Claudia Rodrigues: - Daniel Belmiro

Claudia Rodrigues: "Agora tudo está mais belo para mim!"

Como vive Claudia Rodrigues após anos de luta contra a esclerose

Ana Bardella Publicado em 17/06/2016, às 16h55 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h44

Claudia Rodrigues não consegue passar pelas telinhas sem despertar nos telespectadores fortes emoções. Primeiro, arrancou
gargalhadas do público com suas personagens de humor Talia e Ofélia, do Zorra Total. Chamou tanta atenção que acabou
protagonizando o seriado A Diarista, no qual interpretava a atrapalhada Marinete. Depois, em meados de 2006, chocou os fãs ao revelar que estava sofrendo com esclerose múltipla – uma doença autoimune que, entre outras consequências, prejudica o funcionamento do sistema nervoso. E hoje, aos 44 anos, emociona por sua trajetória de coragem e superação: em busca da cura,
Claudinha se submeteu a um transplante de medula óssea há quatro meses. O procedimento é considerado de risco, mas tem
trazido melhoras significativas para sua saúde. Conversamos com a atriz para saber mais sobre o momento decisivo pelo qual tem passado:

Como você está hoje? Como é sua rotina?

Tudo bem, graças a Deus. Acordo mais ou menos às 7h da manhã. Vou à praia para caminhar, cheia de disposição. Quando chego de lá, vou direto para a piscina da minha casa. Depois, faço esteira e bicicleta ergométrica. Só então descanso e almoço. No período da tarde tenho tudo quanto é “pia”: terapia, fisioterapia... [risos] Minha vida é muito cheia.


Tem recebido muito apoio dos fãs?

Sim! Eles estão sempre do meu lado, me mandando e-mails e mensagens positivas. Só não posso ter contato físico ainda, infelizmente, por conta da imunidade baixa pós-transplante.


Nas suas últimas entrevistas, você falou muito sobre Deus. Tem alguma religião?

Sou católica, costumo ir à missa todo domingo. Ultimamente está mais complicado – quando vou, tenho que usar máscara.
Mas assim que minha saúde se estabilizar, eu volto. Deus pra mim é tudo. Se não fosse ele, nem estaria dando esta entrevista. Já disse antes: entreguei nas mãos dele o meu transplante. “Se o senhor me quiser, que faça de uma maneira sem dor”, pedi. Mas deu tudo certo!


Como sua filha lida com a doença?

Iza agora está com 14 anos. Quando descobri que tinha esclerose múltipla, no ano 2000, ela nem existia. Mas cresceu sabendo que eu tinha limitações para fazer certas coisas, como ficar exposta ao calor. 


Como mãe, qual foi o seu maior desafio até hoje?

O desafio era conviver com ela tendo essa debilidade, mas a Iza sempre foi muito bacana pra mim. Ela sempre me deu força e me apoiou em tudo. Me deixava feliz quando estava mal... Quando fiquei internada em São Paulo, ela me ligava todos os dias e falava pra eu ter fé que, com certeza, iria sair dessa.



Por que você relutou antes de fazer o transplante?

Quando fui ao médico, ele me alertou de que eu iria perder o cabelo. Não gostei e pensei em cancelar tudo. Além disso, eu fiquei
sabendo que tinha 3% de chances de falecer. Mas a Adriane [Bonato, amiga e empresária de Claudia], me convenceu a fazer.
Ela pediu que eu entrasse em contato com um amigo de infância dela que sofria com a mesma doença, mas ficou curado depois de fazer o transplante e me senti motivada. Também falei com o Reynaldo Gianecchini [que em 2012 passou por um transplante semelhante para enfrentar um câncer], que me incentivou a enfrentar o desafio. E valeu a pena.



Você encarou seu tratamento com positividade?

Claro, coloquei na mão de Deus, pedi que desse tudo certo. Não dá pra gente ficar se lamentando ou sofrendo o tempo todo... Meu médico até brincava comigo: “Você veio aqui para fazer o povo dar risada?” Isso porque não manifestava muitas reações à dor e, apesar de geralmente a quimioterapia ocasionar muitas reações ruins, eu quase não as tive durante o tratamento.


Por que você decidiu participar do programa Domingo Show e dividir esse momento da sua vida com o público?

Pra dizer para todos que o transplante dá certo. Sei que muita gente não pode fazer o tratamento por falta de dinheiro, mas eu tenho que ajudar. Quero fazer uma campanha para que o procedimento seja oferecido de maneira gratuita no SUS. 



A Claudia de hoje é a mesma de dez anos atrás?

Eu morri e renasci, mudei tudo. Sou outra pessoa. Sou mais calma, coisa que não era antes. Hoje consigo ouvir as outras pessoas.
Agora, pra mim, tudo está mais belo, sabia? Eu penso: “Opa, espera aí. Eu quase fui, mas estou aqui!”


Quais os seus maiores sonhos hoje?

