Um estudo recente publicado na revista científica Plos One pela Universidade Charles Sturt, na Austrália, revelou que menos de 10 minutos de exposição ao TikTok podem ser suficientes para que mulheres experimentem alguma forma de distorção corporal. Este dado alarmante traz à tona os perigos dos conteúdos sobre emagrecimento amplamente disponíveis nas redes sociais, muitos dos quais carecem de respaldo médico e não são adequadamente filtrados pelo TikTok.
Com uma crescente porcentagem da população brasileira buscando perder peso, a facilidade com que informações errôneas sobre dietas e exercícios são disseminadas na internet pode ter impactos graves na saúde física e mental dos usuários, especialmente entre as mulheres. A exposição a esses conteúdos pode gerar uma relação prejudicial com o corpo e a alimentação, exacerbando a pressão para alcançar padrões estéticos irreais e comprometendo o bem-estar psicológico.
Para abordar os perigos associados à distorção corporal provocados por conteúdos compartilhados nas redes sociais sem respaldo médico, AnaMaria conversou com a psicóloga clínica Andrezza Fontes, pós-graduada em Gestão de pessoas pela UMESP e pós-graduanda em Neuropsicologia pela USCS, e a nutricionista Andrea Ferrara, pós-graduada em Fisiologia do Exercício pela UNIFESP e pós- graduada em Nutrição Hospitalar em Pediatria pelo Hospital das Clínicas da FMUSP.
Riscos de seguir dietas e conselhos de emagrecimento encontrados nas redes sociais
Seguir dietas e conselhos de emagrecimento encontrados nas redes sociais, como o TikTok, pode ser extremamente arriscado. Conforme explicado pela nutricionista Andrea, o único profissional qualificado para preparar e conduzir planos alimentares é o nutricionista. “Quando as pessoas seguem orientações de desconhecidos na internet, elas correm o risco de adotar práticas baseadas em experiências pessoais, que podem não ser adequadas ou seguras para outras pessoas”, explica a especialista.
Dietas milagrosas ou métodos de emagrecimento que prometem resultados rápidos muitas vezes ignoram fatores individuais como condições de saúde, crenças e necessidades nutricionais específicas. Além disso, essas abordagens podem provocar deficiências nutricionais, problemas metabólicos, problemas de distorção corporal e até distúrbios alimentares, comprometendo seriamente a saúde a longo prazo.
Ferrara destaca que o foco deve estar em mudanças sustentáveis de hábitos e estilo de vida, sempre com orientação de um profissional qualificado, para garantir a segurança e eficácia do processo de emagrecimento.
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Redes sociais x relação das mulheres com a comida e saúde a longo prazo
A pressão por emagrecimento rápido, amplificada pela influência das redes sociais, pode ter um impacto profundo e duradouro na relação das mulheres com a comida e na sua saúde mental e física. Segundo Andrea, muitas mulheres acabam acreditando que os resultados milagrosos exibidos nas redes sociais são acessíveis a todos, o que pode levar a expectativas irreais e frustrantes.
De acordo com ela, essa busca incessante por resultados imediatos pode desencadear ou agravar quadros de ansiedade, especialmente quando os objetivos não são alcançados, gerando um ciclo vicioso de frustração e consumo exagerado de alimentos, muitas vezes industrializados e vendidos como “fit”. Além disso, dietas extremamente restritivas, frequentemente promovidas nas redes sociais, tendem a resultar em episódios de compulsão alimentar, prejudicando ainda mais a relação com a comida e a saúde a longo prazo.
Para um corpo saudável e equilibrado, é essencial seguir orientações nutricionais individualizadas, que respeitem as necessidades específicas de cada pessoa ao longo de sua vida. “Existem inúmeras estratégias nutricionais, as quais devem ser avaliadas, individualizadas e utilizadas em diferentes momentos da vida”, finaliza Andrea Ferrara.
Impactos do consumo de conteúdo relacionado ao corpo ideal na saúde mental das mulheres
O consumo excessivo de conteúdo relacionado ao corpo ideal e ao emagrecimento, especialmente em plataformas como o TikTok, pode ter um impacto significativo na saúde mental das mulheres, particularmente nas jovens. A psicóloga clínica Andrezza Fontes explica que vivemos em uma era de imediatismo, onde a tecnologia nos expõe a uma quantidade enorme de informações em segundos, criando uma pressão para alcançar resultados rápidos em todas as áreas da vida, inclusive na busca por um corpo perfeito.
“Essa exposição contínua a imagens e mensagens que promovem padrões de beleza muitas vezes inatingíveis pode intensificar sentimentos de inadequação, baixa autoestima e insegurança corporal. Além disso, a constante comparação com essas imagens, que são frequentemente filtradas, editadas e não refletem a realidade, pode distorcer a percepção das jovens sobre seus próprios corpos, aumentando o risco de transtornos psicológicos, como transtornos alimentares, ansiedade, depressão e distúrbio de imagem corporal”, explica a profissional.
O resultado disso tudo é uma pressão ainda maior sobre essas jovens para que se adequem a padrões irreais, o que pode agravar problemas de saúde mental e de distorção corporal e impactar negativamente sua qualidade de vida a longo prazo.
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Como as mulheres podem proteger sua saúde mental ao utilizar redes sociais?
Para proteger a saúde mental ao utilizar redes sociais, especialmente diante da constante comparação e dos efeitos negativos da distorção corporal, as mulheres podem adotar algumas estratégias eficazes. Primeiramente, Andrezza destaca que é essencial desenvolver uma consciência crítica sobre o conteúdo consumido, reconhecendo que muitas imagens e vídeos nas redes sociais são editados e não representam a realidade.
“Além disso, praticar o autocuidado digital, limitando o tempo de uso das plataformas e selecionando cuidadosamente o tipo de conteúdo e as contas que seguem, pode reduzir a exposição a mensagens negativas”, explica a psicóloga. A especialista acrescenta que é igualmente importante cultivar uma visão positiva e realista do próprio corpo, focando no bem-estar geral em vez de padrões estéticos específicos.
“Buscar apoio psicológico, como terapia, pode ser crucial para aprender a lidar com a comparação social e desenvolver uma autoestima saudável. Praticar a gratidão, concentrando-se em qualidades pessoais e realizações, e manter uma rede de apoio social com vínculos genuínos que valorizem aspectos mais profundos do que apenas a aparência física, são estratégias poderosas para proteger a saúde mental no ambiente digital”, finaliza Andrezza Fontes.
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