Em exclusiva, Patricia Pinho comenta sobre sua participação em 'Além da Ilusão'
Patricia Pinho ganhou a oportunidade de passar a limpo a história da própria família em Além da Ilusão. Afinal, Fátima, sua personagem, viveu um dia de horror na trama, vítima da truculência da polícia política de Getúlio Vargas (1882- 1954), assim como seu avô, Altamirando Araujo Pinho. Ele foi preso e expulso do Exército, em 1936, por jogar panfletos do Partido Comunista do alto de um prédio durante uma parada militar de 7 de setembro. “Meu avô foi preso e torturado por acreditar que o mundo poderia ser mais igualitário. Por acreditar que todas as pessoas merecem respeito e condições de vida: saúde, moradia e educação. Um herói”, fala com orgulho.
Para a atriz, abordar a questão na novela foi, de certa forma, a chance de dar voz aos seus pensamentos e ideais que carrega na vida real: “Poder denunciar a violência e a truculência é trazer luz a esse momento histórico. Entender o passado nos faz pensar sobre nosso presente, e ainda ajuda a construir o futuro”.
Bem-humorada e divertida, ela encara com leveza os atropelos e dificuldades, mas sem jamais se calar diante de injustiças ou desigualdades: “Eu não quero ser vip, quero ser cidadã. Quero andar de trem pelo Rio de Janeiro. Não quero sair de carro blindado com medo de perder minha vida por causa de um celular. Quero ajudar a pensar um país mais igualitário. Por isso, afirmo que a luta por poder é algo cafona. Para uma estrela brilhar, ela não precisa apagar a outra. Eu quero fazer parte de uma constelação”. E faz parte... lindamente, Patricia!
Confira a entrevista completa!
Emocionada. Meu avô foi preso e torturado por acreditar que o mundo poderia ser mais igualitário. Por acreditar que todas as pessoas merecem respeito e condições de vida: saúde, moradia e educação. Um herói. Ele foi expulso do Exército e a vida da minha família foi sacrificada por isso. Ser casada com um comunista de carteirinha era uma vergonha, ter um pai preso político era algo que não se falava na casa da minha avó. Eu procurei no Arquivo Nacional a história dele – um dia quem sabe eu transformo isso em livro. Meu avô é como tantos outros heróis comuns que ficaram invisibilizados na nossa história. Sinto que, hoje, poder denunciar a violência e a truculência é trazer luz a esse momento histórico. Entender o passado nos faz pensar sobre nosso presente, e ainda ajuda a construir o futuro.
Eu amo brincar de ser mãe da Debora Ozório porque ela faz parte de uma nova geração de mulheres de que eu me orgulho muito. Ela é decidida, forte, estudiosa e não perde a ternura jamais! Eu aprendo muito com ela. Então, essa parceria torna os desafios do set bem interessantes. Quando eu canso e dou uma viajada, ela olha para mim e fala: “Foi para Nárnia?” Daí a gente ri... Eu não conseguiria fazer a Fátima sem ela.
Eu não quero ser vip, eu quero ser cidadã. Quero andar de trem pelo Rio de Janeiro. Não quero sair de carro blindado com medo de perder minha vida por causa de um celular. Gosto de ajudar, ouvir, abraçar, apoiar. Só acredito no mundo coletivo, numa organização afetuosa, na cooperação. Eu quero ajudar a pensar um país mais igualitário. Por isso, afirmo mesmo que a luta por poder é algo cafona, sim. Para uma estrela brilhar, ela não precisa apagar a outra. Eu quero fazer parte de uma constelação.
Sim. Os dramas de Fátima são muito profundos e escritos de uma forma muito sensível, muito humana, amorosa. Fátima é uma mulher digna, que acredita na verdade. Ela tem convicções e coragem de repensar seus próprios preconceitos. E é a primeira vez que apareço sem grandes caracterizações, com meu rosto nu. Eu estava acostumada a usar perucas, em um dia, ser uma viking, no outro, uma mulher das cavernas... Já fiz tantas caracterizações no Zorra Total que até perdi a conta. Hoje eu apareço quase sem maquiagem... Preciso chorar por um pouquinho de blush [risos].
