Desde a cerimônia de abertura até o final das disputas esportivas, a moda está presente nos Jogos Olímpicos. Importantes para as competições e o conforto dos atletas, os uniformes precisam ser adaptados às necessidades de cada um. No caso das atletas, questões fisiológicas e culturais impactam as mudanças nos uniformes olímpicos. Entenda como essa relação acontece!
A equipe feminina de ginástica artística do Brasil conquistou a primeira medalha por equipes de sua história nas Olimpíadas de Paris. Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira alcançaram um feito inédito ao faturarem o bronze, usando um uniforme desenhado pela ginasta Jade Barbosa.
O modelo 3/4, com base azul escura e cravejado de pedrinhas brilhantes em tons de verde e amarelo, não foi o primeiro desenhado pela atleta de 33 anos, que integra o grupo há 17 anos. Jade também foi responsável pelo design das roupas da equipe no Mundial de 2022, 2023 e nas Olimpíadas de Tóquio 2021.
@cbginastica Vocês sabiam?! Além de medalhista mundial e atleta carimbada em Paris 2024, a @Jade Fernandes Barbosa também DESENHA alguns dos collants que a nossa Seleção usa! E nas Olimpíadas não será diferente, viu?! 🫣🫢 #gymnastics #leotard #paris2024 #tiktokesportes #gym #sports #ginasticaartistica #gimnasia #esportes ♬ som original – CBG Ginástica
No entanto, nem todos os esportes permitem tal liberdade de escolha para as atletas, que muitas vezes precisam lutar para conseguir uniformes que consideram mais confortáveis e alinhados com suas personalidades.
Principais mudanças nos uniformes olímpicos
As mudanças nas roupas não acontecem de forma isolada. Recentemente, o Serviço Olímpico de Transmissão (OBS, na sigla em inglês) atualizou suas diretrizes para evitar o sexismo na forma como os corpos femininos são registrados durante as competições.
Uma das recomendações diz respeito ao excesso de close — enquadramento fechado e aproximado — em atletas femininas. Em comparação com a filmagem de atletas masculinos, as tomadas que focam em partes sexualizadas, como o bumbum, são mais frequentes nas mulheres.
Vale mencionar que, apenas na edição de 2024 das Olimpíadas, a competição, que é a maior disputa esportiva do mundo, atingiu, pela primeira vez na história, a paridade de gênero entre atletas, com o mesmo número de homens e mulheres competindo.
Uniforme de mão em mão
Em 1988, o time feminino de futebol do Brasil disputava a primeira Copa do Mundo de futebol feminino. Muito antes da camisa 10 de Marta, as jogadoras tiveram que usar uniformes ‘herdados’ dos homens para jogar.
Como elas não receberam roupas feitas especificamente para o corpo feminino, tiveram de usar o que havia “sobrado” de camisas, shorts, calças e agasalhos da seleção masculina, tanto nos treinos quanto nos jogos.
Atualmente, muita coisa mudou. Os calções das jogadoras olímpicas, por exemplo, agora incluem um short avulso (para ser usado por baixo), com um revestimento ultrafino e absorvente que ajuda a proteger contra vazamentos menstruais. Essas mudanças nos uniformes olímpicos representam algumas das melhorias recentes alinhadas com os avanços tecnológicos.
Biquiní “obrigatório”
Por usar shorts em vez de biquíni na disputa pela medalha de prata contra a Espanha no Campeonato Europeu de Handebol de Praia Feminino, em julho de 2021, a equipe da Noruega foi multada em 1.500 euros (aproximadamente R$ 9.200 na época) pela Federação Europeia de Handebol (EHF).
A penalização ocorreu porque os trajes “não estavam de acordo com os regulamentos de uniformes de atletas definidos nas regras do jogo de handebol de praia da IHF [Federação Internacional de Handebol]”. O caso ganhou atenção mundial, e a cantora norte-americana Pink pagou a multa.
A questão gerou uma série de debates sobre os uniformes de atletas em várias competições e repercutiu nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2021, que foram adiados de 2020 devido à crise sanitária mundial provocada pela Covid-19.
Traje de corpo inteiro
Durante as eliminatórias das Olimpíadas de Paris, algumas ginastas da Alemanha optaram por collants que cobrem todo o corpo, trazendo mudanças nos uniformes olímpicos. As atletas alemãs já tinham adotado esse modelo nas Olimpíadas de Tóquio.
O uniforme incluía mangas compridas e uma calça que se estendia até o tornozelo. Para as adeptas desse modelo, trata-se de uma forma de se contrapor à sexualização das atletas. A ginasta Pauline Schaefer-Betz também defende a liberdade criativa que a peça oferece, permitindo, por exemplo, a inclusão de brilhos.
Uniformes das Olimpíadas: como a moda virou elemento dos Jogos de Paris?
Respeitando o ciclo
Em 2023, a seleção feminina da Inglaterra trocou seus tradicionais shorts brancos por azuis, com o intuito de proporcionar mais segurança para as jogadoras durante o período da menstruação e evitar desconfortos com vazamentos.
A decisão influenciou outras equipes de futebol feminino, como Manchester City, West Bromwich e Orlando Pride, além da seleção irlandesa de rugby feminino, que também mudaram seus uniformes.
Competindo de hijab
Durante a Olimpíada do Rio de 2016, um feito histórico aconteceu: Doaa Elghobashy foi a primeira jogadora olímpica de vôlei de praia a usar um hijab, um acessório religioso tradicional para mulheres muçulmanas.
Cada entidade de cada modalidade tem suas próprias regras, o que permitiu que a atleta do Egito usasse o hijab enquanto sua oponente da Alemanha estava de biquíni. “Uso o hijab há dez anos e isso não me afasta das coisas que adoro fazer, e o vôlei de praia é uma delas”, disse na época à BBC.
No entanto, na Olimpíada de Paris, a velocista francesa Sounkamba Sylla afirmou ter sido impedida de participar da cerimônia de abertura usando o hijab. Segundo o jornal francês Le Parisien, o Comitê Olímpico Francês sugeriu que a atleta usasse um boné em vez do hijab durante o evento.
Touca para cabelo afro
Após ser vetada nos Jogos de Tóquio, os atletas de natação com cabelo afro conquistaram o direito de usar uma touca específica para comportar seus fios nas Olimpíadas de Paris 2024.
O equipamento foi proibido na edição de 2021 por não seguir “a forma natural da cabeça”. A decisão gerou uma série de questionamentos e, após uma revisão, o acessório foi aprovado pela Federação Internacional de Natação (Fina) em 2022.
Criada em 2017 no Reino Unido por Michael Chapman e Toks Ahmed-Salawudeen, a touca foi desenhada para que nadadores com diferentes tipos e estilos de cabelo possam praticar a natação sem abdicar das características naturais dos fios. O equipamento é feito de silicone, similar às outras toucas disponíveis no mercado.
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