Quando você pensa em buscar uma atividade física para seu filho, qual é a primeira que vem à mente? Uma das respostas mais comuns é a natação. Afinal, crescemos escutando que esse era o “melhor” esporte. Até mesmo médicos indicam a prática por ser “completa”, já que estimula diferentes áreas do corpo e ainda traz o importante benefício de ensinar nossos filhos a nadarem em circunstâncias diversas ao longo da vida. Além disso, até mesmo bebês podem nadar.
Mas os estudos sobre os benefícios dos esportes foram além e, hoje, a prática de exercícios não é mais vista somente como benéfica para o corpo físico. Existem dados mostrando como se exercitar pode ajudar na socialização, no rendimento escolar, na relação familiar, entre outros fatores. E aí, novamente vem a pergunta: qual seria, então, o melhor esporte para nosso filho? Balé, futsal, talvez alguma arte marcial? Como saber, qual é a ideal para nossas crianças? Como saber se eles gostarão de surf, tênis ou Taekwondo, quando só testam os mais tradicionais, como futebol, jiu jitsu ou, como falamos, a natação?
Pensando nisso, na coluna de hoje, vamos falar mais sobre esportes variados e os benefícios que cada um deles pode trazer para sua criança.
EXEMPLO QUE VEM DE CASA
Certamente você já ouviu falar que as crianças aprendem muito seguindo o exemplo dos pais. Se os adultos se alimentam bem, provavelmente os filhos terão os mesmos hábitos; se dormem cedo, os pequenos irão para a cama no mesmo horário. E, quando se fala em esportes, a vida segue o mesmo caminho: pais que gostam de se exercitar normalmente levam esse hábito para os filhos.
Na casa de Danielle Blaskievicz, mãe de Rafael e Augusto, de 11 e 8 anos, as crianças praticam atividades físicas desde muito cedo e a relação dos pais com o esporte certamente influenciou nessa rotina – ela e o marido se exercitam quase que diariamente.
Eles começaram pelo judô e depois migraram para o jiu-jitsu e futsal. “O futsal é a paixão deles, fazem por esporte, por brincadeira, porque amam. Com relação ao jiu-jitsu, o objetivo é que desenvolvam as habilidades de controle emocional e defesa pessoal que esse esporte proporciona”, conta.
Mas, apesar do hábito dos pais, as crianças não se interessaram pelas aulas naturalmente e foi preciso insistir para que eles começarem a se exercitar. Até porque, a mãe ressalta, se deixar pela vontade da criança, ela vai preferir ficar fazendo algo cômodo, como assistir TV ou jogar videogame. “Hoje, porém, eles percebem que o esporte é um compromisso, chova ou faça sol, no verão ou no inverno. Eu sempre falo que a gente come todos os dias. Então, precisam se exercitar diariamente também. Descobri a importância da prática regular de atividade física já adulta e hoje a grande preocupação é a qualidade de vida na maturidade. No caso das crianças, o objetivo é que cresçam com essa consciência”, pontua.
Na família de Simone Chaves Lourenço, mãe de Bernardo e João, de 18 e 14 anos, a atividade física também sempre esteve presente – Bernardo pratica há 12 anos e João há 10 anos. Ela conta que ambos entraram na natação por decisão da família, mas depois escolheram as atividades que queriam fazer: o mais velho começou pela capoeira e judô na escola e depois migrou para o futebol e o tênis, que faz habitualmente; e o caçula, que também jogou tênis, hoje joga futebol e pretende ser atleta profissional. E o exemplo, novamente, partiu dos pais.
“Eu fazia balé, pilates e ginástica no passado e atualmente funcional, yoga e futebol, todas ao ar livre. O pai pratica tênis. Certamente o interesse dos meus filhos em atividades esportivas partiu pela observação do que nós, adultos, sempre fizemos. Mas, além disso, sempre enfatizamos para eles a importância de incluir atividades esportivas em suas rotinas, pois, além dos inúmeros ganhos para saúde física, há também a parte mental e social, como a convivência com outras pessoas, o aprendizado e desenvolvimento de habilidades novas e desafiadoras, entre outras. Acho interessante, também, apresentar diferentes modalidades aos filhos para que, naturalmente, eles possam escolher o que lhes atende mais naquele momento”, comenta.
