Giovanna Roque foi vítima de agressão em abril deste ano por parte de MC Ryan SP, com quem namorou e tem uma filha de nove meses. Após vazarem imagens das câmeras de segurança da própria casa do funkeiro, a modelo foi às suas redes sociais para defender o ex das acusações e do linchamento virtual, se responsabilizando também pelo ocorrido.
As declarações de Giovanna revelam um padrão comum em casos de violência doméstica: a culpabilização da vítima. Ao justificar as ações do agressor, ela demonstra a complexidade de romper com o ciclo de abuso e a pressão social que as vítimas enfrentam. Pensando nisso, AnaMaria fez uma análise das falas da modelo, as quais indicam um padrão de comportamento comum em se tratando em casos de violência doméstica. Confira a seguir.
A culpa não é dela: veja uma análise das falas de Giovanna Roque
Tudo começou com a divulgação de um vídeo em que MC Ryan SP aparece agredindo fisicamente a influenciadora Giovanna Roque, com quem tem uma filha de nove meses. A gravação, feita por câmeras de segurança da casa do funkeiro, expõe um episódio de violência doméstica que ocorreu em abril deste ano. Na imagem, Ryan aparece dando um chute na modelo enquanto ela está sentada no chão.
Após o vazamento das imagens, Giovanna foi às suas redes sociais para sair em defesa do ex, mostrando um padrão de comportamento que indica a culpabilização da vítima e a dificuldade em romper um ciclo de abuso.
Confira a análise das falas da influenciadora a seguir:
- Minimização da violência e culpabilização da vítima:
“A última coisa que eu queria era vir aqui me pronunciar sobre isso, sobre essas fotos que vocês estão vendo no site, que estão rolando. Gente, eu queria deixar bem claro para vocês que o Ryan não é essa pessoa ruim que vocês estão pensando que ele é, tá? Ocorreu, sim, uma discussão no último término que a gente teve. O Ryan tinha aprontado e, nesse dia, eu perdi muito a cabeça. Fiquei muito nervosa, quebrei o telefone dele e fui para cima dele. Ele também ficou muito nervoso e veio para cima de mim, porque também perdeu a cabeça.“
Análise: minimizar a violência é uma forma de proteger o agressor, mantendo a imagem de que ele não é uma pessoa má ou violenta. A vítima, ao assumir parte da culpa, alivia a pressão sobre o agressor e contribui para que ele mantenha o controle sobre a relação. Ao admitir ter “perdido a cabeça” e ter “ido para cima dele”, Giovanna Roque minimiza a responsabilidade do agressor e justifica a violência sofrida se culpabilizando pela mesma.
- Pressão social e medo:
“É uma situação que foge do controle. Agora, invadiram as câmeras da casa dele. Vocês não têm ideia, é uma perseguição absurda […] Nem se trata mais só dele. As pessoas não nos deixam em paz. Eu não tenho paz. Não sei no que vocês acreditam, no que vocês creem, mas eu tenho um propósito. Eu acredito no propósito da família”, declarou Giovanna Roque.
Análise: esse trecho revela a pressão social e o medo que a vítima sente, além de demonstrar a dificuldade de romper com o ciclo de violência, mesmo diante de evidências claras de agressão. A crença em um “propósito de família” pode ser um fator que a impede de buscar ajuda e denunciar o agressor.
- Sensação de violação da privacidade, vergonha e normalização da violência:
“O que vocês estão vendo foi uma única situação. Uma pessoa muito suja fez isso, postou e mandou para uma página de fofoca para nos envergonhar, para prejudicar a vida dele e a minha também, porque é vergonhoso. Sei que tem gente que olha para mim e pensa ‘coitada’, mas eu não sou coitada. Nós realmente brigamos, como qualquer casal. Todo mundo tem atritos, tem confusões dentro de casa, e a nossa vida foi exposta, nossa privacidade foi violada.“
Análise: nesse trecho, a vítima expressa a sensação de violação da privacidade e a vergonha associada à exposição da violência. Então, ao minimizar a violência, a vítima pode estar se protegendo da culpa e da vergonha. Além disso, ao acreditar que a violência foi um evento isolado – foi uma única situação” – e que ela também teve parte da culpa, a vítima pode se sentir menos responsável pela situação e menos vulnerável. Ademais, ao comparar a situação a uma “briga comum entre casais”, a vítima busca normalizar a agressão, como se fosse algo trivial e esperado em qualquer relacionamento.
A análise das falas de Giovanna Roque revela a complexidade do ciclo da violência doméstica e a dificuldade das vítimas em romper com essa dinâmica. É importante enfatizar que a culpa não é dela, mas sim do agressor que exerce o controle e a manipulação sobre a vítima. A minimização da violência é uma estratégia comum utilizada por vítimas para lidar com o trauma e a complexidade da situação.
As consequências da minimização da violência
- Perpetuação do ciclo de violência: ao minimizar a violência, a vítima torna mais difícil romper o ciclo de abuso. Ao acreditar que a violência é um evento isolado e que pode ser justificado, a vítima pode ser mais propensa a perdoar o agressor e a voltar para a relação;
- Dificuldade em buscar ajuda: a minimização da violência pode levar a vítima a acreditar que não precisa de ajuda ou que a situação não é grave o suficiente para justificar uma denúncia;
- Reforço de estereótipos: ao normalizar a violência, a vítima contribui para reforçar o estereótipo de que a violência doméstica é um problema privado e que não deve ser denunciado.
É importante ressaltar que a minimização da violência é um mecanismo de defesa comum em vítimas de abuso e não significa que elas estejam mentindo ou querendo proteger o agressor conscientemente. A culpabilização da vítima é um dos pilares da violência doméstica e essa análise demonstra como a linguagem utilizada pela vítima pode revelar as complexidades desse tipo de relacionamento.
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