Se você assistiu ‘Mulheres Apaixonadas’ em 2003 provavelmente vai se lembrar de um dos vilões mais icônicos da novela: Marcos, interpretado por Dan Stulbach, que agredia com uma raquete a ex-mulher Raquel, personagem de Helena Ranaldi. O crápula nunca foi esquecido pelo público e voltou a ser assunto nas redes sociais com a reexibição da trama no Vale a Pena Ver de Novo.
Em entrevista exclusiva para a AnaMaria Digital, Dan Stulbach revela que Marcos tem uma carga dramática tão intensa que existe uma cena que nem ele mesmo conseguiu assistir até hoje, 20 anos depois da exibição original da novela: aquela em que o vilão destrói o quarto de hotel.
“Só podia ser feita uma vez. Então tinha que ter uma intensidade e entrega total, mas também um controle de marcação, para a luz e as câmeras”, relembra. “Chorei a cena toda, o público tinha que se emocionar comigo. Esse desafio de combinar entrega e controle foi muito marcante para mim. E a cena ficou muito forte. Nunca vi essa cena depois que fiz”, revela.
Existem ainda outros momentos marcantes e que ficaram na memória do ator, como quando Marcos agride Raquel no vestiário da escola ou quando ele briga com Fred [Pedro Furtado], além da primeira de todas. “Quando tampo os olhos dela e pergunto: ‘Adivinha quem é?’. Foi a primeira que gravei”, relembra.
RECONHECIMENTO ASSUSTADOR
Na época, o público chegou a ter medo de Dan justamente por causa da insanidade de Marcos. Mas hoje é diferente, afinal, de lá para cá o ator já interpretou outros inúmeros personagens na teledramaturgia.
No entanto, ele não nega que a retaliação que sofreu nas ruas foi “um pouco” assustadora. “Mas, eu gostava também. Depois até me divertia com isso. Era sinal que tudo estava dando certo. É uma delícia mexer com as pessoas, provocá-las através da arte”, diz.
ERA SÓ UMA PARTICIPAÇÃO
Inicialmente, Marcos foi escrito para ser apenas um personagem breve na trama. Entretanto, o vilão fez tanto sucesso que acabou ganhando espaço e ficou nos quatro meses finais da novela de Manoel Carlos. Foi a oportunidade que Dan teve de mostrar seu talento.
“Eu me dedicava cada minuto do meu dia para aquilo. Era o personagem e a oportunidade que eu esperei por tanto tempo e queria aproveitar cada instante”, afirma.
Fato é que nem mesmo o ator esperava tamanha repercussão. “Não sabia no que ia dar. Tive muito reconhecimento, inclusive fora do país, nunca pensei nem imaginei que seria assim. Agora já são 20 anos. E com essa reestreia tudo parece novo de novo. Incrível, inesperado, uma honra pra mim”, diz.
E SE FOSSE HOJE?
‘Mulheres Apaixonadas’ e suas histórias sempre carregaram o chamado ‘valor social’. Tanto que a pauta de violência contra a mulher acabou levantando a discussão e a urgência de se criar uma lei que amparasse mulheres que eram agredidas e punisse os agressores. Depois de três anos, em 2006, a Lei Maria da Penha foi aprovada e até hoje é um dos principais instrumentos na proteção de mulheres vítimas de violência, algo que Dan encara com “muita felicidade porque engrandece a profissão”.
Mas, não tem como negar que o mundo mudou nos últimos 20 anos e falar sobre violência contra a mulher atualmente tem muito mais impacto do que antes, sobretudo por causa das redes sociais.
Por isso, o ator não sabe dizer se interpretaria Marcos de uma forma diferente se fosse nos dias atuais. “É difícil dizer”. No entanto, ele não se incomoda com os memes quanto a Marcos. “Acho tudo legal, tudo certo. Somos o país dos meses”, diz.
Pai de Anita e Davi, de 12 e 10 anos, respectivamente, o artista revela que os filhos não têm conhecimento de toda a repercussão que Marcos teve desde a estreia da novela. “Eles não têm ideia. Agora vão ter um pouco mais. Mas sabe como são os filhos, nunca sabem quem são os pais direito.”