Uma pesquisa da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) revelou a existência de pão de forma com álcool nas prateleiras dos supermercados e na despensa dos brasileiros. O estudo avaliou as dez marcas mais vendidas do país e constatou a presença do etanol.
Após a repercussão, o Detran-GO realizou um teste do bafômetro e identificou a substância após o consumo do alimento. Depois, o órgão público realizou um novo teste, mostrando o resultado negativo para consumo de álcool após três minutos da ingestão do pão de forma com álcool em sua composição.
“Então, já sabe: não adianta colocar a culpa no pãozinho”, brincou o Detran. Ainda assim, o etanol encontrado no produto surpreendeu a população e até mesmo especialistas. Afinal, os riscos vão além do bafômetro e podem afetar a saúde?
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A preocupação é justa, já que o pão de forma é um alimento comum na mesa de muita gente. Inclusive, em grupos que não podem consumir nenhuma quantidade de álcool, como gestantes, crianças ou portadores de doenças e problemas de saúde. Antes, é preciso analisar algumas medidas.
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O álcool no pão de forma
A legislação brasileira considera bebidas não alcoólicas aquelas que apresentam teor máximo de etanol de 0,5%. Das dez marcas de pão de forma analisadas, seis apresentaram teor maior da substância. Ou seja, se tivesse uma legislação semelhante para alimentos, os produtos seriam considerados alcoólicos.
São elas:
- Visconti (3,37% de teor alcoólico);
- Bauducco (1,17% de teor alcoólico);
- Wickbold 5 zeros (0,89% de teor alcoólico);
- Wickbold sem glúten (0,66% de teor alcoólico);
- Wickbold leve (0,52% de teor alcoólico);
- Panco (0,51% de teor alcoólico).
Além disso, as três primeiras continham álcool suficiente para a detecção no teste do bafômetro. De acordo com a estimativa da Proteste, duas fatias dos pães tiveram concentrações de álcool superiores a 0,44g — o suficiente para infringir as leis de trânsito.
Outra unidade de comparação são as gramas. Uma lata de cerveja com 5% de teor alcoólico tem, em média, 14g de álcool. No caso da pesquisa, a marca de pão de forma com maior quantidade de álcool foi a Visconti, com 0,843g por fatia. Isso significa que cerca de 17 fatias representam a mesma quantidade de álcool presente em uma lata de cerveja.
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O impacto no corpo
Considerando a baixa possibilidade de um consumo tão desenfreado do produto, a quantidade de álcool no pão de forma parece inofensiva, certo? Na verdade, não. Isso porque, mais uma vez, deve-se considerar aqueles que não podem — ou simplesmente não querem, consumir nada de álcool.
À CNN Brasil, a nutróloga Andrea Sampaio, do Hospital Sírio Libanês, explicou sobre o pão de forma com álcool: “Oferece um risco, principalmente também para gestantes, para lactantes, para idosos, e podem repercutir com alterações neurológicas também associadas à ansiedade e à depressão nesses quadros com essa concentração mais elevada do álcool”.
Ela reforça o alerta, ainda que em quantidades mínimas de álcool, sobre as crianças. O consumo frequente de alimentos industrializados e processados pode aumentar os efeitos da substância presente nos pães. Como consequência, o desenvolvimento é prejudicado.
A nutricionista Inara Santos Nascimento Souza, coordenadora do serviço de nutrição do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, disse à Veja: “Para quem possui doenças no fígado, como a esteatose hepática, e mesmo os portadores de um grau mais avançado, como a cirrose, seria prejudicial a ingestão desses pães”.
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Como o álcool vai parar no pão de forma?
O álcool surge no pão de forma de duas maneiras distintas: a primeira, é graças ao processo de fermentação, que gera o etanol (álcool etílico) de maneira natural. No entanto, a substância evapora com as altas temperaturas do forno e não chega ao consumidor final – e também não deveria ser detectada em testes como o bafômetro.
Porém, o problema maior está depois do preparo. Os pães de forma, assim como outros produtos industrializados, são borrifados com conservantes antimofo, que estendem a validade do alimento. Só que esta solução é diluída com álcool, o que explica a identificação da substância.
Henrique Lian, diretor executivo da Proteste, explica que a campanha ‘Se tem Álcool, todo mundo tem direito de saber’ foi criada com o objetivo de aumentar a transparência com o consumidor. Ele acredita que, com a exposição correta desses produtos com teor alcoólico para a categoria, muitos os evitariam.
“Seja por motivos de saúde, orientação religiosa e outros”. O órgão defende que alguns pães de forma do mercado nacional deveriam exibir um aviso na embalagem com o informe “contém álcool”.
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