Em certas famílias, porém, o exemplo do outro começa de forma inversa. Na casa de Margareth Garcia, mãe de Vivian, de 17 anos, e Fabio Luiz, de 11 anos, o hábito de praticar esportes foi dos filhos para os pais. “A minha filha pratica esporte desde os 8 meses de idade, quando colocamos ela na natação, onde ficou até completar 12 anos. Mas, antes disso, aos 4, começou o balé e, dois anos depois, quis mudar para o judô. Hoje ela é atleta federada e está estudando para no próximo ano pegar a faixa preta. Aos 12, também entrou para o time de vôlei do Esporte Clube Banespa, atuando desde a categoria pré-mirim até o infanto-juvenil”, conta. Já o filho também iniciou na natação aos 8 meses de idade e permanece na prática até hoje. No entanto, aos 5 anos, também entrou para o judô. “Ele também é atleta federado, participa de competições, e em 2022, foi campeão Paulista inter-regional, na categoria sub 11, peso ligeiro. Com a mesma idade, iniciou no futebol society e esse ano mudou para futsal”, explica.
E essa paixão pelos esportes acabou levando os pais a se exercitarem também. “Aqui em casa, nós quatro somos judocas federados, mas, por incrível que pareça, eles que nos incentivaram. Meu marido fez judô quando pequeno, parou aos 12 anos e voltou há 6 anos para poder estudar e tirar a faixa preta junto com a filha. E eu, de tanto levar as crianças para os treinos, resolvi fazer também. Comecei aos 42 e, ano passado, com 47 anos, participei pela primeira vez de uma competição de judô, ficando em 3º lugar no Campeonato Paulista. Também jogo vôlei. Iniciei na equipe master do Esporte Clube Banespa e agora faz quatro anos que estou na equipe do Clube Campo Belo”, lembra. Ela pontua, ainda, a importância dos pais sempre incentivarem e apoiarem os filhos em suas escolhas e em qualquer situação: “Não importa a modalidade que eles escolheram, estamos sempre ali torcendo, vibrando, incentivando e apoiando em todas as situações, sendo na vitória ou na derrota. Cabeça erguida sempre e, acima de tudo, respeito pelo adversário. Assim tem que ser um atleta, profissional ou não”, complementa.
A prática de esportes, é claro, é extremamente importante para o desenvolvimento da criança e do adolescente. Entretanto, é preciso ficar atento a determinados comportamentos que podem surgir por conta da competitividade e frustrações. Mariana Durante, mãe de Matheus, de 16 anos, conta que depois que o filho entrou para uma escolinha de futebol infantil, aos 5 anos, a paixão pelo esporte só cresceu. Devido a uma não escalação, porém, ele acabou perdendo o interesse pelo esporte. “Com 12 anos, ele começou a jogar no time da base dos Santos e até os 14 jogava em campeonatos. Chegou até a participar de peneiras para se profissionalizar. Mas, infelizmente, um técnico resolveu não escalar ele para um jogo e o fez perder o interesse pelo futebol”, lembra.
Justamente por isso, ela faz um alerta: “os pais devem ficar atentos sobre isso. As peneiras podem ser traumáticas. Muitas vezes, uma atitude negativa, como uma não escalação, ou até mesmo a falta de incentivo do professor com o aluno, podem desmotivar e destruir o sonho de uma criança. Isso aconteceu com o meu filho, quando o professor não quis escalar ele para um campeonato só pelo fato de não ir com o estilo de jogo dele. Esse episódio fez com que o Matheus perdesse a vontade de jogar futebol novamente. Felizmente, não acabou com o interesse pelos esportes e ele se encontrou em outras modalidades, como basquete, handball e vôlei, que pratica hoje no colégio. No entanto, poderia, sim, ter gerado algum trauma a ponto de acabar com a ligação dele com outras modalidades também”, observa.
BENEFÍCIOS COMPROVADOS
Se a prática mostra que os exercícios físicos são extremamente importantes para o desenvolvimento físico, social e emocional de crianças e adolescentes, a medicina, é claro, corrobora. O médico Vinicius Vieira, especialista em Endocrinologia e Medicina do Esporte, explica que praticar esportes na infância oferece inúmeros benefícios significativos para o desenvolvimento das crianças. Em primeiro lugar, a prática esportiva ajuda no desenvolvimento físico, fortalecendo os músculos e ossos, melhorando a coordenação motora, a resistência e a agilidade. Também contribui para o controle do peso e para a prevenção de doenças associadas ao sedentarismo, como a obesidade.
