Que atire a primeira pedra quem nunca presenteou um filho ou um sobrinho sem qualquer motivo ou data especial. Dar presente para quem amamos é uma delícia e faz bem à alma. Porém, é preciso pensar além. O excesso de presentes pode trazer uma série de consequências para o desenvolvimento emocional das crianças. “Quando tudo chega rápido, elas têm mais dificuldade de esperar, ouvir um ‘não’ e lidar com limites. O prazer dura pouco e logo surge a busca pela próxima novidade, em vez de aprender a valorizar o que já possuem”, explica a psicóloga obstétrica Marília Scabora, fundadora da Comunidade Tribo Mãe, à AnaMaria.
Esse hábito também favorece uma associação perigosa entre comportamento e recompensa material. “Aumenta a chance de barganha, do tipo ‘só faço se ganhar algo’, em vez de cooperação por vínculo e sentido”, destaca a especialista.
Sabemos também que o acúmulo de brinquedos dilui o valor dos objetos: muitos perdem o significado e acabam esquecidos no canto do quarto.
Outro ponto levantado por Marília é que a prática pode gerar conflitos em família, como comparações entre irmãos ou colegas. A autoestima sofre impactos, já que, quando o “ter” se transforma em medida de valor, a criança fica vulnerável a sentimentos de inferioridade caso não tenha o item da moda.
Como diferenciar afeto de consumismo
Um presente saudável deve ser carregado de sentido, planejamento e incentivar novas experiências. Por outro lado, se ele foi uma ferramenta para conter choro ou serviu como moeda de troca afetiva, é preciso reconsiderar seu propósito.
Marília sugere o teste dos 3 Is para avaliar se o presente é saudável:
- Intenção: é para celebrar e se conectar ou apenas para compensar culpa ou cansaço?
- Impacto: o presente será aproveitado e agrega experiências ou causa tédio rápido?
- Intervalo: há tempo de espera e planejamento ou é uma resposta automática a qualquer desconforto?

Ensinando valores
O consumismo não se resolve com proibições, mas com educação afetiva, diálogo e pequenas práticas que ensinam, desde cedo, o valor das coisas. A especialista sugere estratégias para cada faixa etária:
- 2 a 3 anos: nessa fase, os pequenos já entendem a ideia de pequenas trocas. Uma boa sugestão é a “rotatividade de brinquedos”, onde um novo entra no lugar de um doado.
- 4 a 6 anos: crie uma lista curta de desejos para datas especiais, com um item principal e uma experiência. Adote a regra do 1:1: para cada brinquedo novo, um antigo é doado.
- 7 a 9 anos: introduza uma mesada educativa com regras claras. Incentive a criança a esperar 7 dias antes de comprar e transforme as compras em um jogo de pesquisa de preços.
- 10 a 12 anos: crianças mais velhas já entendem orçamentos para projetos maiores, como uma bicicleta, por exemplo, aprendendo sobre custo de oportunidade (escolher um, adiar outro). Também é hora de discutir publicidade: o que prometem vs. o que entregam.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (10 de outubro). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.
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