Em vez das enxaquecas tradicionais, a migranea vestibular pode surgir sem a presença de dor
O tema da coluna desta semana é enxaqueca do labirinto! E, sim, você leu certo... o labirinto tem enxaqueca também. Chamamos isso de migrânea vestibular e esta é uma das principais causas de tontura.
Tontura é um sintoma muito frequente e pode ser gerado por uma gama de fatores. As labirintites são as principais causas dela, e as mais comuns são a vertigem postural paroxística benigna (VPPB), a migrânea vestibular (MV), a doença de Menière e a neurite vestibular, em ordem decrescente de incidência.
A migranea vestibular é uma alteração do sistema nervoso que causa tontura (ou vertigem) em pessoas com história de enxaqueca. Em vez das enxaquecas tradicionais, a migranea vestibular pode surgir sem a presença de dor.
A enxaqueca vestibular nem sempre causa dor de cabeça. O sintoma principal é tontura recorrente. Quando falamos vestibular nos referimos a orelha interna, que controla a audição e o equilíbrio. Portanto, na enxaqueca vestibular você pode sentir:
No entanto, pode aparecer a tontura ou o desequilíbrio sem a dor de cabeça. Outras vezes, a tontura aparece antes, durante ou até depois da dor. Algumas vezes pode ocorrer dor de cabeça por anos, previamente as tonturas.
São várias teorias, mas a real causa ainda é pouco compreendida. A principal hipótese é por alterações de estímulos nervosos no cérebro, principalmente via do nervo trigêmeo, o que causaria vasodilatação, inflamação e desequilíbrio de sinalização no sistema nervoso autônomo. Isto tudo causaria a dor de cabeça e todos os sintomas associados a enxaqueca.
É difícil dizer quantas pessoas tem o problema atualmente. Os sintomas da migrânea vestibular mimetizam muitas outras doenças. Sabemos, porém, que cerca de 15% da população mundial apresenta enxaqueca. E cerca de 15% das consultas médicas gerais são por tontura. Por conta disso, muitos acreditam que a enxaqueca seja a principal causa neurológica para a tontura, atingindo de 1 a 3% da população.
Apesar das enxaquecas tradicionais serem mais frequentes nas mulheres entre 20 e 40 anos, muitos homens e crianças também podem apresentar os sintomas.
Infelizmente, não existem exames de sangue ou de imagens que ajudam a fechar o diagnóstico. A maioria dos sintomas é clínico e uma boa conversa com seu médico vai levantar a suspeita. No entanto, alguns critérios ajudam o profissional na busca desta certeza. São eles:
Provavelmente pode ser necessária a realização de uma ressonância magnética do crânio, com o intuito de avaliar o Sistema Nervoso Central, além de testes auditivos e de equilíbrio para avaliar a parte auditiva. No caso, as principais doenças para diferenciar são:
Não existem medicações específicas para elas. O otorrinolaringologista normalmente usa medicações para prevenção da crise, semelhantes aos usados na prevenção da enxaqueca, como antivertiginosos, antidepressivos e até anti-hipertensivos. Fique atento aos sintomas. Uma tontura pode ser enxaqueca!
*DRA. MAURA NEVESé formada na Medicina pela Faculdade de Medicina da USP. Residência em Otorrinolaringologia pelo HC- FMUSP. Fellow em Cirurgia Endoscópica pelo HC- FMUSP. Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP. Médica Assistente do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo -SP. Aqui na Revista AnaMaria, trará quinzenalmente um conteúdo novo sobre a saúde do ouvido, nariz e garganta. Instagram: @dra.mauraneves