A solidão na velhice é um problema comum que afeta milhões de idosos em todo o mundo. No Brasil, o cenário não é diferente: muitos enfrentam a perda de familiares e amigos, além de desafios como dificuldades de mobilidade e o uso de tecnologias, que podem agravar o isolamento social.
Segundo pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia de São Paulo (SBGG-SP), em parceria com a Bayer, o maior medo do idoso brasileiro é a solidão. Já de acordo com o Instituto Ipsos, metade da população do país sente solidão e melancolia com frequência, contribuindo para o o desenvolvimento de doenças como depressão e ansiedade.
Ou seja: o problema da solidão na velhice é grave e deve ser debatido. Sobretudo considerando o tamanho da populaçaõ de idosos no país: segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 33 milhões de pessoas (15,6% da população brasileira).
As causas e consequências da solidão na velhice
A solidão nessa fase da vida pode ter várias causas, mas algumas se destacam:
- Perda de entes queridos;
- Redução da rede de apoio social;
- Diminuição da autonomia física.
Por fim, aquilo que era para aproximar, acaba distanciando. É o caso das redes sociais. Para o psicólogo Marcos Lacerda, autor do livro ‘Entrevista com a solidão‘, a era digital ajuda a criar uma sensação de conexão superficial, intensificando o sentimento de isolamento.
Um dia ao lado dos netos torna-se uma chamada de vídeo. A frequente visita dos filhos dá lugar à troca de mensagens no WhatsApp. Para a geração mais velha, acostumada com o famoso olho no olho, essas interações online não substituem em nada o presencial — mas podem complementá-lo.
Para muitos idosos, a falta de contato diário com outras pessoas torna-se um ciclo difícil de romper: a falta de interação social causa tristeza, e essa tristeza pode afastar ainda mais as oportunidades de convivência. Assim, o isolamento e sensação de abandono geradas trazem diversas consequências.
Além de afetar o bem-estar emocional, a solidão na velhice também pode desencadear problemas físicos. E a solidão prolongada está associada ao aumento de doenças como a hipertensão e a diabetes, além de agravar quadros de depressão e ansiedade.
Como lidar com a solidão na velhice?
Para o psicólogo e especialista em relacionamentos, uma das saídas é transformar o medo do isolamento em uma oportunidade de crescimento pessoal. No livro, Lacerda argumenta que a solitude – o prazer de estar consigo mesmo, pode ser uma forma saudável de encarar a vida na terceira idade.
“A solitude, muitas vezes confundida com a solidão, aparece como um antídoto importante para o excesso de estímulos e emoções que vivemos hoje. Quando nos distanciamos das opiniões e expectativas externas, temos a oportunidade de nos reconectar com nossos desejos, valores e sonhos”, explica Lacerda.
Para ele, é preciso focar em interações humanas genuínas e de qualidade, ao invés de buscar validação por interação nas redes. “Somos, por natureza, seres sociais. Com isso, perder conexões significativas pode comprometer nossa saúde, bem-estar e até mesmo nossa identidade”, acrescenta.
Dicas para enfrentar a solidão na velhice
Para enfrentar com a solidão na velhice, é importante buscar estratégias que promovam a interação social e o bem-estar emocional. Ao contrário das interações superficiais, as amizades profundas e os relacionamentos familiares próximos podem combatê-la. Algumas medidas que podem ajudar:
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Fortalecer laços familiares e comunitários: manter o contato com familiares e amigos, mesmo que virtualmente, é essencial para evitar o isolamento. Muitas cidades oferecem programas comunitários voltados para a inclusão dos idosos em atividades culturais e sociais.
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Adaptar-se à tecnologia: com o avanço das ferramentas digitais, muitos idosos encontram dificuldades em utilizá-las. Ensinar o uso dos dispositivos, redes sociais e aplicativos de comunicação pode ser uma forma de incluí-los em um novo universo de interação social.
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Buscar atividades de lazer: participar de grupos de convivência, aulas de dança, coral ou até mesmo atividades físicas ajuda os idosos a manterem-se ativos e conectados com outras pessoas. As atividades estimulam o corpo e a mente, promovendo o bem-estar e a autoestima.
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Transformar a solidão em solitude: o conceito de solitude, discutido por Marcos Lacerda, sugere que aprender a desfrutar da própria companhia pode ser uma ferramenta poderosa contra o isolamento. Exercícios de meditação e autorreflexão, como listar sentimentos e refletir sobre as amizades ao longo da vida, podem ajudar a lidar positivamente com o tempo sozinho.
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Apoio psicológico: profissionais de saúde mental podem ser essenciais para aqueles que enfrentam dificuldades emocionais mais profundas. Terapias voltadas para o público idoso ajudam a trabalhar medos e inseguranças, proporcionando um espaço seguro para a expressão de sentimentos.
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Novos hobbies e: envolver-se em novas atividades pode trazer um propósito renovado à vida. Aulas de artesanato, cursos de idiomas e oficinas de culinária, por exemplo, além de desenvolver habilidades, proporcionam interação com outras pessoas e preenchem a rotina.
“Ao encarar o vazio interior sem medo das dores que ele provoca, muitos acabam descobrindo mais “sobre si mesmos e sobre o que realmente importa na existência. Afinal, não precisar da presença do outro para validar meus momentos de felicidade não é egoísmo, é autoconhecimento”, finaliza Marcos Lacerda.
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