Com apelo divertido, Jogo do Tigrinho oferece riscos financeiros; segundo Datafolha, três em cada dez apostadores gastam mais de R$ 100 por mês em jogos online
Publicado em 22/07/2024, às 19h00
Jogos que emulam cassinos, como o 'Fortune Tiger’, conhecido pelo público brasileiro por 'Jogo do Tigrinho', ganham cada dia mais espaço no mundo digital. A popularização do gênero acontece especialmente pela divulgação massiva feita por influenciadores digitais nas redes sociais. Com apelo colorido e divertido, os jogos de apostas online prometem dinheiro fácil e rápido. No entanto, há muitos relatos de perdas financeiras.
O caso de Vitória Damaceno Bittencourt, de 23 anos, ganhou destaque recentemente. A empresária de Maringá, no Paraná, admitiu que chegou a ter um prejuízo de mais de R$ 160 mil com apostas online. “Fiz vários empréstimos no banco. Hoje tenho uma dívida ativa de R$ 110 mil por causa do 'Jogo do Tigrinho'. Teve um dia em que ganhei R$ 54 mil; um mês depois, perdi R$ 50 mil. O jogo causou muitos problemas na minha vida. Por sorte, tive uma rede de apoio muito grande”, explicou Vitória em um vídeo publicado nas redes sociais.
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Na prática, o objetivo do 'Jogo do Tigrinho' é que o apostador combine três figuras iguais em três fileiras que aparecem na tela. Jogos de azar, do tipo caça-níquel online, utilizam mecanismos de recompensa projetados para incentivar comportamentos específicos de determinados jogadores, como jogar por períodos mais longos ou gastar dinheiro real. Esses mecanismos são eficazes porque aproveitam princípios psicológicos que influenciam a motivação e o comportamento humano.
No Brasil, o ‘Fortune Tiger’ é considerado ilegal. Isso porque o game vai contra a Lei de Contravenções Penais, que considera crime os jogos de azar em que o ganho ou a perda dependem da sorte. Além disso, apostar em jogos do gênero pode acarretar grande prejuízo financeiro, como demonstra o relato de Vitória.
Segundo o Datafolha, três em cada dez apostadores gastam mais de R$ 100 por mês em jogos online. Para entender melhor os riscos — e como se proteger de possíveis perdas financeiras — conversamos com Fernanda Ribeiro, CEO da Conta Black. Confira a seguir:
Fernanda explica que as apostas online podem levar à dependência e compulsão. “Do ponto de vista financeiro, uma vez que esse quadro é estabelecido, existe uma perda do controle e neutralidade sobre as decisões”, diz a especialista. Ela conta que muitos brasileiros estão fazendo empréstimos para jogar, o que agrava ainda mais a situação financeira.
A ilusão de ganhar dinheiro rapidamente é um dos principais atrativos dos cassinos online, mas Fernanda alerta para os perigos dessa mentalidade. “Jogos precisam ser encarados como entretenimento. A partir do momento em que há uma mistura com a realidade, ou seja, exige o aporte de dinheiro, devemos entender que há um risco para a saúde financeira”, salienta. Ela reforça que jogos não são uma modalidade de investimento e não há regulamentação que ofereça suporte em casos de perdas extremas.
As perdas financeiras podem afetar severamente o planejamento de longo prazo. “Esses jogos geram gatilhos psicológicos, logo é muito fácil para quem está jogando tomar decisões financeiras arriscadas no curto prazo, afetando o futuro”, diz Fernanda. Usar dinheiro destinado a contas fixas para apostas pode resultar em dívidas e desestabilização financeira.
Com a expansão dos jogos de aposta online, uma questão se torna cada vez mais presente em nosso cotidiano: o vício em jogos de aposta. A ludopatia é reconhecida como uma condição médica e se caracteriza pela compulsão por jogos de azar. Essa patologia pode levar a graves consequências financeiras, sociais, físicas e emocionais.
Vale destacar que a ludopatia é uma questão de saúde pública, assim como outras questões de saúde mental. A legislação brasileira veta a participação de pessoas com vícios em jogos. Caso joguem, essas apostas são nulas de pleno direito. Em outras palavras, a aposta é juridicamente inválida.
O diagnóstico de ludopatia deve ser realizado por um especialista da área da saúde mental, mas existem comportamentos que merecem atenção; Fernanda lista alguns sinais de alerta: “Quando a pessoa dedica muito do seu tempo para a realização dessa atividade — se ela deixa de honrar compromissos para jogar, é algo que precisa ser observado com cuidado. Quando existe a sensação de alívio aos sentimentos negativos, se essa pessoa começa a se isolar do convívio social devido ao jogo, quando há aportes financeiros grandes e significativos no orçamento para destinar às apostas, o quadro deve ser avaliado”.
Para aqueles que já se envolveram com apostas e estão tentando recuperar a estabilidade financeira, Fernanda recomenda: “Entenda que uma ‘dívida de jogo’ não será resolvida jogando mais. Liste todas as suas dívidas e comece um processo de negociação, dividindo o salário entre o pagamento dessas contas e as despesas e responsabilidades mensais”.
Fernanda enfatiza a importância da educação financeira para prevenir armadilhas. “Fomos ensinados que ‘fazer uma fezinha’ é algo natural. A educação financeira é fundamental para entendermos que, se o jogo sai da sua função de diversão e entra no campo financeiro, é extremamente arriscado”, afirma. Ela ressalta que não existe ganho rápido de dinheiro sustentável a médio prazo, e que a educação financeira é o caminho para identificar quando uma oportunidade não é real.
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