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EXCLUSIVA: “Devo ter sido julgada”, dispara Paula Cohen sobre focar sua vida à arte

Atriz de 'Nos Tempos do Imperador', Paula Cohen, abriu o jogo sobre sua vida e carreira, além de revelar como lida com as pressões sociais

Karla Precioso Publicado em 24/04/2022, às 08h00

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“Devo ter sido julgada”, dispara Paula Cohen sobre focar sua vida à arte - Instagram/@paulacohenoficial
“Devo ter sido julgada”, dispara Paula Cohen sobre focar sua vida à arte - Instagram/@paulacohenoficial

Já parou para pensar quantas pressões nós enfrentamos no dia a dia ao longo da vida? Pois é... Perguntas aparentemente inocentes costumam ser feitas a muitas de nós, porém, no fundo, elas são carregadas de indiretas. Ou mesmo diretas! “Não vai casar?”, “quando vai ter filhos?” são clássicos recorrentes. E tantos outros questionamentos que escutamos quando decidimos não seguir os padrões criados pela sociedade.

Aos 45 anos, Paula Cohen vive uma excelente fase pessoal e profissional. Em Nos Tempos do Imperador, ela colhe os louros de todos os anos dedicados à arte. A personagem Lota é um dos destaques da trama da faixa das 18h da Globo. Feliz com o caminho trilhado, ela explica como chegou até aqui: “Devo ter sido julgada por pessoas que acreditam que você só pode ser feliz se seguir à risca certas convenções sociais, o que a sociedade espera de você. Mas eu não me pauto por isso. Vivo a vida tendo o meu coração como bússola, é o meu desejo que me conduz”, ensina a atriz, que conversou de forma franca com AnaMaria sobre como não cedeu às pressões sociais para se realizar na vida pessoal e na carreira.

Nos Tempos do Imperador é o seu trabalho na TV de maior destaque. Esperava por esse momento?
Sim. Eu tenho uma trajetória muito sólida no teatro e conquistar espaço na televisão sempre foi uma vontade, poder falar com mais gente, fazer com que o meu trabalho chegue à casa de diversas pessoas, expandir, trocar com o público... Esse retorno é muito valioso. Vivo uma grande realização profissional.

Você tem uma vida toda dedicada à arte. Pode contar um pouquinho sobre a sua trajetória?
Eu entrei na Escola de Arte Dramática de São Paulo com 19 anos e, a partir daí, entendi que essa era a minha missão na terra, a minha vocação. Descobrir isso cedo me focou e me fez criar caminhos. Desde que me formei, não parei de trabalhar. Fiz mais de 30 peças, trabalhei com grandes diretores... E isso foi me formando a cada dia.

Eu venho da dança, então, sempre entendi as minhas construções a partir do movimento. Nos últimos
anos, venho realizando meus projetos de maneira bem autoral, todos ligados ao que creio ser importante ser dito no momento. Sou proponente e produzo os trabalhos que faço nos palcos. Ao
longo da minha trajetória, são 12 filmes. E tenho feito séries também.

Você precisou abrir mão de algo para perseguir seus objetivos profissionais?
Cada vez mais ouvimos histórias de mulheres que abdicaram de coisas para se realizar profissionalmente... Não sinto que tenha aberto mão de nada que fosse fundamental para mim. Claro que toda escolha traz a renúncia de algo que poderia ter sido. Desde que entendi que o meu caminho era a arte, foquei e fui fundo.

Eu contei com uma estrutura familiar que me ajudou a persistir. É uma profissão inconstante, não temos estabilidade nenhuma, então, em muitos momentos, se não fosse o apoio da minha família, seria impossível seguir adiante. Aliás, sempre tive apoio em todos os sentidos. Não só nos momentos de instabilidade financeira, mas também, e principalmente, na escolha do caminho artístico. Todos
sempre confiaram no meu potencial, admiraram minha garra. Sou uma artista em tudo. Na maneira que me coloco no mundo, me expresso. A vida e a arte estão entrelaçadas, é difícil dissociar.

