Psicóloga e cirurgião plástico explicam quando fazer procedimento estético
Publicado em 28/04/2024, às 20h01
Em 2022, foram realizados 34 milhões de procedimentos estéticos no mundo. O Brasil é o segundo lugar no ranking mundial, atrás apenas dos Estados Unidos. O país representa quase 9% do total, global com 7,4 milhões de casos. Mas isso é um problema ou solução?
O número evidencia a alta procura por mudanças na própria aparência dentro do mercado nacional. Ou seja, os pacientes em questão demonstram insatisfação com o que vêem no espelho. É aí que o debate entre mudanças saudáveis e possíveis problemas psicológicos começa.
AnaMaria convidou especialistas para entender as possíveis causas, consequências e problemáticas em torno do número expressivo. O cirurgião plástico Luís Maatz, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), e a psicóloga clínica Juliana Santos Lemos, especialista em Psicopatologia e Terapia Cognitivo-Comportamental, falaram sobre o tema.
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O primeiro passo para compreender o grande número de procedimentos estéticos no Brasil é entender a motivação por trás do desejo. A insatisfação é clara - afinal, se não fosse por ela, não teria o anseio pela mudança. Porém, o que leva a essa insatisfação?
A psicóloga destaca que o sentimento de não gostar da aparência é "totalmente normal". Para ela, a vontade de mudar mostra o comprometimento a buscar uma harmonização estéticamente agradável aos desejos e predileção próprios. Por outro lado, há fatores externos prejudiciais.
Entre eles, está o bullying. Maatz explica que é comum encontrar pacientes que buscam a cirurgia por conta de episódios traumáticos. Ele cita as modificações no nariz, tamanho das mamas e as tais "orelhas de abano" entre as principais solicitações dos mais jovens.
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Outro possível gatilho é a comparação com outras pessoas. Entre elas, as famosas musas das redes sociais. Nos últimos anos, tornou-se comum influenciadoras compartilharem corpos "perfeitos" - e muitas vezes, irreais. As seguidoras tentam alcançá-las, mas dificilmente conseguem, e se frustram.
Os especialistas concordam: "Desde que comecei minha carreira como cirurgião plástico, tenho buscado explicar aos pacientes que eles devem procurar a melhor versão de si mesmos, evitar comparações com o que é veiculado na mídia e não buscar uma estética corporal que muitas vezes é inalcançável".
"A comparação gera frustração por não ter aquilo que a pessoa tanto deseja, um padrão de perfeição considerado pela sociedade como ideal, gerando pensamentos como inadequação e incapacidade por não ter aquela imagem considerada como perfeita", acrescenta Juliana.
A frustração traz mais problemas, em níveis que podem se tornar ainda mais prejudiciais. Autoestima excessivamente baixa e até mesmo distorção de imagem são alguns exemplos. O fenômeno gera a preocupação exagerada com o próprio corpo.
Neste caso, o indivíduo passa a desgostar até mesmo das características que anteriormente gostava. Isso gera pensamentos negativos, que surgem de maneira intrusiva, irracional e automática. Sendo recorrentes, trazem consequências ainda maiores para os pacientes.
Altos índices de ansiedade, humor deprimido e em alguns casos graves pensamentos suicidas estão entre os sinais listados pela psicóloga, que acrescenta: "É considerado como algo patológico, do qual necessita avaliação diagnóstica para tratamento psicológico e psiquiátrico".
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Listados algumas das possíveis motivações, fica a questão: e os procedimentos estéticos? A busca por um processo terapêutico pode ser benéfico antes de decidir por uma cirurgia. Para a psicóloca, o processo irá ajudar na avaliação de vantagens e desvantagens de realizar tal procedimento.
"Trabalhar os pensamentos distorcidos em relação à própria imagem, alinhamento de expectativa, compreensão do significado do ato cirúrgico na vida daquele paciente e buscar outras formas de resolução de problemas que não seja única e exclusivamente a cirurgia plástica", explica.
Além do mais, o cirurgião plástico deve identificar causas e possíveis consequências do procedimento: "Identificado o transtorno, o paciente deve ser encaminhado ao psiquiatra para avaliação e a cirurgia não deve ser realizada, uma vez que não atingirá o objetivo almejado pelo paciente", esclarece Maatz.
Como exemplo, cita o transtorno dismórfico corporal, que é o foco obsessivo em um suposto defeito que a pessoa considera ter.
Ao mesmo tempo que o alerta sobre os problemas psicológicos são válidos, também vale ressaltar que os procedimentos estéticos, sejam eles cirúrgicos ou não, estão longe de ser vilões. Há inúmeros estudos científicos que atestam o benefício dos procedimentos sobre a autoestima do paciente.
Se feito da maneira correta, com todas as avaliações e liberações médicas, além da escolha de um profissional, adequado, traz inúmeros benefícios, tanto estéticos como funcionais. E este é mais um dos pontos de concordância entre os dois profissionais.
"A cirurgia plástica pode ser uma aliada para satisfazer esteticamente e emocionalmente a vida da pessoa que realizou o processo cirúrgico, melhorando a autoestima, podendo ser algo motivador para um processo contínuo de auto cuidado e amor próprio", relata Juliana.
Maatz acrescenta: "Resulta em uma melhor percepção da autoimagem, aumentando a confiança e autoestima do paciente. Além disso, em particular nos jovens, há uma diminuição significativa na chance do paciente sofrer algum tipo de bullying após a correção de alterações ou deformidades, por exemplo após uma cirurgia de correção de orelhas de abano ou ginecomastia".
O cirurgião plástico, porém, reforça que a intervenção médica não age sozinha. Uma série de outros hábitos podem ser necessários ara obter sucesso na busca de mudanças na aparência: "Cirurgia plástica deve fazer parte de um processo em que o paciente participa ativamente da mudança do seu corpo".
Como exemplo, pacientes que buscam emagrecimento devem somar uma rotina de atividades físicas e alimentação saudável. Do contrário, todo o esforço anterior será descartado.