A visão de sucesso que antes girava em torno do crescimento hierárquico e do prestígio corporativo agora inclui outros valores para a Geração Z; veja
Marina Borges Publicado em 04/11/2024, às 20h00
A Geração Z, composta por jovens nascidos entre 1995 e 2010, chegou ao mercado de trabalho com valores e expectativas que desafiam as normas corporativas tradicionais. Diferente das gerações anteriores, muitos desses jovens não veem a liderança e os cargos de chefia como a coroação do sucesso profissional. Uma pesquisa recente da consultoria Robert Walters revela que 72% dos profissionais da Geração Z preferem uma trajetória sem a ambição explícita de um cargo de chefia.
Essa tendência, que pode parecer falta de ambição, na verdade reflete a busca por qualidade de vida, autonomia e sentido no trabalho. Essa geração repudia a pressão e o estresse associados à liderança tradicional, priorizando a saúde mental e o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Em vez de buscar títulos, eles querem propósito e valorizam mais a autonomia. A pergunta que fica para as empresas é: como adaptar o ambiente de trabalho a essa nova perspectiva?
Para a Geração Z, o sucesso profissional vai muito além de cargos elevados ou salários robustos. Eles valorizam a liberdade para atuar em áreas de interesse, a flexibilidade de horários e um ambiente que respeite o bem-estar. Muitos jovens enxergam o papel de líder como uma fonte de responsabilidade e estresse, com cargas de trabalho e expectativas de desempenho que podem custar a qualidade de vida. Essa visão é reforçada pela pesquisa da Robert Walters, que aponta que 36% dos jovens dessa geração relutam em assumir cargos de liderança devido ao desgaste emocional e à pressão associados.
Um exemplo disso é a jovem recém-formada que, ao ser promovida a um cargo de chefia, não demonstrou a empolgação esperada. Embora a promoção seja uma oportunidade de crescimento, o papel de liderança trouxe mais preocupações do que satisfação para ela, evidenciando o dilema enfrentado pela Geração Z em relação a cargos de poder.
A aversão à liderança não significa que a Geração Z seja desmotivada. Pelo contrário, essa geração é determinada, porém com foco em valores que transcendam o status hierárquico. Esses jovens preferem investir em atividades que estejam alinhadas com seus ideais e que proporcionem um impacto positivo na sociedade. Muitos priorizam o autocuidado e evitam contextos em que o estresse e a pressão sejam excessivos.
Esse comportamento tem levado jovens da Geração Z a buscar profissões e estilos de trabalho que ofereçam mais liberdade. Trabalhar como freelancer ou criar conteúdo nas redes sociais são exemplos de trajetórias que permitem a autonomia desejada e afastam as exigências corporativas convencionais. A flexibilidade e a capacidade de conduzir a carreira de acordo com seus próprios interesses são prioridades para eles.
O desejo da Geração Z por autonomia é evidente, mas nem sempre se traduz em criar grandes empreendimentos ou construir impérios corporativos. Para eles, empreender significa ter liberdade para moldar a carreira com base em um estilo de vida mais leve e gratificante. Muitos desses jovens buscam formas alternativas de renda e investem em carreiras que ofereçam mais controle sobre a rotina e menos hierarquia, como o trabalho remoto ou a criação de conteúdos digitais.
Ao abrir mão de cargos tradicionais de liderança, a Geração Z evidencia que a sua visão de empreendedorismo está menos focada em crescer verticalmente e mais em trabalhar com propósito, mesmo que isso signifique gerenciar negócios menores ou atuar de forma independente. Esse movimento demonstra uma ressignificação do conceito de “ser o próprio chefe”, com uma abordagem mais descontraída e menos focada em conquistas empresariais grandiosas.
Diante desse cenário, muitas empresas enfrentam o desafio de atrair e reter talentos da Geração Z. A abordagem tradicional de liderança, baseada em hierarquias rígidas, se mostra cada vez menos atraente para esses jovens. Para engajá-los, será necessário repensar a estrutura organizacional, promovendo uma gestão mais colaborativa, flexível e menos centralizada no controle autoritário.
A construção de um ambiente corporativo com foco na saúde mental, no respeito aos limites pessoais e na cooperação pode ser a chave para atrair essa nova geração. Oferecer programas de bem-estar, como acesso a terapias e horários flexíveis, além de uma comunicação aberta e inclusiva, são formas eficazes de estimular o engajamento. Empresas que se adaptam a esses valores têm maior potencial de criar um espaço onde a Geração Z possa prosperar.
Para a Geração Z, trilhar uma carreira de sucesso não significa seguir uma linha reta rumo ao topo da hierarquia corporativa. Esses jovens valorizam a liberdade de experimentar diferentes áreas e construir trajetórias únicas que não se prendem a um modelo tradicional de carreira. O sucesso, para eles, está mais relacionado a uma vida equilibrada e ao prazer de trabalhar em projetos que façam sentido.
Assim, muitos preferem carreiras que lhes ofereçam espaço para aprender continuamente, mudar de direção conforme suas necessidades e explorar novas possibilidades, sem a pressão de assumir posições de liderança se não as desejarem. Essa liberdade de redefinir o que significa sucesso é uma marca dessa geração e está mudando a maneira como as gerações futuras verão o mundo do trabalho.
A visão de sucesso que antes girava em torno do crescimento hierárquico e do prestígio corporativo agora inclui saúde mental, qualidade de vida e liberdade de escolha. As empresas que buscam entender essa nova perspectiva têm a chance de criar um ambiente mais adaptado e atraente para a Geração Z, construindo relações de trabalho baseadas na cooperação e no bem-estar.
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