Novas críticas sanitárias reforçaram o boicote à carne brasileira na França e reviveram tensão entre frigoríficos brasileiros e Grupo Carrefour
Publicado em 27/11/2024, às 13h30
O boicote à carne brasileira segue repercutindo dentro e fora do país. O atrito internacional entre políticos e grupos do Brasil e da França começou após Alexandre Bompard, CEO global do Grupo Carrefour, fazer críticas ao produto do mercado sul-americano.
Nesta terça-feira (26), a carne bovina brasileira foi alvo de críticas durante uma sessão da Assembleia Nacional da França. Os parlamentares discutiam o fim do acordo entre União Europeia e Mercosul. Para eles, a importação do produto da América do Sul prejudica o agronegócio francês.
Deputados locais reforçaram as dúvidas sobre os padrões sanitários dos produtos oriundos dos países que formam o Mercosul. Para o deputado Vincent Trébuchet (UDR), as carnes do bloco seriam produzidas com o uso de hormônios de crescimento, além de fazer críticas à rastreabilidade no Brasil.
Em discurso transmitido no site oficial da assembleia, ele afirma que o Uruguai é o único país que tem a rastreabilidade confiável. Outros políticos franceses defenderam o boicote à carne brasileira com argumentos de que o mercado sul-americano faz “uso massivo de antibióticos" nas carnes e utilização de “produtos cancerígenos” na destinada à Europa.
O CEO do Carrefour publicou uma em apoio ao boicote às carnes brasileiras e demais países do bloco. Na carta, o executivo defendeu que havia um "risco" da França ser inundada "com carne que não atende às suas exigências e normas". Ele não citou nominalmente nenhum dos países do bloco.
No entanto, o boicote à carne brasileira por parte do Carrefour da França desagradou o mercado nacional. Em resposta, frigoríficos nacionais pausaram as vendas à rede Carrefour no Brasil. Além da rede de supermercados de mesmo nome, o grupo gere o Atacadão e Sam's Club, também afetados pela medida.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, foi favorável ao movimento, e ressaltou: "Não é pelo boicote econômico. O problema é a forma com que o CEO do Carrefour tratou, o primeiro parágrafo da carta, da manifestação dele, que fala com relação à qualidade sanitária das carnes brasileiras, que é inadmissível falar A França compra carne do Brasil há quarenta anos, só agora que ele foi detectar isso?"
Empresas como a JBS, Minerva e Masterboi adotaram a interrupção de vendas ao Carrefour Brasil, que lamentou o contragolpe dos frigoríficos brasileiros. Em nota, a rede disse: "Infelizmente, a decisão pela suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes".
Após o boicote, o grupo se retratou, falou em "confusão" e chegou a elogiar a carne brasileira. A empresa enviou uma nota, assinada pelo CEO Alexandre Bompard, ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e a assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Leia a carta na íntegra clicando aqui.
"Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas", diz trecho da carta, que faz questão de separar o Carrefour Brasil do Carrefour França.
Com a retratação da rede de supermercados, os frigoríficos brasileiros retomaram as negociações com o grupo. As empresas desejavam que a integridade do produto brasileiro fosse mantida, e consideraram que a carta de desculpas cumpriu o propósito.
No entanto, a situação na França segue a mesma. O acordo entre União Europeia e Mercosul para compra de produtos segue desagradando os parlamentares e o agronegócio. Por isso, o Carrefour da França não vai comprar carnes de produtores de países do bloco, como Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
O boicote à carne brasileira, porém, não traz impacto significativo ao mercado nacional. A França estava distante de ser uma das maiores importadoras de proteína animal dos países latino-americanos.