Rafaela Ferreira lançou livro ‘Eu só cabia nas palavras’ sobre gordofobia, bullying e amor-próprio
Como é possível amar a si mesmo quando todos dizem o contrário? Esta é a história de Gio – e a de muitas outras pessoas – publicada em Eu Só Cabia Nas Palavras (Ed. Harper Collins), livro da atriz de Poliana Moça, do SBT, Rafaela Ferreira, um romance LGBTQIAP+ sobre autoestima, gordofobia e bullying, que nos mostra como cada vivência é única e que todos somos dignos de amor e afeto.
Referência do ativismo gordo, ela chama a atenção para a falta de respeito, acessibilidade e direitos dos corpos gordos: “Gostaria de ter lido um livro como esse quando vivi situações muito parecidas com as da minha personagem, e não encontrei uma palavra amiga. Espero que descubram com ela que nosso lugar é onde a gente quiser”, diz. Somando mais de 3 milhões de seguidores nas redes sociais - espaço em que incentiva outras pessoas a se apropriarem das suas potências – a artista é pura representatividade.
Você se considera uma porta-voz das pessoas que sofrem com o preconceito?
Me considero uma pessoa que mostra o preconceito, não tem medo de falar a respeito e nem vergonha de ser quem eu sou. Isso acaba sendo um fator de representatividade para muita gente, além de uma força para que as pessoas acreditem em seus sonhos. Gosto de incentivar, inspirar, motivar toda essa gente a não se ver limitada.
A gordofobia vai além da discriminação com os gordos?
Sim, a gordofobia não é só a discriminação direta de uma pessoa para outra. É algo estrutural e que acaba impedindo, muitas vezes, que pessoas gordas tenham acesso ao mercado de trabalho, a meios de transporte, a um consumo de tendência, uma moda integral, entende? Tem também a gordofobia médica, com casos muito extremos, como o do jovem Victor Augusto, que veio a falecer. A gordofobia é algo é algo que a gente precisa resolver estruturalmente na nossa sociedade a partir de acessos e direitos às pessoas gordas.
Com milhares de seguidores no Instagram, você se preocupa com o que fala nas redes?
Tenho muito cuidado com o que eu posto. Adoro fazer vídeo de humor, afinal, é importante abordar assuntos sérios, mas também precisamos falar sobre coisas engraçadas. A vida não é só resolver problemas o tempo todo, né? Curto fazer uma graça, mas sempre com a preocupação de não ofender e desrespeitar ninguém. Me preocupo em debater questões, compartilhar figuras importantes dentro do seu lugar de fala.
Como surgiu a ideia do livro e o que espera alcançar com a obra?
Na adolescência, a escrita sempre foi algo que me ajudava a me refugiar de certas questões, como ver meu corpo mudar, entender a opinião dos outros sobre quem eu era... O mesmo acontece com a protagonista da obra, a Giovanna. Por isso, costumo dizer que gostaria de ter lido um livro como esse quando vivi situações muito parecidas com as da personagem, e não encontrei uma palavra amiga. Espero que descubram com ela que nosso lugar é onde a gente quiser. O livro aborda questões sobre gordofobia, mas não é um manifesto anti-gordofóbico. É uma obra que tem um corpo gordo como protagonista e fala sobre sentimentos. Desejo que as pessoas se sintam acolhidas e representadas ao lê-lo.
Uma mensagem para quem enfrenta a questão da gordofobia.
Não se cale, faça terapia, peça ajuda para alguém que você tenha confiança. Muitas vezes, essa gordofobia acontece dentro do ambiente familiar, então tenha paciência, se organize para conseguir lidar de uma forma defendida. Não se exponha a problemas mais do que você já vive. Não ouça essas críticas e nem deixe que elas definam seus passos. Faça e ocupe o lugar que quiser. Eu sei que muita gente fala coisas horríveis a seu respeito, mas só você sabe onde quer estar, onde seu corpo pode estar. Por isso, siga em frente, se cerque sempre de referências boas. Hoje em dia, têm muitos casos de processos de sucesso, mesmo a gordofobia não sendo um crime. Então, conheça seus direitos, estude bastante sobre isso e saiba que você não está sozinha.