Mais de um mês depois do desaparecimento seguido da morte do indigenista Bruno Pereira, e do jornalista Dom Phillips, o período eleitoral no Brasil está para começar. Há menos de três anos do limite estipulado pela ONU para o colapso do clima, a pauta socioambiental nunca foi tão relevante politicamente quanto agora. Olhando para o âmbito nacional, os assassinatos de dois grandes defensores da Amazônia dizem muito sobre o estágio do tema no país.
Em entrevista ao portal Ecoa UOL, Ângela Mendes, filha do ambientalista Chico Mendes, apontou o atraso da pauta no atual governo: “Naquela época, o cenário de impunidade era muito parecido com o que temos hoje”, disse Ângela, comparando os anos de 1988, quando seu pai foi assassinado por grileiros, e 2022.
Segundo a fala de Ângela, um país com histórico de repressão e violência reacionária ante as causas ambientais, como o Brasil, depende diretamente das eleições para mudar o cenário: “Nesse governo a gente não vai poder fazer muita coisa, mas estamos em um período eleitoral, então é preciso se mobilizar para cobrar dos candidatos – agora e depois de eleitos”, explica.
“Se a população se organiza, se fortalece, e a gente faz essa campanha em torno do cumprimento deste acordo, acho que já vamos ter ganhado muita coisa no sentido de proteger quem protege a floresta”, disse ela sobre os ataques contra a população da floresta.
A IMPORTÂNCIA DA PROTEÇÃO AMAZÔNICA
Ângela Mendes abordou na entrevista não só como o país lida com a proteção do bioma, mas também como o povo brasileiro vê a floresta: “A Amazônia presta um grande serviço de regulação climática. Talvez as pessoas só percebam a sua importância quando começarem a sofrer diretamente os impactos da devastação que vêm ocorrendo, como no dia em que São Paulo amanheceu com o ar cheio de fumaça”, começou ela.
“Uma pesquisa do Datafolha disse que 90% dos brasileiros são a favor da floresta. Que isso se reflita em atos, sensibilidade e solidariedade, como por meio da adesão à Amazônia de Pé – que precisa reunir um milhão e meio de assinaturas para que o projeto seja recebido no Congresso”, continuou a fundadora do núcleo jovem do Comitê Chico Mendes
Ela também afirmou que os próprios candidatos devem se atentar ao tema: “Também é necessário ter coerência nesse período eleitoral e mudar o cenário que está aí. A proteção à Amazônia precisa estar na pauta dos candidatos, de quem vai assumir”.
“Sigo acreditando no que dizia meu pai: no começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade”, concluiu.