O alongamento ósseo, conhecido como cirurgia para crescer, promete aumento de altura, mas traz riscos sérios
Publicado em 23/08/2024, às 11h55
O desejo de aumentar alguns centímetros na altura é mais comum do que se imagina. A autoestima, insegurança com a própria estatura e padrões estéticos são algumas das razões. Neste cenário, surgiu o alongamento ósseo, uma cirurgia para crescer que promete resultados significativos.
A primeira vista, pode parecer tentador subir alguns degraus. Isso fez com que muitas pessoas considerassem o procedimento. Só que essa intervenção cirúrgica está longe de ser uma solução simples e sem riscos.
Na verdade, pode ser justamente o contrário. A cirurgia para crescer envolve a quebra dos ossos das pernas, seguida da inserção de pinos e de um dispositivo que aumenta o espaço entre os fragmentos ósseos. O osso se regenera ao longo do tempo, preenchendo o espaço e aumentando a altura.
O procedimento, embora eficaz para alguns, é doloroso e requer uma recuperação longa e cuidadosa. O processo pode durar meses ou até anos, e nem sempre os resultados são garantidos. Os relatos de pacientes que passaram pela experiência corroboram.
É o caso de Elaine Foo, de 49 anos, que decidiu aderir à cirurgia para crescer. Desde 2016, passou por cinco procedimentos cirúrgicos e três enxertos ósseos. E isso custou todas suas economias, além de algo ainda mais importante: o bem-estar e saúde.
À BBC, ela relatou os problemas com a altura: "Aos 12 anos, eu era mais alta do que a maioria das meninas. Aos 14, de repente, eu era mais baixa do que todo mundo". Até que a insatisfação virou uma obsessão: "Mais alta significa melhor e mais bonita". Elaine acredita que tinha dismorfia corporal.
Aos 25, a mulher encontrou um artigo sobre uma clínica chinesa que realizava o alongamento ósseo. Apesar dos detalhes assustadores, ela se interessou. Após meses de pesquisa, ela optou por realizar o procedimento em uma clínica privada de Londres. O objetivo era sair de 1,57m para 1,65m.
O responsável era o cirurgião ortopédico Jean-Marc Guichet, especialista em alongamento de membros. O profissional chegou a criar seu próprio dispositivo de alongamento — o Guichet Nail (prego de Guichet na tradução direta). Ela pagou cerca de 50 mil libras (R$ 351 mil).
A princípio, tudo estava bem e sem dores: "Acordar [após a cirugia] foi muito empolgante". Porém, o destino de Elaine começou a mudar 90 minutos depois: "Era como se alguém estivesse cozinhando minhas pernas. Como se estivesse sendo assada por dentro".
Duas semanas depois, a situação piorou. A haste colocada na perna esquerda rompeu o fêmur, o osso da coxa, que é o mais forte do corpo humano. Elaine disse ter sido tranquilizada pelo médico, além de avisada que as novas operações custariam milhares de libras, que topou pagar.
Com o passar do tempo, a perna direita alcançou a meta de 7cm. No entanto, a discrepância para a perna esquerda causava curvatura na coluna e dores constantes. Novas tomografias mostraram falta alarmante de crescimento ósseo na perna direita.
Em abril de 2017, Elaine viajou para Milão para mais uma cirurgia com Dr. Guichet. No entanto, a operação teve complicações adicionais e aumentou ainda mais seus custos médicos. Desesperada e sem alternativas claras, Elaine procurou ajuda no NHS do Reino Unido.
Um especialista lhe disse que precisaria de pelo menos cinco anos para uma recuperação completa. Oito anos após a primeira cirurgia, Elaine ainda enfrenta cicatrizes físicas e mentais significativas e sofre com mobilidade reduzida e estresse pós-traumático (PTSD).
Em julho deste ano, ela finalmente conseguiu um acordo legal com Dr. Guichet, embora ele não tenha admitido a responsabilidade pelos infortúnios. No tribunal, o advogado do cirurgião defendeu que as complicações foram avisadas previamente e atribuídas ao uso não informado de antidepressivos por Elaine e ao excesso na extensão da haste em sua perna direita.
Elaine nega todas essas alegações, culpando inteiramente o médico pelas complicações sofridas. Ela reflete: "Eu perdi os melhores anos da minha vida. Se alguém me perguntasse hoje se eu faria novamente essa cirurgia sabendo dos riscos... Eu diria um definitivo 'não, muito obrigada'".