Beneficiários do Bolsa Família, programa federal de assistência financeira, gastaram R$ 3 bilhões com apostas esportivas apenas em agosto de 2024. Desde o início do ano, as famosas bets e os cassinos on-line, como o Jogo do Tigrinho, receberam R$ 10,51 bilhões desses mesmos usuários.
As informações fazem parte do novo estudo do Banco Central (BC) sobre o mercado de jogos de azar e apostas online no Brasil. O senador Omar Aziz (PSD-AM), quem pediu a realização da pesquisa, aponta que as empresas do ramo ficaram com 98,2% dos recursos enviados por esse público.
De acordo com o documento, o primeiro com dados oficiais dos movimentos financeiros desses jogos no país, as casas de apostas receberam entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões em cada mês de 2024. A título de comparação, a arrecadação de todos os sorteios de loterias da Caixa em agosto foi de a R$ 1,9 bilhão, mais de 10 vezes menor.
Roberto Campos Neto, presidente do BC, disse que as transferências via Pix para apostas triplicaram desde janeiro, crescendo 200%. “É uma coisa que chama atenção, e a gente começa a ter a percepção de que vai ter um efeito na inadimplência na ponta”, analisou.
Do Bolsa Família para as bets
O estudo do Banco do Brasil apresentou outros números relevantes sobre o mercado de apostas nacional. Cerca 24 milhões de pessoas físicas participaram deste modelo de negócio. Destas, 8,91 milhões são pertencentes a famílias beneficiárias do Bolsa Família, conforme aponta Aziz.
Analisando os números, é possível observar que quase 40% dos apostadores estão entre os contemplados com o Bolsa Família. Entre esses apostadores, 5,4 milhões (60,5%) são chefes de família — ou seja, o titular, de fato, do benefício. O gasto médio dos beneficiários do programa é de R$ 147 por pessoa.
Vale lembrar que os dados contabilizam apenas transferências via PIX, desconsiderando transações de cartão de crédito, débito e transferência eletrônica direta (TED). Além disso, o estudo só considerou as 36 casas de apostas, que, segundo o documento, são as principais patrocinadoras de eventos esportivos do país. Ou seja: na prática, os valores devem ser ainda maiores.
“Esses resultados estão em linha com outros levantamentos que apontam as famílias de baixa renda como as mais prejudicadas pela atividade das apostas esportivas. É razoável supor que o apelo comercial do enriquecimento por meio de apostas seja mais atraente para quem está em situação de vulnerabilidade financeira”, concluiu a nota técnica que acompanha o estudo.
Vale lembrar que o Bolsa Família destina, em média mensal, R$ 14 bilhões aos beneficiários. Entre janeiro e agosto, foram R$ 112 bi. Isso significa que, na prática, quase 10% dos valores do benefício foram parar nas casas de apostas.
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