Como o vício em pornografia afeta os envolvidos? Carmo Dalla Vecchia lida com o problema

Carmo Dalla Vecchia revelou recentemente sua batalha contra o vício em pornografia no podcast ‘Surubaum’, comandado por Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso. Durante a entrevista, ele compartilhou os impactos negativos desse vício em sua vida e intimidade, destacando a diminuição da intensidade dos orgasmos e a dificuldade em desfrutar do sexo real. Para lidar com o problema, o ator recorreu a uma terapia sexual intensiva, que inclui técnicas como tantra, ajudando-o a se desintoxicar e redescobrir sua sexualidade.

Com base nesse relato, AnaMaria conversou com o psiquiatra Eduardo Perin, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)  e terapeuta sexual pelo Instituto Paulista de Sexualidade (InPaSex), para entender como o vício em pornografia afeta os envolvidos, os sinais para identificá-lo e os tratamentos disponíveis. Confira a seguir.

Sinais e sintomas do vício em pornografia

De acordo com Eduardo, a dependência de pornografia se assemelha a outras dependências, sejam químicas ou comportamentais. Ele explica que isso ocorre devido a dois mecanismos principais: tolerância e abstinência.

• Tolerância: assim como em outras dependências, uma pessoa viciada em pornografia precisa de doses cada vez maiores para alcançar o mesmo nível de satisfação. Inicialmente, a pessoa pode consumir uma quantidade moderada de pornografia, mas com o tempo, precisa de mais conteúdo, e muitas vezes, de material mais agressivo e intenso, como cenas de sexo mais hard ou fantasias sexuais específicas, para sentir o mesmo prazer;
  
  
• Abstinência: quando a pessoa tenta parar de consumir pornografia, pode enfrentar sintomas de abstinência semelhantes aos de outras dependências. Isso inclui insônia, ansiedade, irritabilidade e outros sintomas físicos e comportamentais que resultam da falta do estímulo pornográfico.

Impactos negativos do vício em pornografia

A seguir, confira como o vício em pornografia pode impactar negativamente diferentes áreas da vida do indivíduo:

• Vida profissional: o vício em pornografia pode interferir no desempenho profissional. A pessoa pode passar tanto tempo consumindo pornografia que isso começa a comprometer seu trabalho, levando a uma queda na produtividade e possíveis problemas no emprego;
  
  
• Vida social: o vício pode levar ao isolamento social. A pessoa pode preferir ficar em casa consumindo pornografia em vez de interagir com amigos e familiares, o que pode resultar em uma diminuição significativa nas relações sociais;
  
  
• Vida familiar: o impacto na vida familiar pode ser profundo. O tempo excessivo gasto na pornografia pode afastar a pessoa de seus familiares, causando tensões e conflitos dentro do lar;
  
  
• Vida financeira: a dependência pode ter consequências financeiras graves. A pessoa pode gastar grandes quantias de dinheiro comprando vídeos, acessando sites pagos, ou participando de chats e transmissões ao vivo, comprometendo sua estabilidade financeira;
  
  
• Vida sexual: o uso excessivo de pornografia pode afetar negativamente a vida sexual real. A pessoa pode desenvolver uma menor vontade de se relacionar sexualmente com parceiros reais. Além disso, podem surgir disfunções sexuais como ejaculação precoce, disfunção erétil ou ejaculação retardada, tornando difícil ou impossível alcançar a satisfação sexual com um parceiro real.

O vício em pornografia é uma condição séria que pode afetar diversas áreas da vida de uma pessoa. Reconhecer os sinais e buscar ajuda profissional é crucial para lidar com esse problema e mitigar seus impactos negativos.

Quais são as possíveis causas do vício em pornografia?

