Tania Khalill encarou a chegada aos 40 anos como um despertar - Instagram / @taniakhalill
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Atriz Tania Khalill fala sobre projeto dedicado a mulheres de meia-idade: ‘‘Novas escolhas’’

Tania Khalill chegou aos 40 anos com muita energia

Karla Precioso Publicado em 11/02/2023, às 08h00

Tania Khalill encarou a chegada aos 40 como um despertar. Atriz e criadora do projeto infantil Grandes Pequeninos — idealizado em parceria com o marido, o músico Jair Oliveira —, ela sempre se sentiu realizada na profissão e com a maternidade. Porém, ao completar 44 anos mais precisamente, entrou em uma reflexão profunda a respeito de como gostaria de seguir nos anos que viriam pela frente. “De repente, vi a minha filha com 10 anos e parei para pensar sobre o quanto eu tinha dedicado o meu tempo para o meu trabalho. Isso me fez questionar a mim mesma se era dessa maneira, exaurida e correndo sempre, que eu queria viver o resto do meu tempo.” 

É isso: o avançar da idade foi uma virada de chave, a oportunidade de transformar a vida. “Esta fase me trouxe a liberdade de fazer as próprias escolhas, sem a pressão de seguir visões arquetípicas e ancestrais que ditam o sentido da feminilidade.” Na contramão de uma sociedade que costuma ditar a jovialidade como sinônimo de beleza feminina, Tania é a comprovação de que é possível, sim, encontrar na maturidade o caminho para se reinventar. E foi assim que a também psicóloga idealizou outro projeto, intitulado Meu Tempo. Por meio dele, ela se conecta com tantas mulheres que desejam o mesmo: se ressignificar.

“Muitas encontram dificuldade, já que metade da vida almejaram aspectos que já não fazem mais sentido. E a iniciativa tem como objetivo ajudá-las a transformar suas trajetórias” — feito esse que a artista tem alcançado com maestria!

Confira a entrevista completa:

Você enxergou a chegada aos 40 anos como um novo despertar?

Acho que esse autoestudo, a necessidade e interesse por uma conexão e uma vida mais integrada é algo que já vinha antes, mas, quando cheguei aos 40, tive uma sensação de clique, de tempo já percorrido e de como eu quero percorrer o tempo daqui para frente. Foi um marco. Então, posso dizer que encarei, sim, como um despertar.

O que pretende viver daqui para frente?

Sei o que quero, o que valorizo mais do que nunca, como a harmonia e a calma Ω calma para a idade tem o significado de com alma, de deixar de só correr para chegar. Essa jornada do trajeto do tempo começou a ter uma outra dimensão, e a calma faz parte desse novo olhar, com alma, com mais calma, sem desespero, com o distanciamento das emoções turbulentas, que são características da juventude. A morosidade, compaixão, calma e emoções elevadas é o que pretendo vivenciar daqui para frente.

O que a maturidade lhe trouxe de positivo e de negativo?

Todo esse olhar de ver que a gente está muito inserida em uma época em que o fazer acontecer é muito valorizado, a gente vai se esquecendo de algumas coisas mais essenciais, como o que realmente é valioso: a família, a saúde, os olhares verdadeiros e as conexões. Por mais que haja menos tempo, isso é um ganho muito grande na maturidade. De negativo, também tem alguns pontos, mas a gente aprende a transformar, botar na balança e valorizar o que tem de bom, porque não há como ir contra as rugas, a vitalidade um pouco diferenciada, o corpo que não é o mesmo, a mente que não tem mais a mesma agilidade… Precisamos aprender a dosar, a usar o que se tem da melhor maneira e ser mais produtivo. A parte matéria vai ficando mais para o negativo, mas a parte etérea, emocional, vai ganhando um espaço. E isso é incrível!

Você sentiu a ‘pressão’ da sociedade com o avançar do tempo?

O espaço para mulheres maduras é muito mais diminuído. É fácil falar ‘é velha, está caída, como envelheceu’... O espaço como atriz diminui, apesar de estar mudando muito. Mas, morando nos Estados Unidos, vejo a imensidão de personagens, nesses últimos três anos, que surgiram para mulheres maduras serem protagonistas de séries, indicadas a premiações importantes. Ainda não nos foi dado o mesmo espaço de quando tínhamos 20, 30 anos, mas isso está se transformando. Não é porque estamos amadurecendo que a gente fica menos interessante, pelo contrário. Infelizmente, envelhecer, amadurecer, acaba sendo ainda por vezes pejorativo.

