Mau hálito: entenda o que está por trás desta queixa tão frequente entre adultos
Olá! O tema desta semana é mau hálito, chamada de halitose na terminologia médica. Trata-se de uma queixa muito frequente entre adultos, sejam homens ou mulheres, e com múltiplas causas. A simples presença de mau hálito, apesar de não ter grandes repercussões clínicas, pode, na maioria das vezes, provocar sérios prejuízos psicossociais.
Os mais comumente relatados são a insegurança ao se aproximar das pessoas, a depressão, dificuldade em estabelecer relações amorosas, resistência ao sorriso, ansiedade, e baixo desempenho profissional, especialmente quando o contato com outras pessoas é necessário. Além disso, a presença da halitose pode indicar a existência de doenças que requerem diagnóstico e tratamento o mais rápido possível.Então, como sempre, vamos por etapas!
Na Halitose ocorre uma liberação de odores desagradáveis pela boca ou por outras cavidades, como nariz, seios paranasais e faringe. O termo halitose vem do latim halitus (ar expirado) acrescido do sufixo osis (alteração patológica). Apesar disso, pode ou não ser uma condição patológica.
A principal causa é a decomposição de alimentos por bactérias na boca, que é a causa em 80 a 90% dos casos. O odor desagradável está, na maioria das vezes, relacionado com a presença de compostos sulfurados voláteis (CSV), provenientes da ação de enzimas proteolíticas de bactérias anaeróbicas presentes na boca. Os principais CSV envolvidos no processo são: sulfeto de hidrogênio (H2S), metil mercaptana (CH3SH) e dimetil sulfeto (CH3)2S.
Mas a halitose nÃO decorre apenas de problemas na boca. Existem várias outras origens de halitose, tais como sinusites, amigdalites, alterações gastrointestinais, comprometimento da função hepática, renal, alterações endócrinas e uso de alguns medicamentos.
Sim! A halitose matinal é fisiologica, ou seja, normal no nosso corpo. Ela ocorre devido a uma redução do fluxo salivar durante o sono, pela discreta hipoglicemia e aumento da flora bacteriana bucal. Esta halitose matinal, no entanto, deve desaparecer após a higiene dos dentes (com fio dental e escova), da língua e após a primeira refeição da manhã. O mau cheiro temporário causado por algum componente específico da dieta como álcool, cebola e alho é facilmente controlado com orientações gerais e higiene oral convencional.
A diferença para o halitose patológica é a duração, intensidade e persistência da mesma após a higiene bucal. Nestes casos o mau halitose é intenso. É dividido em:
1. halitose verdadeira: existe um mau cheiro objetivo.
2. Pseudo- halitose: o mau cheiro não é percebido pelos demais, apesar de o paciente referir sua existência
3. halitofobia: existe uma preocupação e um medo exagerado em relação à presença da halitose, com alterações comportamentais importantes. Estes quadros necessitam não só de tratamento médico voltado para as causas orgânicas de halitose, mas de apoio psicológico e eventual acompanhamento psiquiátrico.
Atualmente, são movimentados milhares de dólares por ano no comércio de pastas dentais, enxágües bucais, máscaras e outros produtos desenvolvidos para combater o mau hálito.
Na maioria das vezes, sim. A boca pode ter problemas como: gengivites, cáries, placa bacteriana - justamente as principais causas.
A retração da gengiva causa “ armadilhas” onde o alimento fica preso. Neste cenário, há uma inflamação que muitas vezes se manifesta como sangramento gengival. Isto causa proliferação de bactérias que geram mau hálito.
Problemas na língua ( glossites) e saburra lingual, aquela camada esbranquiçada na parte de trás da região, também causam halitose. A saburra é muito frequente e decorre de alterações de saliva, descamação da mucosa bucal e proliferação de bactérias. Por isso, se relaciona a halitose.
Outros problemas, como amigdalite caseosa, com presença de caseo ou restos alimentares na amígdala, são causadores frequentes de mau hálito.
Também está relacionada a halitose, especialmente o baixo fluxo de saliva. Isto pode ocorrer por conta de doenças reumatológicas ou por desidratação e baixa ingestão de água.
A saliva é fundamental para manter a mucosa umidificada, manter o ph da boca adequado o que dificulta o crescimento de bactérias odoríferas. Assim, beber água é bem importante! Mas a presença de baixo fluxo salivar deve ser investigado, mesmo sem a presença de “boca seca”.
As causas sistêmicas envolvem alterações gastrointestinais, pulmonares, alimentares, sinusites, medicamentos entre outros. Entre os mais frequentes estão o refluxo e a gastrite.
No refluxo pode ocorrer retorno de aromas desagradáveis provenientes da digestão dos alimentos. Na gastrite a presença de algumas bactérias no estômago pode gerar mau hálito.
Alguns alimentos como álcool, alho, cebola e condimentos são metabolizados pelo corpo e liberados na expiração do ar causando mau odor.
No nariz, a rinite e sinusite causam alterações na respiração pelo nariz, ressecando a boca e favorecendo o mau hálito.
Muitas pessoas com halitose já trataram as causas mais óbvias - que são os problemas dentários -, além de terem uma higiene bucal impecável. Se não o fizeram, esta é a primeira medida.
Caso o sintoma se mantenha, como expliquei acima, há uma série de problemas que devem ser investigados. Do nariz ao estômago, existem exames que devem ser feitos para descartar ou tratar problemas nestes órgãos.
Outra informação importante é que já dispomos de exames específicos para quantificar o fluxo salivar e a produção de odores por bactérias na boca. Assim, caso detectado ,há formas de tratamento voltados para isso.
Portanto, para as pessoas com halitose que andam perdidas por aí, vale procurar seu médico!
*DRA. MAURA NEVES é formada na Medicina pela Faculdade de Medicina da USP. Residência em Otorrinolaringologia pelo HC- FMUSP. Fellow em Cirurgia Endoscópica pelo HC- FMUSP. Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP. Médica Assistente do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo -SP. Aqui na Revista AnaMaria, trará quinzenalmente um conteúdo novo sobre a saúde do ouvido, nariz e garganta. Instagram: @dra.mauraneves