Você pode estar entre os 30% de brasileiros com gordura no fígado; veja como se cuidar
Se o fígado fosse um indivíduo, ele seria aquele tipo de pessoa que resolve tudo, daquelas que segura todas as ondas, que sabe fazer tarefas muito diferentes e de maneira exemplar. Aquela que não pode nem pensar em ficar doente, porque muitas outras pessoas e situações dependem totalmente dela.
Esta simples analogia já poderia ser suficiente para que os cuidados com o fígado fossem prioridade, mas não é o que os números recentes do Ministério da Saúde apresentam: 30% da população brasileira tem gordura no fígado.
Diante da incidência acentuada e do fato de que a esteatose hepática nem sempre dá sinais por meio de sintomas, a endocrinologista Isis Toledo, metabologista pela SBEM, traduz abaixo informações vitais para educar a população sobre o fígado e essa condição silenciosa.
"Ele é o órgão responsável pela regulação do metabolismo de vários nutrientes, pela formação de proteínas e pelo armazenamento de substâncias", resume a especialista. Entre essas funções estão:
Conforme a endocrinologista e metabologista, a gordura no fígado é resultado de um acúmulo de gordura corporal, normalmente resultante da interação de fatores genéticos e ambientais, ou seja, além dos fatores que acompanham o indivíduo em seu DNA, somam-se o seu comportamento, alimentação e disponibilidade à prática de atividades, por exemplo.
"A esteatose hepática é declarada quando há acúmulo de gordura, principalmente de triglicerídeos, em mais de 5% dos hepatócitos (células parenquimatosas do fígado)", detalha Isis.
"Este acúmulo de gordura pode evoluir para um quadro de esteato-hepatite não alcoólica (NASH), que, por sua vez, pode evoluir para cirrose em até 1/3 dos casos, para doença hepática terminal ou, mais raramente, para câncer", diz a médica.
Além do quadro evolutivo no próprio órgão, a gordura acumulada no fígado pode desencadear, ainda, doenças cardiovasculares como infarto, derrame e insuficiência cardíaca, além de ter relação com o surgimento de tumores.
Apesar de, inicialmente, o paciente não apresentar sintomas físicos nítidos de que seu fígado está povoado de células gordurosas, a médica indica um fator clínico sugestivo dessa condição: a circunferência abdominal.
"Exames como os de função hepática com AST e ALT e ultrassonografia de abdome indicam o potencial para doença. Existe também uma calculadora de risco chamada FIB-4, validada internacionalmente, que utiliza dados com AST, ALT, idade do paciente e contagem de plaquetas", aprofunda a endocrinologista.
O acúmulo de gordura no fígado é muito associado à combinação entre uma alimentação não controlada e o sedentarismo, ou seja, a ausência de prática assídua de exercícios físicos. "Conseguimos quantificar as mudanças do estilo de vida observando a perda de peso", conta a especialista.
Ela explica que pacientes que reduzem 3% do peso e mantêm essa redução atingem uma diminuição acentuada da esteatose hepática. Aqueles que conseguem perder 7% do peso (e manter) revelam regressão do NASH. No caso de pessoas que reduzem 10% de seu peso, Isis diz ser possível observar a "regressão da fibrose em 1 ponto em 47% dos pacientes".
"A dieta cetogênica e o jejum prolongado devem ser evitados nos pacientes que sofrem de cirrose, já que implicam a perda de massa muscular e o risco de acidose", alerta Isis, ao recomendar dietas como a mediterrânea, ou seja, o hábito de se nutrir com alimentos naturais e frescos, dando preferência a itens como azeite de oliva, frutas, vegetais, legumes, cereais integrais, sementes, frutos secos e peixes.
A metabologista pondera que a maior dificuldade nesses casos é a adesão do paciente. "Os pacientes que fazem mais atividade física são os que melhor aderem a esse tipo de dieta", conta. Nesse quesito, a médica observa que a prática de exercícios aeróbicos de média intensidade e alta intensidade e os de resistência por três meses é suficiente para reduzir de forma acentuada a esteatose hepática.
"Percebe-se, porém, que somente o aeróbico de alta intensidade melhora a elastografia (exame de imagem que capta as debilidades do fígado)", alerta a especialista.