Com a chegada da quarta ou quinta década, muitas mulheres não se identificam com o rótulo social de “mulheres de meia-idade”. Você encontrou na maturidade o caminho para se reinventar?

Considerando as pesquisas, o quanto tempo de vida se tem em média, é fato que é a metade da vida, mas a maturidade traz esse novo olhar, uma reavaliação do que se viveu até então e do que eu quero viver daqui para a frente. Existe a grande oportunidade de reinvenção. Como psicóloga, tenho estudado muito a respeito. E vem a indagação: por que as transformações precisam ser doloridas? Não podemos encontrar ferramentas divertidas para sair da mesmice, da estagnação, do medo da transformação? A maturidade é um grito para essa transformação, uma grande oportunidade de trazer novos planos e horizontes, de se conectar com o agora e ver se esse agora é o que eu tanto corri para chegar, se é assim que eu quero viver. É muito propício essa transição hormonal da meia-idade para se avaliar e reinventar.

Você sempre se sentiu realizada na profissão de atriz e com a maternidade. Qual foi o ‘estopim’ para querer mudar o estilo de vida?

Sim, sempre me senti realizada, por isso quero ampliar essa possibilidade de trazer a arte como ferramenta de cura. Quando o ator está em cena, existe a capacidade de estar com presença no agora, de emanar brilho, de olhar para dentro da gente e fazer escolhas de como aquele personagem se comporta, e isso é uma grande chave para a nossa vida cotidiana também. A virada foi realmente quando entrei nos 40 anos. Lembro da cena de olhar para a Isabela, minha filha mais velha, com 10 anos na época, e refletir: eu só trabalhei até aqui. Daqui a pouco, ela fará 18 anos, vai para o mundo. Será que é assim que quero continuar vivendo? Ou seja, correndo, vendo a vida escorrer pelos meus dedos? Percebo agora a necessidade de termos uma ‘licença-maternidade’ para cuidar da gente mesma. Quando nos cuidamos primeiro, cuidamos muito melhor de quem está à nossa volta.

Fale sobre o projeto Meu Tempo.

O projeto é para que a gente olhe para o tempo que temos e possamos fazer novas escolhas. Eu e a pesquisadora Cínthia D’Auria conversamos com mulheres de vários tipos, classes sociais, entre 40 e 49 anos, casadas, separadas, mães, não mães também... Constatamos como elas são carregadas de questionamentos, de reavaliação do que se viveu até agora, e do que querem viver daqui para frente. Muitas se interessam em se redesenhar no sentido de ensaiarem o seu melhor para o que vem pela frente, com outro tempo, outra qualidade de vida e dinâmica de jornada. Não há um desejo de repetir o que se teve até agora. Há uma vontade grande de se ressignificar, de olhar para si e para as coisas de uma nova maneira.

O projeto também traz um olhar sobre as mulheres serem protagonistas das próprias histórias. Qual a importância de trazer essas pautas sob a ótica feminina?

A gente veio de uma geração que tem que ser boa profissional, boa mãe, boa companhia... Corremos tanto que acabamos nos desconectando da gente. Hoje em dia, a pessoa trabalha, trabalha, trabalha, ganha muito dinheiro quando dá certo, e acaba infeliz, amargurada, não consegue desfrutar do que tanto investiu. O universo feminino está exausto. A importância de trazer essas pautas sob a ótica feminina é despertar a coragem nessas mulheres de transformar, criar possibilidades para os nossos horizontes.

Seu processo de se reinventar veio acompanhado de algum tipo de culpa ou vontade de ter feito algo diferente antes?

Eu não me arrependo de nada do que fiz, pois tudo me trouxe até aqui, para que eu pudesse me reinventar, e não me deixar no passado.

Para você, o que significa beleza e autocuidado? Acredita que esses conceitos mudam ao longo da vida?

Trabalho nessa indústria em que o ego e a beleza são muito valorizados, mas vejo que isso está sendo transformado. Se a gente pegar a indústria há anos, era uma indústria da magreza, do tamanho PP, e isso já não é igual, sinto uma amplitude. Assim como o espaço no feminino cresceu, o espaço de ser de várias maneiras se ampliou também. O autocuidado, o amor-próprio geram beleza em todos os sentidos. Quando a gente está conectada com a gente mesma, temos uma luz diferente. O bem-estar e o autocuidado são imprescindíveis para que a gente fique bela para brilhar e ocupar o nosso palco da vida com potência, sendo protagonista das nossas histórias, escrevendo o roteiro do que a gente quer viver.

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