Ferramenta tem ganhado espaço na vida moderna, mas a ferramenta pode substituir o terapeuta? Conheça os limites da terapia por ChatGPT
Com o avanço da tecnologia e das ferramentas de inteligência artificial, como o ChatGPT, o tema da saúde mental ganhou uma nova perspectiva e muitas pessoas têm recorrido à terapia por ChatGPT. A ferramenta tem ocupado espaço em diferentes áreas, mas será que ela poderia substituir profissionais da área de saúde mental? Hoje em dia, essa é uma pergunta que muitos fazem. A psicanalista Andréa Ladislau esclarece por que é fundamental entender os limites desse tipo de recurso para evitar confusões sobre o real papel da tecnologia na vida emocional.
O uso de inteligência artificial no dia a dia já faz parte da rotina de muitas pessoas, e o ChatGPT é um exemplo popular dessas ferramentas. Prático e acessível, ele fornece informações sobre praticamente qualquer tema, incluindo saúde mental. Mas para que funcione bem, é necessário compreender o alcance e as limitações dessa tecnologia, especialmente quando se trata de um tema tão sensível quanto o bem-estar emocional. Como Andréa Ladislau afirma, “munir-se de dicas e informações é uma coisa, mas tentar ocupar o lugar de um terapeuta é algo bem diferente”.
Há algumas razões pelas quais o ChatGPT não se equipara a um atendimento terapêutico real. Em uma sessão de terapia tradicional, o relacionamento construído entre paciente e terapeuta é muito mais do que uma simples troca de informações: trata-se de uma conexão profunda e humana. “A confiança e o vínculo que se formam entre o profissional e o paciente são essenciais no processo de cura”, explica Andréa. Segundo ela, esses elementos não podem ser replicados por um algoritmo, por mais sofisticado que seja.
Outro ponto central é a individualidade de cada pessoa. A terapeuta destaca que a personalização de um tratamento vai muito além de uma resposta automatizada. “Nossas histórias e emoções são únicas, e é essa experiência que permite que o terapeuta adapte as técnicas para cada caso”, reforça. Em um atendimento real, o profissional trabalha diretamente com as nuances emocionais e comportamentais do paciente, ajustando as abordagens de acordo com o que a pessoa precisa no momento. No caso do ChatGPT, que funciona com base em padrões e algoritmos, essa flexibilidade não existe.
Além da falta de personalização, há outro aspecto fundamental em uma terapia eficaz: o suporte emocional. É através de técnicas específicas que o terapeuta orienta o paciente na exploração de suas emoções e comportamentos, ajudando-o a encontrar novas formas de lidar com as dificuldades. Andréa explica que isso envolve um processo delicado de escuta ativa e empatia, onde o profissional cria um espaço seguro e acolhedor para que o paciente possa se expressar. Um atendimento terapêutico, portanto, não é só baseado em respostas, mas em como essas respostas são entregues e assimiladas. “A máquina pode até responder perguntas, mas não tem a compreensão emocional necessária para uma escuta cuidadosa”, observa Andréa.
Ainda no campo da ética e segurança, a terapia pelo ChatGPT apresenta uma limitação importante. O sigilo ético do atendimento terapêutico é essencial para proteger a privacidade e a segurança do paciente, algo que a inteligência artificial não pode oferecer. Dados inseridos no ChatGPT podem estar sujeitos a diferentes políticas de privacidade e segurança, que não oferecem o mesmo nível de proteção das informações pessoais. “O sigilo ético é um pilar inegociável no atendimento psicológico”, aponta a psicanalista. Isso assegura que o paciente confie e se sinta seguro ao compartilhar suas experiências e pensamentos, algo indispensável para um tratamento bem-sucedido.
Embora o ChatGPT tenha suas vantagens e possa ser um ótimo recurso para informações rápidas e para complementar certos conhecimentos, não podemos ignorar o fato de que a saúde mental exige um cuidado especial, profundo e individualizado. “A transformação pessoal, que é um dos principais objetivos da terapia, só é alcançada com tempo, acolhimento e interação real”, explica Andréa. Esse processo envolve autoconhecimento, manejo de emoções e busca de estratégias para enfrentar desafios, tudo com o suporte e a orientação cuidadosa do terapeuta.
A tecnologia pode ser útil e contribuir com muitas áreas do nosso cotidiano, mas quando se trata de saúde mental, o que funciona é o relacionamento direto com um profissional capacitado, que oferece mais do que respostas prontas. Ele ouve o que o paciente não diz, permite que ele se escute e se perceba. Com o ChatGPT, perdemos a profundidade dessa troca essencial, que envolve interpretar sinais sutis e dar ao paciente o tempo que ele precisa para olhar para dentro de si.
Portanto, o ChatGPT pode sim oferecer muitos benefícios em várias áreas, mas não substitui a função terapêutica humana. No fim das contas, a terapia é sobre uma experiência humana, onde o contato e o acolhimento que o terapeuta oferece não têm substituto. A tecnologia é uma aliada para várias tarefas do dia a dia, mas o cuidado emocional segue necessitando de um olhar humano, paciente e compassivo.
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