipos de gênero atrasam o diagnóstico de meninas e mulheres com TEA. De acordo com dados apresentados pelo Mapa do Autismo no Brasil, pesquisa realizada no Distrito Federal pelo Instituto Steinkopf e pela Universidade de Brasília, a idade média no qual acontece o diagnóstico entre meninos é aos 7 anos — já entre meninas, ele ocorre, em média, aos 14 anos.

Apesar do número de diagnósticos ter crescido nos últimos anos no país devido ao acesso à informação, ainda não há dados que abarquem o território nacional sobre o autismo e suas particularidades, como o alcance à ajuda especializada por grupos antes invisibilizados, como negros, indígenas e mulheres. 

Para entender mais profundamente os motivos pelos quais meninas e mulheres autistas são diagnosticadas tardiamente, e por que temos a percepção de que existem poucas mulheres autistas, AnaMaria conversou com Jessica Martani, médica psiquiatra. Confira a seguir!

Existem poucas mulheres autistas? 

Um dos principais motivos para o subdiagnóstico em mulheres autistas tem base nos sintomas, que entre este recorte de gênero, são menos óbvios. Isso porque, muitas vezes, as mulheres tendem a  camuflar seus sintomas para se encaixar nos estereótipos sociais, prática apelidada de 'masking'.

Por que existem poucas meninas e mulheres autistas?
Unsplash│Estereótipos de gênero são uma barreira para o diagnóstico de mulheres autistas

“Em nossa sociedade, há um estigma muito grande sobre o feminino”, inicia Jessica. A psiquiatra explica que os estereótipos de gênero e as altas expectativas de que mulheres devem ser mais empáticas e sociáveis acabam por ocasionar uma maior camuflagem dos sintomas, especialmente em autistas leves, de nível 1 de suporte. Isso pode levar a diagnósticos equivocados e a uma compreensão distorcida sobre o autismo em meninas e mulheres.  

“Os critérios diagnósticos foram baseados em estudos com predominância masculina, o que faz com que não seja totalmente claro quais são as manifestações femininas do autismo”, explica a especialista. Isso significa que os sinais de autismo em mulheres podem ser confundidos com introversão ou timidez, tornando o diagnóstico ainda mais desafiador. 

Mulheres autistas na sociedade e seus desafios

As mulheres autistas, especialmente aquelas que não são diagnosticadas, enfrentam inúmeras dificuldades na sociedade. A sensação de inadequação, alterações de autoestima e depressão são problemas comuns. “Além disso, elas têm pior desempenho na área dos relacionamentos interpessoais e também na área profissional”, destaca Jessica. Sem um diagnóstico adequado, as mulheres podem se sentir perdidas e sem apoio, o que agrava ainda mais a situação.

Por que existem poucas meninas e mulheres autistas?
Unsplash│Estereótipos de gênero são uma barreira para o diagnóstico de mulheres autistas

Acolher mulheres que fazem parte do espectro autista é um passo essencial para construir uma sociedade mais inclusiva e empática. A conscientização da sociedade sobre o que é o autismo é fundamental. “Precisamos fornecer ações inclusivas e criar ambientes personalizados para atender às demandas dos autistas”, destaca a especialista. Isso pode incluir desde ajustes no ambiente de trabalho até a criação de espaços sensoriais que respeitem as necessidades de mulheres que estão no espectro autista.

Entender e apoiar mulheres no espectro autista é um ato de empatia e respeito. Ao reconhecer as particularidades do TEA em mulheres e meninas, estamos aptos a oferecer o suporte necessário para que elas possam viver de maneira plena e satisfatória. A mudança começa com a conscientização e a disposição de ver além dos estereótipos, para que todas as pessoas que fazem parte do transtorno do espectro autista possam se sentir acolhidas e valorizadas.

Como o TEA se manifesta em mulheres

As manifestações do TEA em mulheres e meninas podem variar, mas alguns sintomas são comuns. Jessica lista alguns deles:

  • dificuldades de regulação de humor;
  • comportamentos repetitivos ou estereotipados (bater os pés, pernas, balançar as mãos, girar em torno de si, entre outros);
  • hipersensibilidade a estímulos sensoriais (sons altos e estímulos visuais muito fortes, como fogos de artifícios; dificuldade em relação à textura de determinados alimentos ou tecidos e cheiros);
  • dificuldade em relacionamentos interpessoais;
  • interesses muito restritos. 

Além dos sinais identificados acima, mulheres com autismo podem enfrentar obstáculos para lidar com situações que fogem da rotina e previsibilidade. A psiquiatra lembra que, devido à capacidade de camuflar os sintomas, o diagnóstico de autismo é desafiador para o sexo feminino.

Vale destacar que nem todos os indivíduos com autismo apresentaram todas essas características e esses sinais podem variar significativamente de uma pessoa para outra. O perfil comportamental autista pode incluir características menos óbvias que não são consideradas para um diagnóstico oficial de TEA, mas ainda assim afetam o comportamento e a interação social da pessoa.

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