Tendências de comportamento da Geração Z trazem mudanças para o mercado de trabalho, família e educação — e indicam um futuro mais igualitário
Publicado em 07/09/2024, às 18h00
Os termos variam: Zoomers, Centenials ou Geração Z. As pessoas nascidas entre 1995 e 2010 chegaram para mudar as regras do jogo. Essa geração cresceu com a internet nas mãos, está profundamente conectada a causas sociais e carrega novos valores que vêm transformando o mercado de trabalho, as relações familiares e até o sistema educacional.
Mais que uma fase, as tendências de comportamento da Geração Z estão moldando o futuro de nossa sociedade. Mas como essas mudanças realmente impactam o dia a dia? Para responder essa e outras perguntas, AnaMaria traz a visão de especialistas em comportamento e mercado de trabalho sobre o tema. Confira a seguir!
A Geração Z tem uma relação diferente com a vida social e as expectativas que a sociedade impõe. Para eles, ser autêntico é muito mais importante do que seguir regras estabelecidas. Isso impacta diretamente nas relações familiares, que estão se transformando para acompanhar os novos paradigmas. O conceito de família, por exemplo, vai muito além do modelo tradicional de pai, mãe e filhos.
“Essa geração não vê a família apenas como uma estrutura fixa, mas como um núcleo afetivo que pode ser composto por múltiplas formas”, explica Marília Scabora, psicóloga obstétrica e fundadora da Comunidade Tribo Mãe. A Geração Z abraça diferentes configurações familiares, aceitando e promovendo arranjos mais fluidos e diversos. Famílias formadas por amigos, por pais do mesmo gênero ou por adultos que optam por não ter filhos são exemplos dessa transformação.
E não para por aí. Os papéis de gênero dentro das famílias também estão sendo redefinidos. Os papéis tradicionalmente associados ao homem e à mulher estão sendo questionados e substituídos por uma divisão de tarefas mais igualitária. Para as gerações anteriores, isso pode parecer confuso ou até difícil de aceitar, mas para a Geração Z, faz todo o sentido. Afinal, para eles, o que importa é que todas as partes da família sintam que têm voz e convivam de maneira justa.
Outra área onde a Geração Z está promovendo grandes mudanças é no mercado de trabalho. Essa nova geração não está disposta a se contentar com ambientes que não valorizam a diversidade e a inclusão. Segundo Natal Pinto, CEO da InMerc Escola de Negócios, as empresas que não se adaptarem às expectativas dessa geração correm o risco de perder talentos importantes.
Para a Geração Z, um ambiente de trabalho ideal é aquele que oferece mais do que apenas um salário no final do mês. Eles buscam um local onde possam ser eles mesmos, sem precisar se encaixar em padrões antigos de comportamento. Isso inclui a promoção de uma verdadeira diversidade, não apenas no que diz respeito à igualdade de gênero, mas também à inclusão de diferentes raças, orientações sexuais e identidades de gênero.
Além da busca por diversidade, essa geração valoriza a transparência e quer saber que está trabalhando em uma empresa com propósito. Não basta ter uma missão bonita escrita na parede. Eles querem ver na prática como a empresa está fazendo a diferença no mundo.
“As empresas estão começando a implementar práticas de contratação mais diversas e inclusivas, com políticas voltadas para a igualdade de gênero e a diversidade racial e cultural. Se as empresas não mostrarem um foco real em diversidade — não apenas de gênero, mas também de raça, identidade e orientação sexual — isso poderá levar à ausência de jovens talentosos”, aponta Natal.
As tendências de comportamento da Geração Z também estão impactando fortemente o sistema educacional. Se antes o professor era a autoridade máxima em sala de aula, hoje essa relação está se tornando mais horizontal. A nova geração quer ser ouvida, participar e ter autonomia no processo de aprendizagem.
Além disso, a tecnologia desempenha um papel crucial nesse novo formato educacional. A Geração Z cresceu com acesso constante à internet e às redes sociais, o que moldou sua maneira de aprender. Eles estão acostumados a ter informações ao alcance dos dedos e esperam que o ambiente educacional seja tão dinâmico quanto suas interações digitais. Por isso, é fundamental que as instituições de ensino se adaptem, oferecendo currículos que valorizem a diversidade de ideias, promovam o respeito às diferenças e incentivem o pensamento crítico.
“A educação é uma das áreas que mais é impactada pelas tendências comportamentais da Geração Z. Questões como saúde mental, foco, digitalização e ensino de habilidades são relevantes para o mundo que a Geração Z precisará enfrentar. Ou seja, tudo isso pede uma revisão curricular”, reflete Mari Galindo, fundadora da Nice House.
Gustavo Alves, sócio e Head de Projetos e Atendimento da Karu, ressalta a importância de currículos mais inclusivos. “Os conteúdos precisam refletir a realidade desses jovens, abordando questões de igualdade de gênero, identidade e diversidade de forma natural e integrada ao ensino”, explica. Para Gustavo, essa mudança de abordagem não só ajuda os jovens a se sentirem representados, mas também prepara as futuras gerações para lidar com um mundo cada vez mais globalizado e diverso.
Uma geração que valoriza a autenticidade e a inclusão naturalmente cria ambientes mais acolhedores, e isso impacta diretamente na saúde mental. Ao promover espaços onde todos podem ser quem são, a Geração Z está ajudando a construir um futuro com mais empatia e menos cobranças para se encaixar em padrões rígidos.
Marília Scabora observa que a liberdade de ser autêntico contribui para o bem-estar emocional. “Em um ambiente onde as pessoas se sentem aceitas como são, sem a pressão de se encaixar em normas tradicionais, há um espaço maior para o bem-estar emocional e a autenticidade”, afirma.
No entanto, ela ressalta que esse processo não é fácil para todos, principalmente para as gerações anteriores, que cresceram com valores muito diferentes. “O choque de gerações pode gerar conflitos internos, especialmente quando as pessoas ainda estão presas a padrões tradicionais. Essa luta por aceitação pode tanto fortalecer laços sociais quanto provocar rupturas”, comenta. Portanto, o diálogo entre gerações é essencial para garantir que as mudanças trazidas pela Geração Z sejam entendidas e aceitas.
A Geração Z já está deixando sua marca em diversas áreas da sociedade. Com tendências de comportamento que priorizam a diversidade, a inclusão e a autenticidade, essa geração está moldando um futuro mais justo e igualitário. Ainda que os desafios sejam grandes — tanto para o mercado de trabalho quanto para a educação e à convivência familiar — as mudanças trazidas por essa nova geração apontam para um caminho de evolução social.
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