Voltar a trabalhar! O trabalho é tudo na minha vida, sem ele eu não vivo. Criei um canal no YouTube chamado Cara a Cara com
Claudia Rodrigues [que já está no ar], no qual vou voltar a interpretar a Talia, a Sirene do Sai de Baixo, a Maria Elizabeth [sósia rica da Marinete de A Diarista], e um personagem novo chamado Sônia, uma radialista que não tem medo de soltar o verbo.
Minha filha também fará participações constantes nos vídeos. Ela faz teatro, escreve muito bem e já criou vários personagens diferentes.



“Sem trabalho, ela tentou suicídio”

Adriane Bonato, amiga de anos e empresária da atriz, falou sobre uma de suas fases mais complicadas: “Um dos sintomas da
esclerose múltipla é o cansaço extremo. Chegou uma época em que a Claudia tinha muita dificuldade para levantar da cama e fazer qualquer coisa. Ela ficava muito em casa. Com isso, entrou em depressão. Um dia, foi até o parapeito do 20º andar, onde mora, e ficou na beirada, olhando para baixo. Ligou para mim, querendo me agradecer por tudo e se despedir. Parei o que estava fazendo,
entrei no carro com minha sócia e fui falando com ela durante um bom tempo. Até que inventei que estava indo ao banco e pedi que ela continuasse falando com a minha sócia. Na verdade, estava no aeroporto. Peguei o avião de Curitiba para o Rio de Janeiro, e só me tranquilizei quando a vi. Depois, mais calma, ela concordou em seguir com o tratamento. Surgiu a possibilidade do transplante e ela topou, mesmo tendo que fazer isso em sigilo. Nem a mãe dela, Silvia Regina, sabia do procedimento. É que a
Claudia ficou com medo de que a mãe, por já estar com 87 anos, pudesse ter algum problema de saúde ao receber a notícia. Mas hoje, depois de passar por tudo, ela está muito melhor e empolgada com a volta ao trabalho. Atualmente, toma dez comprimidos por dia para estabilizar seu sistema imunológico. É que, depois do transplante, você se torna um bebê no corpo de um adulto. Mas sua recuperação tem impressionado os médicos, ela bateu todos os recordes! Já consegue se equilibrar melhor, falar sem tanta dificuldade e memorizar as coisas. É cedo para falar em cura e são raros os casos em que ela acontece, mas todos nós estamos confiantes.”



Entenda o processo pelo qual Claudia passou:

A descoberta 
A atriz estava apresentando uma peça no teatro quando começou a ficar com a mão dormente e foi para o hospital. No início, pensaram que era fruto de um estresse prolongado, mas depois de alguns exames, ela recebeu o diagnóstico da esclerose múltipla.


Autoimune
A doença é autoimune, ou seja, ocorre quando o organismo “se engana” e começa a atacar partes saudáveis do corpo. A esclerose
ataca a bainha de mielina, uma “capa” que reveste os condutores nervosos que levam impulsos do corpo ao cérebro e vice-versa. É
como se a comunicação entre os dois fosse cortada. Isso pode deixar sequelas na memória, dificuldades motoras e na fala.


Quando o público soube
Apesar de ter descoberto a doença em 2000, somente seis anos depois a atriz falou sobre a esclerose publicamente. Acontece que, apesar de estar fazendo o tratamento com remédios, ela teve uma crise e precisou ser afastada das gravações por um breve período
de tempo. 


O afastamento 
Ao final de 2009, a Globo começou a gravar a quinta temporada de A Diarista, mas a doença de Claudinha se agravou, ela não conseguia memorizar suas falas, e por isso o trabalho precisou ser interrompido. 


O tempo em casa 
A partir dali, a atriz seguiu com o tratamento e gravou participações especiais na televisão, mas nada muito intenso. Entre 2010 e 2012, outros surtos aconteceram, deixando-a com a visão turva, falta de equilíbrio e fala arrastada. Foi então que ela decidiu
fazer o transplante de medula óssea: um procedimento que induz a produção de células-tronco jovens na pessoa, e substitui  as células antigas e afetadas pela doença por células novas e saudáveis. Para isso, é preciso fazer quimioterapia e/ou radioterapia antes da cirurgia, por isso a queda de cabelo. 


O pós-transplante
Deu tudo certo com a cirurgia de Claudia. No entanto, depois do transplante, é como se a pessoa “nascesse de novo”. Por isso, ela precisa passar por um período de isolamento, para não correr o risco de se contaminar com nenhuma bactéria, já que o sistema
imunológico fica debilitado. Em junho, a atriz vai tomar as vacinas todas novamente, e a partir daí poderá voltar a ter contato com o público.
Bem-estar e Saúde

Leia também

Guia prático: segredos para uma alimentação saudável e equilibrada


Cirurgia de varizes: solução para problemas vasculares


Doença de Céline Dion: saiba mais sobre rara síndrome da cantora


O que é a doença de Newcastle? Brasil registra novo caso da patologia após 18 anos


Idosos: conheça os benefícios dos pescados enlatados


Quando devemos começar a fazer mamografia? Atriz morre de câncer de mama aos 53 anos