O bullying pode afetar diversas fases da vida, gerando isolamento e prejuízos no desenvolvimento de laços de amizade; entenda
Publicado em 11/07/2023, às 13h39
Quando se fala em amizade, muito provavelmente alguns nomes e rostos veem a sua mente, não é mesmo? No entanto, enquanto alguns sonham em ter um milhão de amigos, outros querem apenas um. Esse é o caso de um menino dos Estados Unidos que chamou a atenção nas redes sociais. No vídeo em questão, ele aparece na porta de uma casa questionando se o morador conhece alguém de 11 ou 12 anos, pois ele realmente precisa de amigos. A cena comoveu a web e já acumula mais de dois milhões de visualizações no Twitter. Isso porque muitos se identificaram com o menino, após terem passado por algo semelhante durante a vida devido ao bullying.
O morador da casa, então, avisa o jovem que na residência vizinha tem o que ele procura, mas o garoto explica que sofre com provocações deles. “Eles não são meus amigos mais, porque eles são valentões comigo. Eles continuam me intimidando”, explica. Apesar de triste, esse tipo de situação é mais comum do que se imagina, trazendo impactos para a vida de crianças e adolescentes, que podem repercutir até a fase adulta. Hoje, essas atitudes são definidas como bullying, mas você sabe o que isso significa?
ninguém deveria passar por isso :( pic.twitter.com/rWBLyVlMGx
— cris dias (@crisayonara) July 9, 2023
Segundo a psicóloga e fundadora da Clínica Diálogo Positivo, Gabriela Luxo, o bullying é diferente das brigas comuns. São aquelas ações que chegam as vias de fato, com agressividade física ou apenas verbal. “Isto é, ele começa com uma intimidação, tem violência física, psicológica, atos de humilhação, de discriminação, muitas vezes tem apelidos pejorativos, ameaças, ataques físicos, insultos e comentários desagradáveis”, ressalta a especialista.
Para Gabriela, o grande problema atualmente é que esse tipo de violência saiu de situações presenciais e foi para as redes sociais, o que fez com que tomasse uma proporção social muito maior, aumentando a exposição da vítima e tornando-se um grande problema.
De acordo com o Ministério da Educação (MEC), um em cada dez estudantes brasileiros é vítima de bullying, o que, analisa a psicóloga, é um número alto. A questão é preocupante, tornando-se presente também na esfera jurídica por meio da Lei nº 13.185, em vigor desde 2016. Além disso, o dia 7 de abril foi escolhido para conscientizar sobre o tema, sendo escolhido o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência nas Escolas.
Visto a magnitude do problema, é fundamental que os adultos responsáveis cortem esse mal pela raiz, principalmente no caso das crianças e adolescentes. Com isso, para identificar quando ele está acontecendo. “Ele vai atuando sobre um funcionamento mental, emocional, físico, social e acadêmico, tomando uma proporção muito maior do que parece ali aos nossos olhos ou para quem está de fora”, inicia Gabriela.
É possível também identificá-lo pelas suas consequências. “Acaba aparecendo sintomas finais, como depressão, isolamento e uma baixa autoestima, quando a pessoa se fecha. Ela pode também relatar dores de cabeça, dor de estômago, evitar ir à escola ou passar em lugares que podem encontrar a pessoa”, explica.
Outra característica que a psicóloga identifica como sinal de alerta é o isolamento. “Essas crianças e jovens vão se fechando cada vez mais e tendo dificuldade de expressar o que está acontecendo, porque muitos têm medo de dedurar quem foi o agressor, pelas consequências que isso pode ter”, aponta. Atrelado a isso, para Gabriela, trabalhar na prevenção e no início dos comportamentos é fundamental, pois, se os pais perceberem que as crianças estão sempre em brigas físicas ou verbais e se envolvendo em problemas, é necessário acender um sinal de alerta.
Como mostrou o garotinho no vídeo e evidenciou a psicóloga, o bullying gera solidão e isolamento - e é muito importante que os jovens e crianças tenham amigos. Segundo a especialista, a amizade não é apenas para os momentos de lazer e diversão. “A partir do momento que eu crio uma relação de amizade, começo a perceber que tem outro na relação, e preciso desenvolver uma empatia, saber dividir, entender que nem tudo é na minha hora”, afirma ela.
Gabriela ressalta também que é a partir da amizade que conseguimos desenvolver várias habilidades cognitivas e emocionais. “Aquela coisa de ser social na vida adulta, de ser uma pessoa expansiva, de ter um círculo de amizades enorme, de gostar de estar com pessoas, começa com esse aprendizado na infância e na adolescência”, define.
Assim, é importante que os pais promovam isso dentro de casa e permitam que seus filhos estejam na casa de amigos e que tragam amigos para casa, além de participarem de passeios da escola e de momentos de interação social. “Para que esse acesso a amizades seja estimulado”, conta.
Para ela, é importante também ver os sinais em quem faz o bullying. “O que precisamos entender é que essa pessoa que pratica, ou seja, o agressor, não está conseguindo se colocar no lugar do outro, para perceber que tem alguém que vai escutar ou passar por aquela agressividade, seja física ou emocional, e sofrer com aquilo. Então, é muito importante desenvolver nas crianças e nos jovens que é empatia”, conclui.