Beber socialmente é comum em muitas culturas, mas o que o álcool faz no nosso cérebro vai muito além da euforia momentânea. O consumo altera neurotransmissores, afeta áreas cerebrais críticas e pode causar efeitos duradouros, dependendo da frequência e da quantidade.
Como álcool age no sistema nervoso central?
Assim que é ingerido, o álcool passa rapidamente do estômago para a corrente sanguínea e chega ao cérebro. Lá, ele atua como um depressor do sistema nervoso central. Isso significa que reduz a atividade cerebral, o que pode provocar relaxamento, lentidão de raciocínio e até perda de coordenação.
A substância interfere diretamente na comunicação entre neurônios, inibindo os receptores de glutamato (excitadores) e potencializando o GABA (inibitório), o que explica os efeitos calmantes. Além disso, há liberação de dopamina, o neurotransmissor associado ao prazer — o que ajuda a entender por que o consumo é visto como algo prazeroso, mesmo com seus riscos.
Quais áreas do cérebro são mais afetadas?
Os primeiros efeitos surgem no córtex pré-frontal, região ligada ao julgamento, tomada de decisões e autocontrole. Por isso, a pessoa tende a agir de forma impulsiva mesmo após poucas doses. Conforme a concentração de álcool aumenta, outras áreas são afetadas, como o cerebelo, responsável pela coordenação motora, e o hipocampo, ligado à memória.
Se o consumo continua, a região do tronco cerebral pode ser atingida. Essa área regula funções vitais como respiração e frequência cardíaca. Em casos extremos, pode haver risco de parada cardiorrespiratória — uma das causas de morte por intoxicação alcoólica.
Por que o álcool altera o humor e o comportamento?
O álcool influencia diretamente a liberação de neurotransmissores como serotonina e dopamina. Esses compostos são responsáveis pelas sensações de bem-estar e prazer. Com a ingestão de álcool, a elevação desses neurotransmissores pode gerar euforia, desinibição ou agressividade, dependendo da sensibilidade de cada indivíduo.
Outro ponto importante é que a substância prejudica o controle emocional. Assim, emoções reprimidas ou sentimentos intensificados — como tristeza, raiva ou ansiedade — podem emergir com mais força. Isso explica as mudanças de humor que algumas pessoas apresentam após beber.
@dr.danilo.vicente Você consegue perceber como o álcool afeta o seu humor e comportamento nos dias seguintes?? Entender isso pode ajudar na sua estabilidade! #neurociencia #saudemental #comportamentohumano #psiquiatra #psicologia #saudeemocional ♬ som original – Dr Danilo Vicente
Existe diferença entre os efeitos em homens e mulheres?
Sim. Homens e mulheres processam o álcool de maneiras diferentes. Fatores como a proporção de água no corpo, a atividade de enzimas hepáticas e a massa corporal influenciam na velocidade com que o álcool é metabolizado. Em geral, mulheres tendem a sentir os efeitos mais rapidamente, mesmo com a mesma quantidade ingerida.
Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que o risco de danos cerebrais também pode ser maior em mulheres, especialmente com o consumo frequente. Além disso, há diferenças hormonais que modulam a ação do álcool sobre o cérebro em diferentes fases do ciclo menstrual.
Quais mitos ainda cercam os efeitos do álcool?
Um dos mitos mais comuns é que o álcool “mata neurônios”. Na verdade, o que ocorre é uma disfunção na comunicação entre eles. Em casos de consumo crônico e excessivo, porém, pode sim haver danos estruturais irreversíveis, principalmente em áreas ligadas à memória e aprendizado.
Outro equívoco recorrente é acreditar que o café “corta” os efeitos do álcool. A cafeína pode mascarar a sonolência, mas não reduz a concentração de álcool no sangue nem reverte seus efeitos neurológicos. Apenas o tempo é capaz de eliminar o álcool do organismo.
Como os efeitos do álcool impactam o futuro da saúde mental?
O consumo contínuo de álcool, mesmo em doses moderadas, está associado ao aumento do risco de transtornos mentais, como depressão e ansiedade. Há também uma forte ligação com o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, como a demência precoce e a síndrome de Wernicke-Korsakoff.
Além disso, a iniciação precoce no consumo — muitas vezes durante a adolescência — afeta um cérebro ainda em formação. Isso pode comprometer o desenvolvimento cognitivo e emocional, com impactos que se estendem para a vida adulta.
O que podemos refletir sobre os efeitos do álcool no cérebro?
Compreender o que o álcool faz no nosso cérebro é essencial para escolhas mais conscientes. O consumo esporádico e responsável ainda é uma realidade social, mas conhecer os riscos ajuda a evitar excessos e prevenir danos.
A ciência já deixou claro: o cérebro sente os efeitos mesmo antes de o corpo perceber. Refletir sobre isso é um passo importante para equilibrar prazer e cuidado com a saúde mental.