“Além disso, os esportes promovem o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças. Durante a prática esportiva, os jovens aprendem a definir metas, a se concentrar, a lidar com a pressão e a tomar decisões rápidas. Essas habilidades cognitivas são transferíveis para outras áreas da vida, como a escola e as relações sociais. Também proporciona um ambiente seguro para que as crianças experimentem emoções como alegria, frustração, competição saudável e trabalho em equipe, contribuindo para o desenvolvimento emocional e a capacidade de lidar com diferentes situações”, pontua, antes de complementar: “Por fim, os esportes oferecem às crianças a oportunidade de interagir com os colegas, desenvolvendo habilidades sociais importantes. Ao participar de equipes esportivas, as crianças aprendem a trabalhar em grupo, a respeitar as regras e os outros jogadores, a compartilhar vitórias e derrotas, e a valorizar a diversidade. Essas interações sociais promovem a construção de amizades duradouras, o senso de pertencimento e a autoconfiança.”
Ele enfatiza, ainda, como a prática de esportes pode ter um impacto significativo na saúde emocional das crianças, proporcionando oportunidades para as crianças desenvolverem habilidades sociais e interagirem com seus pares. “Participar de uma equipe esportiva ajuda as crianças a construírem amizades, aprenderem a trabalhar em equipe, desenvolverem habilidades de comunicação e lidarem com a pressão e as adversidades de forma saudável. Essas experiências promovem o senso de pertencimento e autoestima, reduzindo o isolamento e melhorando o bem-estar emocional”. Além disso, praticar exercícios de forma regular está associado à liberação de endorfinas, substâncias químicas que provocam sensações de prazer e bem-estar.
Outra vantagem é que, durante a prática esportiva, as crianças experimentam uma melhoria no humor e na redução do estresse, regulando os níveis de hormônios relacionados ao problema, como o cortisol, proporcionando uma sensação de calma e relaxamento após a atividade esportiva. “Isso contribui para a saúde emocional das crianças, ajudando a reduzir a ansiedade e a depressão”, avalia o médico. Por último, a prática de esportes pode ajudar a desenvolverem habilidades de enfrentamento e resiliência. “Ao se envolverem em competições esportivas, elas aprendem a lidar com vitórias e derrotas, a enfrentar desafios e a superar obstáculos. Essas experiências promovem o crescimento pessoal, fortalecendo a capacidade das crianças de enfrentarem dificuldades emocionais e adversidades na vida cotidiana. Através do esporte, as crianças aprendem a perseverar, a estabelecer metas e a se dedicarem, o que contribui para uma maior autoconfiança e uma atitude positiva em relação a si mesmas e aos outros”, esclarece.
Outro benefício da prática de esportes é em relação ao rendimento escolar. Para a médica Mônica Bergamo Lopes, pós-graduada em Nutrologia e Medicina do Esporte, a prática leva a perfeição, pois se dedicar aos exercícios é igual a se dedicar aos estudos. ”Estabelecer metas, horários e cronogramas. O resultado vem. Todo atleta dedicado tem potencial para ser um estudante dedicado. Além da parte disciplinar, existem também ganhos fisiológicos. A prática de esportes está relacionada à maior ganho de peso em músculo e altura, melhora do apetite e a melhor qualidade do sono. Crianças ativas têm maior fluxo sanguíneo cerebral, seguem lidando melhor com o estresse e tem melhor desenvolvimento cognitivo”, determina. Ou seja, esporte é igual a saúde mental.
Mas, e os tais campeonatos de jogos online, que muitas crianças e adolescentes têm participado e, consequentemente, muitas vezes deixam as atividades realmente esportivas, que mexem o corpo, de lado. Será que esses campeonatos podem diminuir o interesse das crianças pela prática de esportes? Para Vieira, não há um consenso absoluto sobre uma associação direta entre a proliferação de campeonatos de jogos online e a redução do número de crianças praticando esportes. “Embora seja verdade que a popularidade dos jogos online tenha aumentado significativamente nas últimas décadas, é importante considerar outros fatores que também podem influenciar a diminuição da participação das crianças em esportes tradicionais. Uma das principais razões para a redução da participação em esportes pode ser atribuída a mudanças culturais e sociais. As crianças de hoje são expostas a uma variedade de opções de entretenimento e atividades recreativas que não estavam disponíveis anteriormente.
