Entenda as raízes desse preconceito contra os mais velhos e conheça as consequências que ele traz para a sociedade
Publicado em 02/10/2024, às 09h00
A velhofobia, também conhecida como etarismo, é um preconceito que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo, manifestando-se de diversas formas no dia a dia.
Esse tipo de discriminação se baseia em estereótipos negativos relacionados à idade, levando à desvalorização dos mais velhos e à exclusão social. Em um contexto em que a sociedade glorifica frequentemente a juventude, os idosos enfrentam desafios que vão desde a dificuldade em conseguir emprego até a marginalização em interações cotidianas.
AnaMaria conversou com a psicóloga Jéssica Dellalibera dos Santos, para explorar as nuances do etarismo, suas consequências e a importância de combater esse preconceito para construir uma sociedade mais inclusiva e respeitosa para todas as idades.
O etarismo refere-se à maneira como pensamos, sentimos e agimos em relação às pessoas com base em sua idade, e, embora possa ocorrer em diferentes faixas etárias, no Brasil, a forma mais evidente desse preconceito se dirige aos idosos. Infelizmente, essa visão negativa muitas vezes associa a velhice a estigmas como fardo econômico, necessidade de cuidados, dependência e até inutilidade.
Essa perspectiva distorcida faz com que muitos vejam os idosos como um peso para a sociedade, perpetuando a ideia de que sua contribuição é irrelevante ou que sua presença é um ônus. Como resultado, muitos idosos enfrentam não apenas a marginalização, mas também a exclusão em diversas áreas, como o mercado de trabalho, as relações sociais e até mesmo na participação em atividades comunitárias.
"Quando consideramos que as pessoas idosas não têm mais a capacidade de aprenderem ou quando temos menos de 60 anos e sentimos dor nas costas, esquecemos onde deixamos algum objeto, ou nos autointitulamos “chatos” e nos compararmos como sendo sintomas de velhice, estamos agindo de maneira velhofóbica", afirma a especialista.
O etarismo se manifesta de diversas formas, desde comentários desdenhosos até a falta de oportunidades, criando um ciclo de discriminação que prejudica tanto os indivíduos mais velhos quanto a sociedade na totalidade.
Esse preconceito não só desvaloriza a rica experiência e sabedoria que os idosos podem oferecer, mas também contribui para um ambiente social que não valoriza a diversidade etária.
Quando a sociedade é culturalmente hostil em relação às pessoas idosas, o impacto dessa hostilidade se estende muito além do preconceito. A sensação de não pertencimento se torna palpável, uma vez que os idosos frequentemente se deparam com a falta de papéis significativos e de espaços onde possam se sentir acolhidos.
Essa exclusão social não só mina a autoestima e a confiança dos indivíduos, mas também os priva de oportunidades de interação social essenciais para o bem-estar emocional.
O desengajamento em atividades sociais, como clubes, grupos comunitários ou mesmo encontros familiares, resulta em um ciclo de isolamento que pode ser difícil de romper. Sem oportunidades para participar e se expressar, muitos idosos se sentem invisíveis e desvalorizados. Essa condição pode levar ao desenvolvimento de transtornos mentais, como depressão e ansiedade, que são frequentemente exacerbados pelo estigma e pela marginalização.
"Pode afetar em sua autoestima e desestimular o desenvolvimento de propósito de vida, ou seja, de razões e metas para viver. Além disso, pode afetar em sua resposta comportamental, tornando a pessoa idosa mais agressiva frente a atitudes preconceituosas, retroalimentando o preconceito que a sociedade já possui", aponta Jéssica.
A solidão e a falta de conexão social têm efeitos profundos na saúde mental dos idosos, contribuindo para uma deterioração do estado emocional e físico. As interações sociais são fundamentais para a saúde psicológica, e a ausência delas pode criar um ambiente propício para o surgimento de problemas como a tristeza persistente, o desinteresse por atividades que antes eram prazerosas e um sentimento de desesperança.
Para combater o etarismo e promover uma sociedade mais inclusiva, a especialista propôs uma série de dicas e mudanças que podem ser implementadas em diferentes contextos. Essas recomendações visam valorizar a contribuição das pessoas idosas, reconhecer suas experiências e garantir que elas se sintam pertencentes e respeitadas. Confira:
Ao adotar essas práticas, podemos não apenas melhorar a qualidade de vida dos mais velhos, mas também enriquecer as interações intergeracionais, criando um ambiente onde todos se sintam valorizados, independentemente da idade.
A promoção da educação para o envelhecimento deve começar desde a infância, uma vez que é nesse período que começamos a interagir e internalizar a cultura, crenças e estereótipos em relação à velhice.
É fundamental ensinar às crianças que o envelhecimento é um processo natural que todos nós experimentamos, e que existem diferentes maneiras de envelhecer que podem levar a uma velhice saudável e bem-sucedida ou a doenças, dependendo das escolhas e hábitos que cultivamos nas etapas anteriores da vida.
Ao estabelecer conexões entre as gerações, podemos incentivar a troca de saberes, onde tanto os mais jovens quanto os mais velhos aprendem uns com os outros. Essa interação enriquece a compreensão sobre a velhice e promove um respeito mútuo vital para uma sociedade inclusiva.
Leia também:
Desidratação em idosos: dicas para uma hidratação adequada e sinais de alerta
Quiropraxia: gestantes, idosos e bebês podem ser atendidos?