Mulheres nas Olimpíadas competiram em mesmo número que atletas masculinos - Reprodução │Redes sociais
Paris 2024

O que a participação feminina nas Olimpíadas diz sobre equidade no esporte?

Pela primeira vez nos jogos olímpicos, mulheres e homens competiram em números iguais; entenda o que representa a participação feminina nas Olimpíadas

Jéssica Batista Publicado em 06/08/2024, às 19h00

Paris 2024 foi um marco em diferentes aspectos. O Comitê Organizador aderiu a diversas iniciativas para tornar as Olimpíadas da capital francesa a mais sustentável da história, com foco na responsabilidade ambiental, social e econômica. Outro ponto marcante do evento é em relação à participação das mulheres nas Olimpíadas: pela primeira vez mulheres e homens competem em números iguais em todas as 32 modalidades esportivas, com 5.250 representantes de cada gênero. 

Esses números refletem um importante e significativo progresso na luta pela igualdade, especialmente nos esportes, uma área que sempre foi vista como predominantemente masculina e machista. Mas será que podemos nos manter otimistas em relação à equidade de gênero nos esportes?

De acordo com Mayra Cardozo, mentora de mulheres e advogada, especialista em gênero e sócia do escritório Martins Cardozo Advogados Associados, este cenário, a princípio otimista, ainda esconde desafios relacionados à equidade e inclusão de gênero

Prova disso é o recente caso da nadadora brasileira Ana Carolina Vieira, que foi expulsa da delegação dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 após sair da Vila Olímpica sem autorização, acompanhada de Gabriel Santos, também da equipe de natação do Brasil; Santos, por sua vez, foi apenas advertido a não repetir o ato e não competiu nestas Olimpíadas.

O impacto das mulheres nas Olimpíadas 2024

A igualdade numérica entre homens e mulheres nas Olimpíadas de Paris simboliza um avanço em relação à visibilidade e representação das mulheres nos esportes. Essa paridade desafia os estereótipos de gênero, mostrando que elas podem atingir alto desempenho em esportes que muitas vezes são vistos como masculinos, como futebol e boxe, e homens em modalidades vistas como femininas, como ginástica artística.

Beatriz Ferreira│O que a participação feminina nas Olimpíadas diz sobre equidade no esporte?

 

“Essa mudança de percepção ajuda a quebrar barreiras culturais e sociais, promovendo a igualdade de oportunidades e respeito. Além disso, incentiva políticas esportivas mais inclusivas e investimentos equilibrados, embora seja essencial garantir que as atletas recebam o mesmo respeito, reconhecimento e patrocínio que os homens”, analisa Mayra. 

Igualdade numérica vs igualdade de oportunidades

O cenário, sem dúvidas, é otimista. Porém, ainda precisamos superar diversas barreiras sociais e desafios legais, para transformar a igualdade numérica em oportunidades e tratamentos iguais para homens e mulheres no esporte.

Uma das principais medidas que podem garantir mais paridade para mulheres nos esportes é a igualdade de salários e patrocínios, já que mulheres com carreiras esportivas ainda ganham menos que os atletas masculinos. 

“Precisamos de leis que garantam igualdade salarial, prêmios iguais e acesso equitativo a recursos e infraestrutura para atletas de ambos os gêneros”, explica Mayra.

A especialista destaca que é essencial combater o assédio e abuso contra atletas com políticas fortes de proteção e de tolerância zero: “Devemos investir igualmente em infraestrutura e recursos para todos, promover a presença de mulheres em cargos de liderança no esporte, desafiar estereótipos de gênero com programas educacionais, e oferecer suporte para a carreira das atletas após a aposentadoria”.

É fundamental criar e aplicar leis que promovam a igualdade de gênero no esporte e garantir a segurança das atletas para realmente criar um ambiente justo e seguro para todos os atletas. Outro ponto que merece atenção diz respeito à cobertura da mídia para os esportes femininos, que deve ter o mesmo espaço jornalístico que os esportes masculinos. 

Inspirando outras mulheres

“A igualdade de gênero nas Olimpíadas pode mudar muito como as pessoas veem e vivenciam o esporte feminino. Quando as mulheres têm a mesma visibilidade e oportunidades que os homens, isso quebra estereótipos e mostra que elas são tão talentosas e dignas de reconhecimento quanto os homens em todas as modalidades”, reforça a especialista. 

A participação feminina nas Olimpíadas 2024 não só inspirou meninas a se interessarem mais pelo esporte, mas também ofereceu exemplos positivos, rompendo com a ideia de que algumas atividades são mais masculinas e outras mais femininas. 

Larissa Pimenta│O que a participação feminina nas Olimpíadas diz sobre equidade no esporte?

 

Essa igualdade pode influenciar políticas esportivas ao redor do mundo, levando a investimentos mais justos e a uma cultura esportiva mais inclusiva e respeitosa, onde o talento e o mérito são valorizados, independentemente do gênero.

Podemos nos manter otimistas? 

Paris 2024 foi um marco para o esporte brasileiro, em especial, para as mulheres: das 13 medalhas olímpicas recebidas por atletas brasileiros até a publicação deste artigo, 9 foram conquistadas por mulheres.

Nomes como Rebeca Andrade, na ginástica artística, Beatriz Souza, no judô, Rayssa Leal, no skate street e Tatiana Weston-Webb, no surfe, estiveram em alta, marcaram a história do esporte e inspiraram meninas brasileiras — e continuarão inspirando por muitas gerações. Os números refletem o esforço dobrado de esportistas que precisam lidar com a disparidade em oportunidade no setor. 

Não há dúvidas de que a igualdade numérica foi positiva e deve servir como modelo para outros eventos esportivos globais futuros, como os jogos Pan-Americanos e competições mundiais. Para replicar esse sucesso, é fundamental implementar políticas públicas que promovam a igualdade de gênero em todas as modalidades esportivas, incluindo leis que garantam a paridade na participação e representação. 

Além disso, é preciso estabelecer normas de compliance esportivo que assegurem a igualdade salarial, prêmios justos e condições de treinamento iguais para todos os atletas. Também é importante criar mecanismos de fiscalização e monitoramento para garantir que essas políticas sejam efetivamente implementadas e respeitadas.

“Incentivos fiscais e financeiros para empresas que patrocinarem atletas femininas, estimulando o apoio corporativo ao esporte feminino podem ser implementados, pensando em fomentar a presença feminina nesse setor”, diz Mayra.

Instituições esportivas também podem ser obrigadas a adotar práticas que assegurem a paridade de gênero, com mecanismos rigorosos para monitorar e garantir a conformidade. “A promoção de campanhas educativas e programas de apoio à carreira pós-atleta para mulheres também pode ser incentivada, contribuindo para uma cultura esportiva mais inclusiva e equitativa”, finaliza a especialista. 

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