Qual é o maior aprendizado que você teve quando pensa em sua história?
Creio que onde há vontade, há caminho! Acreditar em si, no desejo, no potencial, na paixão é
fundamental para ter uma existência plena, aproveitar a vida de maneira absoluta. Fazer o que se ama, apesar das adversidades, é também uma atitude revolucionária, no sentido de que o que você realiza reverbera no mundo. Então, se você faz o que adora, o mundo recebe o seu melhor. Sei que muitas vezes isso parece difícil, mas também se trata de ser à revelia do que o mundo diz que tem que ser.

Muitas mulheres após os 40 anos passaram a olhar mais para a vida pessoal, já que encontraram a realização profissional. Você vive esse momento?
Creio que as coisas vieram caminhando juntas. Sempre olhei muito para a minha trajetória como artista, esse é o meu motor na vida. Acho que isso não mudará jamais. Estou em estado de inquietação eterna com relação a tantas coisas que ainda quero realizar.

Porém nunca deixei de me relacionar, de alimentar a mulher que sou com amor e troca, a amiga dedicada, a filha/irmã/ tia presente, cheia de afeto e parceira.Claro que, às vezes, não pude estar com as pessoas que amo em momentos importantes por causa do teatro, mas isso nunca foi um problema.

E o que você busca realizar na vida pessoal?
Eu amo viajar, conhecer diferentes lugares e culturas. Por sorte, os meus pais tinham isso na história deles e criaram o meu irmão e a mim assim, e nos fizeram apreciar muito isso. O meu irmão já viveu em muitos países na vida. Agora faz dez anos que ele vive numa das Ilhas Canárias (temos cidadania espanhola). Eu já viajei para vários países, mas ainda tenho muitos para conhecer. Quero ir para a África. Aprender sobre a cultura africana deveria ser obrigatório num país como o Brasil. Quero conhecer Israel, Líbano, Rússia, Cuba, México, Peru... Enfim, quero rodar o mundo!

E na vida profissional?
Filmar com Pedro Almodóvar.

Na novela, você é mãe de dois filhos. Deseja ser mãe na vida real?
Já desejei algumas vezes, outras, não. Existe uma questão que ainda tem que ser trabalhada na sociedade, que é a pressão para que as mulheres sejam mães. Creio que muitas têm dúvida se querem ou se vão criar espaço em sua vida para isso, mas acabam tendo filho por causa da pressão. Acho que, ao longo dos anos, isso tende a melhorar, pois, pela primeira vez, começamos a falar sobre. Existem muitas formas de exercer a maternidade, não apenas parindo. Claro que, se um dia for mãe, certamente vou me entregar e me deliciar com essa vivência única. Seria muito especial também
adotar uma criança. Quem sabe?!


Já se sentiu julgada por alguma vez ter priorizado o trabalho?
Sim, devo ter sido julgada por pessoas que acreditam que você só pode ser feliz se seguir à risca
certas convenções sociais, o que a sociedade espera de você. Mas eu não me pauto por isso. Vivo a vida
tendo o meu coração como bússola, é o meu desejo que me conduz.


Como você vê as mulheres de sua geração? E o que elas vão deixar de ensinamento para as novas gerações?
Vejo com muita admiração e respeito. Somos mulheres que romperam com uma série de padrões. Mulheres que foram se realizar como profissionais de diversas áreas. A nossa criação ainda veio impregnada dessa estrutura massacrante que a sociedade patriarcal cria, mas a gente vem quebrando isso. As novas gerações, então, vêm com o pé na porta! Eu amo ser mulher neste momento do mundo... E olha que ainda é muito difícil, absurdamente desigual, mas estamos lutando para que isso acabe.

O que mais tem que ser combatido é a violência, em seus múltiplos aspectos. Essa estrutura social que mata, oprime e apaga tem que ser destruída. Enquanto uma estiver em perigo, todas estaremos!


Como artista, o que você quer deixar de contribuição para a sociedade?
Carne de Mulher, meu espetáculo, fala sobre violência contra a mulher. Sentir que ele fortalece algumas mulheres, fazer com que elas não se sintam sozinhas, percebam que não é só com elas que acontece... Fazer com que se discuta essa normatização da violência, lutar contra, encorajar, considero tudo isso um legado. Acredito que é aí que a arte realiza o seu papel de maneira completa, e me sinto plena
por colaborar. Eu quero fazer com que a sociedade se repense, se estruture a partir de outros  parâmetros, que respeite as diferenças, a diversidade. Que siga o caminho da igualdade.