Determinação da idade ideal para iniciar a mamografia envolve uma série de fatores; especialista aborda quais são eles
Publicado em 25/07/2024, às 20h00 - Atualizado em 26/07/2024, às 10h59
A atriz americana Shannen Doherty faleceu aos 53 anos após quase uma década de batalha contra o câncer de mama. A morte da estrela da série ‘Barrados no Baile’ levanta uma questão importante sobre a idade ideal para se começar a fazer o exame de mamografia. Enquanto as Sociedades Brasileiras de especialidade recomendam o exame a partir dos 40 anos, o Ministério da Saúde sugere o início aos 50 anos. Contudo, um estudo da Universidade Federal Fluminense (UFF) indica que muitas mortes pela doença ocorrem antes dessa faixa etária.
O que seria o mais adequado então? Pensando em responder a essa questão, AnaMaria conversou com o ginecologista e obstetra Alexandre Pupo, médico associado à FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e médico do núcleo de Mastologia do Hospital Sirio Libanes. Confira a seguir.
De acordo com Alexandre, a determinação da idade ideal para iniciar a mamografia envolve uma série de fatores. A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda o início aos 40 anos, considerando a epidemiologia do câncer de mama no Brasil, onde há uma incidência significativa entre mulheres abaixo de 50 anos. Estudos demográficos indicam que cerca de 25-26% dos casos ocorrem em mulheres nessa faixa etária, justificando a necessidade de começar o exame preventivo mais cedo para maximizar a detecção precoce e o tratamento.
Por outro lado, o Sistema Único de Saúde (SUS) prioriza as mulheres dos 50 aos 65 anos, devido a limitações de recursos, disponibilidade de equipamentos e profissionais especializados. O SUS precisa balancear o benefício do exame com sua viabilidade prática, considerando a capacidade de absorver o volume de pacientes e o custo associado.
O ginecologista destaca que, idealmente, todas as mulheres teriam acesso universal e de qualidade à saúde, com exames realizados sem filas e acompanhamentos adequados. Em países com menor população e maior capacidade econômica, como os países escandinavos, esse modelo é mais viável.
Portanto, o critério mais adequado varia conforme a capacidade do sistema de saúde em absorver a demanda, a disponibilidade de profissionais qualificados e a relação custo-benefício que o sistema pode sustentar. Em resumo, enquanto a recomendação ideal seria começar a mamografia aos 40 anos, as limitações práticas do SUS justificam a política de iniciar aos 50 anos para oferecer o maior benefício possível dentro das condições disponíveis.
Alexandre Pupo aponta que, em um sistema de saúde ideal, o acompanhamento começaria aos 40 anos e seria realizado anualmente. No entanto, para mulheres com risco elevado de câncer de mama, como aquelas com histórico familiar significativo ou mutações genéticas como BRCA1, a mamografia pode começar ainda mais cedo.
"Essas pacientes de alto risco seriam identificadas e submetidas a aconselhamento genético. A partir dos 25 anos, essas mulheres poderiam iniciar exames de ultrassom e ressonância magnética, devido à densidade das mamas jovens que dificultam a eficácia da mamografia. A partir dos 35 anos, a mamografia pode ser adicionada ao acompanhamento, apesar de sua sensibilidade ainda ser limitada nessa faixa etária", explica o médico.
Esses critérios são baseados na identificação precoce em pacientes com maior predisposição genética ou histórico familiar de câncer de mama, ovário, intestino ou endométrio, justificando o início dos exames preventivos antes dos 40 anos.
Pupo explica que a ressonância magnética com contraste é um método importante para a detecção precoce do câncer de mama, especialmente em mulheres mais jovens. Este exame é capaz de identificar lesões com alta vascularização, que são indicativas de câncer. A ressonância é eficaz para visualizar o tecido mamário denso, onde a radiação do raio-X da mamografia pode não penetrar bem, e pode detectar lesões muito pequenas que o ultrassom não consegue identificar.
O ultrassom também pode ser utilizado como método complementar, principalmente em mulheres jovens, onde a mamografia tem limitações devido à densidade mamária. A combinação de ressonância magnética e ultrassom oferece uma detecção mais precisa em mulheres de alto risco e jovens.
Além da eficácia diagnóstica, a detecção precoce tem um impacto econômico significativo. Detectar câncer de mama em estágios iniciais permite tratamentos mais simples, menos caros e aumenta a possibilidade de cura, além de possibilitar o retorno mais rápido da paciente às suas atividades econômicas. Em contraste, diagnósticos tardios exigem tratamentos complexos e caros, resultando em maior dependência do sistema de saúde e custos elevados.
O ginecologista ressalta que o equilíbrio entre custo e benefício é crucial. "O investimento na prevenção e detecção precoce reduz os custos a longo prazo e melhora a qualidade de vida das mulheres. Encontrar esse equilíbrio é um desafio contínuo para os sistemas de saúde, buscando oferecer exames de alta qualidade e acessíveis para todas as pacientes", aponta Alexandre.
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