TAMBÉM VALE?
Além dos jogos online, há uma infinidade de outras distrações, como redes sociais, streaming de vídeos, dispositivos móveis e outras formas de entretenimento digital. Essa diversificação de opções pode ter levado algumas crianças a optarem por atividades mais sedentárias, em detrimento dos esportes tradicionais. No entanto, também é importante reconhecer que os jogos online podem ter benefícios para as crianças, como o desenvolvimento de habilidades cognitivas, trabalho em equipe e socialização online. “Portanto, é necessário avaliar cada caso individualmente, pois nem todas as crianças que jogam online deixam de praticar esportes “de verdade”. Saiba também que, muitas vezes, a participação em jogos online pode ser complementar às atividades físicas, e não uma substituição completa. O equilíbrio entre diferentes formas de atividades recreativas é essencial para garantir um estilo de vida saudável e ativo para as crianças”, esclarece.
Sobre o tema, Bergamo pontua, ainda, um dado importante: embora não seja um exercício de fato, alguns trabalhos acadêmicos mostram que os esportes eletrônicos (eSports) estão ganhando espaço entre crianças e adolescentes, e, portanto, precisamos ficar de olho nos males que podem causar ao corpo. “Os eAthletes treinam pesado, competem em torneios, devem seguir as regras da competição, associação e órgãos reguladores, assim como todos os outros atletas. E assim como em qualquer outra disciplina competitiva, pode haver lesões. Só que, nesses casos, gerados por postura sentada aberrante, movimentos repetitivos, visão de tela, horas de jogo prolongadas e um estilo de vida sedentário que podem levar a vários riscos médicos nos sistemas musculoesquelético, oftalmológico, neurológico e metabólico. Ou seja, os jogos online vieram para ficar e temos que nos adaptar e ter controle de quanto tempo as crianças estão conectadas. Afinal, a criança não consegue entender a importância de se desconectar e praticar atividade física e cabe aos adultos balancear a vida real da virtual”, diz.
E praticar exercícios também é bastante benéfico para crianças com TEA. Douglas Vieira Machado, que tem pós-graduação em psicomotricidade para crianças e adolescentes com autismo e é psicomotricista na clínica Arte Psico Rudge Ramos, explica que, como a criança autista tem por característica um menor tônus muscular desde o nascimento, e, por consequência disso, apresenta um corpo mais frágil e menor coordenação motora, os exercícios físicos são fundamentais para um melhor desenvolvimento. Quando praticamos exercícios físicos, nosso corpo libera duas substâncias, a dopamina e a endorfina, que são hormônios do bem-estar.
“Com a prática regular de exercícios físicos, a criança com TEA passa a ter esses hormônios mais presentes no organismo, fazendo com que tenham uma saúde emocional melhor do que quando não praticam exercícios com regularidade. Ela também auxilia no desenvolvimento da capacidade de comunicação e, consequentemente, no comportamento social. Assim, a criança e adolescente com TEA tem uma melhora na capacidade de adaptação a lugares e pessoas e tem reduzidos episódios de agressões a colegas e consigo mesmo”, comenta. Ele ainda pontua que o exercício físico e a prática de modalidades esportivas ajudam a criança e o adolescente a terem maior concentração nas atividades acadêmicas. “O psicomotricista pode utilizar a prática das atividades para que o TEA faça cálculos matemáticos enquanto faz uma série de determinado exercício, por exemplo. Os exercícios também ajudam a diminuir as estereotipias, fazendo a criança na sala de aula se concentrar mais no que está sendo passado pelo professor”, complementa.
Douglas lembra, ainda, que a prática de exercícios regulares pode ajudar nos momentos de crise. “A criança ou adolescente com TEA que pratica regularmente exercícios físicos, nesses momentos vai possuir maior controle sobre seu corpo, tanto na parte física, o impedindo talvez de machucar a si mesmo ou outra pessoa, e também mais controle sobre seu emocional, já que o exercício ajuda as pessoas a irem conhecendo seu próprio corpo”, alerta.