Recentemente, um dado chocante foi divulgado pela Secretaria de Saúde. No Distrito Federal, o número de jovens entre 15 e 19 anos contaminados com o vírus HIV subiu 700%.
E a tendência se estende pelo território nacional: dados recentes mostram que a taxa de pessoas infectadas pelo vírus nesta faixa etária tem subido em quase todo o Brasil.
As notícias nos fazem refletir: com tanto acesso às informações sobre sexo na internet, por que os casos estão aumentando entre os jovens em vez de diminuir?
E por que muitos adultos ainda encontram dificuldade de falar sobre o assunto dentro de casa? Veja como contornar os desafios e abordar o tema de maneira suave com a garotada:
INTERNET TIRA AS DÚVIDAS?
Não há como negar: assim como nós buscamos o auxílio de sites e vídeos para resolver alguma questão, os mais novos também recorrem às tecnologias quando estão com dúvidas. No entanto, além de nem todas as fontes de informações digitais serem seguras, existe também o risco de eles se depararem com conteúdos impróprios para a idade.
“Um pré-adolescente que nem beijou, por exemplo, pode ter acesso a imagens de casais tendo relações sexuais ou a uma descrição completa do ato”, alerta a psicóloga.
Ainda que as informações estejam certas, existe um motivo pelo qual uma conversa dentro de casa é mais eficaz para que a criança ou o adolescente desenvolvam sua sexualidade de forma saudável: os valores. “Ao dialogar com a família, a orientação chega carregada de sentimentos. E tudo fica mais humano”.
CONFLITO DE GERAÇÕES
“Há alguns anos não se abordava a sexualidade nas escolas. Ainda se falava em casar virgem, não existiam redes sociais. As experiências eram vividas de maneira diferente. Por isso, muitos pais se sentem perdidos para tratar do assunto com os filhos, sem saber por onde começar”, explica Karin Kenzler, psicóloga e orientadora educacional do Colégio Humboldt.
A profissional ainda aponta que, na visão de muitos, falar sobre o assunto é o mesmo que dar carta branca para que os jovens iniciem suas experiências.
“Existe um mito de que, dialogando sobre sexo, os pais estejam ‘liberando de vez’ seus filhos. No entanto, quanto mais bem orientados, mais vão respeitar seu próprio corpo e suas vontades e poderão vivenciar tudo de acordo com seu desenvolvimento. A informação, na verdade, funciona como proteção”, defende.
JULGAMENTOS X CONFIANÇA
Imagine que, ao voltar de uma festa, o adolescente conte que beijou mais de dez pessoas durante o período em que esteve lá. A reação de muitos pais seria repreender e até proibi-los de frequentar esses ambientes novamente. “No entanto, a probabilidade é de que eles continuem apresentando o mesmo comportamento, pois chega um momento em que os pais não conseguem mais exercer tanto poder sobre os filhos”, aponta Karin.
Se a intenção é de construir um diálogo dentro de casa, o ideal é engolir o susto e mostrar abertura para continuar o diálogo. “Primeiro, pergunte como eram as pessoas e se a festa foi divertida. Em seguida, tente chegar até os sentimentos do adolescente: como está se sentindo depois de ter saído com os demais? Dessa forma, os pais estimulam uma visão crítica ao filho sobre o próprio comportamento: afinal, muitos deles se sentem tristes depois de um evento como esse”, diz.
Por fim, entre nas considerações que deseja: alerte sobre as doenças e como isso pode repercutir de maneira negativa. “Assim, o jovem sente que está participando da construção dos valores, e não que as regras estão somente vindo de cima para baixo. Com isso, seu senso crítico e capacidade de tomar decisões sozinhos ficam mais apurados”, assegura Karin.
NO DIA A DIA
Karin explica que a sexualidade permeia o desenvolvimento humano desde o nascimento. “Ainda pequena, a criança apresenta comportamentos masturbatórios, sem entender o que está fazendo”, relembra. Nessa época, os pais já podem orientá-las a reservar esses toques a um espaço privado, deixando claro que não é errado e nem feio, mas que também não deve ser feito em público.
Mais tarde iniciam os questionamentos sobre a origem da vida. Nessa fase costumam surgir as perguntas a respeito da orientação sexual e sobre palavras específicas, como “virgindade” e “transa”. O ideal é ter sensibilidade para responder às dúvidas de maneira que elas compreendam do que se trata, utilizando uma linguagem simples, mas sem mentir.
Por fim, nos adolescentes, a vergonha pode predominar. “Isso varia com a personalidade de cada um, porém, alguns deles se retraem ou se esquivam ao perceberem o rumo que a conversa está tomando”, exemplifica. Para driblar essas questões, a dica é utilizar exemplos de terceiros. “Muitos personagens de filmes, séries e novelas passam por situações que podem levar a uma conversa sobre o tema.
Em vez de questionar se o(a) adolescente ainda é virgem, por exemplo, é possível usar um caso de gravidez precoce para tratar do uso do preservativo e ainda falar sobre a prevenção de doenças”, orienta. A ideia, ela ressalta, não é despertar medo. Afinal, uma sexualidade saudável não é negativa. Pelo contrário: gera prazer e felicidade. No entanto, é preciso que eles saibam dos riscos e que desenvolvam maturidade para dizer “não” se assim for necessário.