De acordo com o psiquiatra e terapeuta sexual Eduardo Perin, as causas do vício em pornografia são diversas e ainda não são completamente compreendidas. Alguns dos fatores que podem contribuir para o desenvolvimento desse vício incluem:

• Genética: algumas pessoas têm uma predisposição genética para dependências em geral. Isso significa que, se uma pessoa tem uma maior propensão a vícios como cocaína ou cigarro, ela também pode ser mais propensa a desenvolver uma dependência de pornografia. A genética que aumenta a probabilidade de uma dependência pode ser compartilhada entre várias substâncias e comportamentos;
  
  
• Transtornos psiquiátricos: certos transtornos psiquiátricos, como transtorno bipolar e transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), podem aumentar a propensão de uma pessoa a comportamentos impulsivos, incluindo o vício em pornografia. Esses transtornos podem levar a uma maior impulsividade, que por sua vez pode facilitar o desenvolvimento de dependências;
  
  
• Desejo sexual hiperativo: pessoas com um desejo sexual extremamente elevado, conhecido como desejo sexual hiperativo, também podem ser mais propensas ao vício em pornografia. Essas pessoas podem sentir a necessidade de ter múltiplos orgasmos por dia, o que pode levar ao uso frequente de pornografia;
  
  
• Parafilias: indivíduos com parafilias, que são interesses sexuais intensos e incomuns, também podem ter uma maior tendência a se viciar em pornografia, especialmente se esse conteúdo alimentar suas fantasias;
  
  
• Desregulação do centro de prazer: a própria pornografia pode causar uma desregulação do centro de prazer no cérebro. Isso ocorre porque a visualização frequente de pornografia pode levar a um aumento na liberação de dopamina, o que faz com que a pessoa sinta prazer quase exclusivamente ao consumir esse tipo de conteúdo. Com o tempo, isso pode resultar em uma tolerância, onde a pessoa precisa de conteúdos cada vez mais intensos para obter o mesmo nível de prazer;
  
  
• Uso frequente de tecnologia: o uso constante de telas e dispositivos eletrônicos também pode aumentar o risco de desenvolver um vício em pornografia. A fácil acessibilidade e a frequência com que interagimos com computadores e celulares podem facilitar o acesso a sites e aplicativos de pornografia, aumentando a probabilidade de consumo regular e, eventualmente, dependência.

Embora esses fatores ofereçam alguma compreensão sobre as possíveis causas do vício em pornografia, Perin destaca que a ciência ainda não entende completamente todos os mecanismos que levam a essa dependência. Cada indivíduo é único, e múltiplos fatores podem contribuir para o desenvolvimento desse vício.

Quais são os tratamentos para superar o vício em pornografia?

De acordo com Perin, os tratamentos para o vício em pornografia são semelhantes aos usados para outras dependências. A seguir, confira algumas abordagens eficazes:

Medicações

Algumas medicações podem ser utilizadas no tratamento da dependência de pornografia. Exemplos incluem:

• Naltraxona: Frequentemente usada para tratar dependências químicas, esta medicação pode ajudar a reduzir os impulsos e comportamentos compulsivos relacionados à pornografia.
• Topiramato: Outra medicação que pode ser útil para reduzir o comportamento compulsivo.

Se a pessoa também possui outros transtornos psiquiátricos, como transtorno bipolar ou transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), é crucial tratar essas condições subjacentes. O tratamento eficaz dessas comorbidades pode contribuir significativamente para a melhora na dependência de pornografia.

Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

Esta é considerada a principal abordagem terapêutica para tratar o vício em pornografia. A TCC ajuda os indivíduos a:

• Reduzir e eventualmente eliminar o uso de pornografia: A ideia é interromper o comportamento compulsivo e permitir que a pessoa restabeleça uma vida sexual saudável.
• Desenvolver novas fontes de prazer: A TCC ajuda os indivíduos a encontrar satisfação e prazer em outras atividades e relacionamentos, além do uso de pornografia.

Intervenções psicológicas e psiquiátricas

Além da TCC, outras formas de terapia, tanto psiquiátrica quanto psicológica, podem ser benéficas para tratar a dependência de pornografia.

Atividade física e meditação

Atividades físicas regulares e práticas de meditação podem ser extremamente úteis. Elas ajudam a reduzir o estresse e a ansiedade, promovendo uma sensação de bem-estar que pode substituir a necessidade de recorrer à pornografia para alívio emocional.

Melhora da vida social

Sair de casa, interagir com outras pessoas e cultivar uma vida social ativa são passos importantes. Melhorar os relacionamentos sociais pode ajudar a reduzir o isolamento que muitas vezes contribui para o vício em pornografia.

Essas abordagens combinadas oferecem um caminho abrangente para superar o vício em pornografia, proporcionando suporte tanto medicamentoso quanto terapêutico, além de incentivar mudanças positivas no estilo de vida e nos hábitos sociais.

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