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Aborto espontâneo: por que ninguém fala sobre isso?

Aborto espontâneo: apesar de ser comum de acontecer, pouco se fala sobre o assunto. E isso faz com que a gente se sinta perdida. Veja esse relato!

por Lígia Menezes

Publicado em 20/09/2024, às 09h00

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Freepik
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Tive dois abortos espontâneos. O primeiro foi antes de ter meu filho. Engravidei e, com 7 semanas, perdi. O segundo foi após ter meu filho (ele tinha 1 ano e 11 meses). Perdi com 8 semanas.

Apesar de ser tão comum isso acontecer, ou seja, 25% das gestações acabam em aborto espontâneo, pouco se fala sobre o assunto. E isso tudo faz com que a gente se sinta perdida, cheia de dúvidas e muito mal.

Por que existe esse tabu? Ou será que não falamos sobre isso porque é doído e nos sentimos culpadas e envergonhadas?

Sim, senti tudo isso também e, agora, vou dar o meu relato. Quem sabe ele ajuda alguma mulher que está passando por isso, né?

No meu primeiro aborto fiquei bem chateada, eu tinha criado muitas expectativas com a nova (e primeira) gravidez. Contei para amigos mais próximos, familiares...

E de uma hora para outra, vi tudo desabar. Simplesmente comecei a ter cólicas e um pequeno sangramento. Após dois dias, o sangramento aumentou muito, como uma menstruação mesmo. Repeti o Beta HCG e tinha caído absurdamente a taxa hormonal: era a confirmação de que a gravidez não tinha vingado e o corpo iria expelir. Não cheguei a fazer nenhum ultrassom antes disso.

Demorou 7 dias para o corpo expelir. Fiquei na espera, pois não quis fazer curetagem (a curetagem faria com que eu tivesse que esperar uns 3 meses para engravidar novamente. E se o corpo expelisse de maneira natural, no próximo ciclo eu já poderia engravidar).

Durante esses setes dias vivi meu luto, fiquei muito triste, chorei muito, me perguntei "por que comigo". Eu era professora de yoga, vegetariana, vivia de forma saudável, corria... Não entendi como meu corpo não tinha conseguido manter a gestação.

Depois fui aceitando, pensando que eu simplesmente tinha caído na estatística...

Tive orientação da minha médica para esperar os o corpo expelir naturalmente (às vezes demora até 30 dias).

No dia que o corpo expeliu meu bebê senti fortes dores. Minha médica disse que eram contrações. Foi muito, muito forte, como um parto (só que mais leves). Passei a madrugada inteira com essas contrações.

Depois fiz um ultrassom e confirmamos que meu corpo já havia expelido tudo (algumas vezes, é preciso fazer curetagem depois, pois ficam partes ainda do feto, saco gestacional, placenta. Graça a Deus, não precisei).

Nos dias que se passaram, eu já estava melhor, mas ainda sentia um vazio dentro de mim.

E, no mês seguinte, eu estava grávida novamente.

Passei a gestação toda muito feliz, mas com muito medo de perder. Apenas após o quarto mês, me senti um pouco mais segura. Mas sempre que ia ao banheiro, olhava com frio na barriga com medo de ter sangue... duro isso, né? Foi realmente um trauma!

Meu filho nasceu de parto natural, tive uma gestação muito saudável, sem nenhuma intercorrência. Ou seja, meu corpo conseguia gerar uma criança, sim. Eu não precisava mais duvidar de mim nem me culpar.

Quando ele ia fazer 2 anos, eu engravidei novamente. Dessa vez, não tinha sido tão planejado, mas fiquei em êxtase com a ideia de ser mãe de segunda viagem. rs

Não fiz Beta HCG, queria esperar mais, não criar muitas esperanças, pois tinha medo de perder. Também não contei a ninguém sobre a gestação, apenas para meu marido, claro.

aborto espontâneo

E aconteceu o que eu temia... de novo comigo...

O processo de aborto foi o mesmo, começou com um sangramento mais leve, depois intensificou, depois o corpo expeliu com contrações fortíssimas, só que dessa vez, foi bem mais rápido, não fiquei a noite toda com dor, foram algumas horas apenas (já era meu terceiro "parto", né?)

Fiquei arrasada, bem pior do que a primeira vez. Acho que porque eu já sabia como era ser mãe, já conhecia essa aventura e esse amor arrebatador, e assim, a perda me "bateu" bem mais. Passei quase 2 meses bem mal, em luto, chorando.

Até que, por sugestão de minha terapeuta, escrevi uma carta para meu filho que se foi com apenas 8 semanas de existência. (Essa carta está publicada em meu livro, Mãe de Primeira Viagem). E isso me fez melhorar, olhar para trás com carinho, falar do assunto sem ressentimentos.

Contei para algumas pessoas sobre a experiência e até já fui procurada por algumas que passaram por isso após eu ter passado, pediram conselhos, palavras amigas. Eu não tive esse apoio e, hoje, faço questão de dar esse apoio a pessoas queridas.

Quando ninguém fala sobre o assunto, fica muito mais difícil passar por isso, você não acha? Então, me conta: você já passou por algo parecido? Como lidou com a situação?

Eu sou Lígia Menezes, editora do Site Revista AnaMaria e mãe de um menininho de 3 anos, sou autora de livros infantis e de um livro sobre puerpério para mães! Até a próxima, tchau!

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Lígia Menezes (@ligiagmenezes) é jornalista, empresária e mãe. Autora dos livros sobre maternidade Mãe de Primeira Viagem e Wonderfull Two; e de duas obras infantis, Por que sou vegetariano, mamãe? e Adeus, meu amigo! Uma breve despedida. Em AnaMaria, é gestora e editora de conteúdos.