Muito! Não sou católica, mas sou budista e me tornei devota de Santa Sara Kali, por causa do tarô. Me perguntam: mas pode isso? Eu digo que pode. Me encontrei na prática budista há 16 anos e é uma filosofia de vida que eu quero cada vez mais botar em prática. E como toda brasileira, sou encantada pelos ritos africanos. Me abro para dialogar com outros rituais: indígenas, indianos, ciganos... Estou até estudando Runas [mitologia nórdica]. Para mim, todos os caminhos espirituais levam ao mesmo lugar. Simples assim.
Eu comecei no humor porque sou desajeitada. Ia paquerar um carinha e rasgava a calça. De salto alto, eu tropeço, e estou sempre batendo a bunda no cenário. Não dava para ser a mocinha das histórias assim. O humor me acolheu. E eu devo a ele os últimos dez anos de carreira. Mas eu tenho um lado acadêmico bem sério. Sou Bacharel formada pela Uni-Rio e tenho Licenciatura em Artes Cênicas. Pretendo um dia voltar a estudar e fazer Mestrado, Doutorado. Mas não preciso ficar chata nem careta. Amir Haddad me ensinou isso. Sou formada pela Escola Carioca de Teatro Brasileiro e busco um teatro que dialogue com todas as pessoas. Sou popular.
Eu me importo muito com meus amigos. Sempre que o clima pesa, eu procuro fazer uma graça para descontrair. A frase que mais escuto é: “Só você para me fazer rir numa hora dessa”. A Renata Castro Barbosa [atriz], que eu amo, também é assim. Então, acredito que a gente pode ser humana, atuar não só no palco, mas na vida das pessoas, e fazer isso de forma alegre. É uma missão.
Contra mulher? Sempre! Se ela é comediante, se é mãe, se não casou, se casou com cara mais velho, se casou com cara mais novo, se casou com uma garota, se é mulher trans, se é mulher preta, se é gorda, se é magra.... O que não falta é gente querendo julgar a mulherada.
Fiz amigos nesse tempo. Era uma equipe formidável e estávamos fazendo críticas sociais e políticas muito relevantes. As pessoas me abordavam nas ruas para dizer que se sentiam representadas pelo programa. Foram seis anos muito bons. Ainda sinto falta dos camarins e do clima das nossas gravações. Vou levar para sempre essa energia comigo.
Espero que não seja picaretagem.... Ah, gente, isso é piada, tá? [risos]. Eu levo muito a sério o tarô. Ele chegou à minha vidas aos 15 anos. Nessa época, não era fácil ter um baralho. Eu desenhei o meu Tarô de Marselha. Até hoje tenho esse baralho. Depois, comecei a estudar, mas guardava para mim e para algumas amigas. Na pandemia, promovi uma roda de tarô para gerar dinheiro para artistas que estavam sem renda. Atendi pessoas de diversas classes sociais, do Rio de Janeiro, de outros países... E isso me permitiu ter um olhar fantástico sobre a pandemia. Muito amplo, entende?
A fé, a magia deixam a vida mais encantada. Eu gosto de acreditar que não estamos aqui nesse plano só para comprar pão. Eu quero acreditar que vou encontrar minha avó Laura de novo, minha gata Magali, a Camilla Amado e outras tantas pessoas que amo e que não estão mais nesse plano.
Gente ruim, violência, falta de caráter e de ética, preconceito. Eu me desinteresso tanto dessa gente que simplesmente me levanto e vou embora. Nem discuto. Sou intolerante demais para conseguir conversar e conviver com desumanidade. O que me faz rir à toa são meus gatos, criança e gente ‘boba’, leve e que não se leva tão a sério.