O conceito de ‘pais helicópteros‘ refere-se àqueles que, por excesso de zelo e medo, tendem a superproteger seus filhos de qualquer desconforto ou dificuldade, antecipando-se a todas as suas necessidades e controlando suas ações. Essa prática, segundo especialistas, pode ter consequências negativas no desenvolvimento emocional e social das crianças.
De acordo com o psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e presidente do comitê de adolescência da Associação Paulista de Medicina, essa superproteção, em vez de ser benéfica, acaba por incapacitar os filhos de desenvolverem autonomia e confiança.
Os pais helicópteros, segundo o especialista, geralmente agem dessa forma devido ao sentimento de culpa por não estarem tão presentes no dia a dia dos filhos, seja por conta do trabalho ou outras responsabilidades. “Eles acreditam que, controlando e protegendo excessivamente, estão compensando sua ausência, mas na verdade estão criando filhos inseguros e despreparados para enfrentar o mundo”, explica o médico.
O que são pais helicópteros?
O termo pais helicópteros foi cunhado nos anos 90 e faz referência à ideia de pais que “sobrevoam” constantemente seus filhos, monitorando cada passo, decisão ou problema que eles possam ter. Em muitos casos, esses pais evitam que os filhos enfrentem dificuldades naturais da vida, como frustrações, conflitos ou desafios. Embora a intenção seja boa — proteger e garantir o bem-estar — o resultado pode ser o oposto.
Wimer Bottura observa que essa prática cria crianças e adolescentes que não desenvolvem a capacidade de lidar com as próprias dificuldades. “Quando os pais se antecipam às necessidades dos filhos, eles privam os jovens de experiências importantes, como a superação de pequenos obstáculos. Isso pode resultar em adultos inseguros, dependentes e com baixa autoestima”, afirma.
Além disso, o especialista destaca que essa atitude excessiva também é resultado de um bombardeio de informações, muitas vezes incorretas ou exageradas, sobre os perigos que as crianças enfrentam no mundo atual. “Os pais helicópteros agem movidos pelo medo de que algo terrível aconteça com seus filhos. Eles acreditam que a exceção — o risco de acidentes, abusos ou bullying — é a regra. Essa paranoia aumenta a insegurança dos próprios pais e, consequentemente, dos filhos.”
As consequências negativas da superproteção
O excesso de proteção traz inúmeras consequências negativas. Entre elas, a mais evidente é o desenvolvimento emocional prejudicado das crianças. Como aponta Bottura, “os filhos de pais helicópteros são poupados de frustrações e desafios, elementos fundamentais para o crescimento. Sem enfrentar dificuldades, as crianças não aprendem a lidar com seus próprios medos e inseguranças”.
Outro impacto significativo é na capacidade de tomada de decisão. Crianças superprotegidas muitas vezes crescem sem aprender a resolver problemas por conta própria, já que os pais sempre estiveram presentes para resolver qualquer situação. “Essa falta de independência pode gerar uma dependência prolongada dos pais, tanto emocional quanto financeira, mesmo na vida adulta”, explica o médico.
Em casos mais graves, essa superproteção pode prejudicar o desenvolvimento de habilidades sociais e de autoconfiança. “Pais que controlam excessivamente os filhos podem limitar suas oportunidades de socialização e de aprendizado por meio de erros. Isso cria adultos inseguros e dependentes”, alerta.
Pais helicópteros: amor ou controle?
É importante distinguir entre o cuidado saudável e o controle excessivo. De acordo com Bottura, os pais helicópteros frequentemente confundem amor com controle. Acreditam que, ao exercer um controle constante sobre a vida dos filhos, estão demonstrando amor, quando na verdade estão limitando o crescimento e a autonomia deles.
“O controle é ilusório. Não impede que os filhos enfrentem desafios ou se machuquem; apenas retarda o desenvolvimento das habilidades necessárias para lidar com esses problemas de forma independente”, afirma Bottura.
Um exemplo clássico que o profissional utiliza para ilustrar essa dinâmica é o conto da Bela Adormecida. “No conto, os pais tentam proteger a princesa de qualquer perigo, isolando-a. No entanto, ela acaba se machucando de forma ainda mais grave quando, finalmente, entra em contato com o mundo real. A superproteção nunca impede completamente os riscos; ela apenas retarda o inevitável.”
Como evitar ser um pai helicóptero?
A primeira atitude para evitar o comportamento de pais helicópteros é entender que viver envolve riscos. “A vida é perigosa, mas isso não significa que devemos controlar tudo. Os pais precisam ter confiança de que seus filhos aprenderão com suas próprias experiências e crescerão com isso”, aconselha Wimer.
Ele sugere que os pais ofereçam suporte e orientação, mas permitam que os filhos enfrentem suas próprias batalhas. “Dizer ‘não’ às vezes, permitir que os filhos cometam erros e esperem pelos resultados é essencial para o desenvolvimento. Isso cria jovens resilientes e preparados para os desafios da vida adulta”, acrescenta.
Além disso, o médico reforça a importância de desmistificar o medo de que as crianças estarão constantemente em perigo. “A maioria dos acidentes acontece dentro de casa, com os pais presentes. O excesso de medo é resultado de uma má interpretação da realidade. Os riscos existem, mas os pais precisam confiar que seus filhos conseguirão superá-los.”
Ser um pai helicóptero pode parecer, à primeira vista, uma forma de cuidado e amor. No entanto, o controle excessivo acaba impedindo que os filhos se desenvolvam plenamente, prejudicando sua independência, confiança e capacidade de lidar com os desafios da vida. Por isso, é fundamental que os pais entendam a diferença entre proteção e superproteção. “Os filhos precisam de liberdade para crescer, aprender e superar seus próprios obstáculos. O papel dos pais é orientar, e não controlar”, finaliza Wimer.
A superproteção não apenas limita o desenvolvimento dos filhos, mas também pode resultar em uma relação de dependência entre pais e filhos que se estende para a vida adulta, prejudicando ambos. Assim, é importante que os pais reflitam sobre seus próprios medos e confiem mais no potencial de seus filhos.
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