Apesar de ainda não se conhecerem, as empresárias Kim Machlup e Luiza Lugli Tolosa têm muito em comum: as duas decidiram apostar na abertura do próprio negócio e, hoje, são sucesso na área que escolheram. Assim como elas, o número de mulheres que decidem empreender, buscando independência e autonomia financeira, aumenta de forma considerável a cada ano.
Tanto que, de acordo com a pesquisa GEM Brasil 2015 (Global Entrepreneurship Monitor), quando se trata da abertura de novos negócios, o público feminino está à frente do masculino. Para se ter ideia, os dados apontam que elas se destacam no quesito ’empreendedores novos’ – aqueles que possuem um negócio com menos de três anos e meio – sendo 15,4% contra 12,6% de homens.
Para celebrar as conquistas femininas, foi criado, em 19 de novembro, o ‘Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino’, uma iniciativa das Nações Unidas em parceria com várias instituições globais para incentivar mulheres a desenvolverem e liderarem seus próprios negócios. Aliás, a data comemorativa vai muito além disso: serve também para conscientizar sobre a desigualdade de gênero no mercado de trabalho, que ainda é muito presente.
A sócia-fundadora da cervejaria Dádiva, Luiza Lugli Tolosa, por exemplo, investiu em um mercado considerado por muitos como masculino. Para a empresária, é muito importante que as mulheres tenham a real liberdade para escolher onde querem trabalhar, e a presença delas no mercado cervejeiro vem mostrando isso.
“Felizmente, há muitas mulheres no meio cervejeiro que levantam a bandeira, colocam o dedo na ferida da sociedade, falam e agem para criar reflexões e mudanças. Elas mostram que podem chegar aonde quiserem e lutam por caminhos sem preconceitos e por mais oportunidades”, celebra.
Lugli acredita que, infelizmente, a mudança não é imediata. Mas, talvez, essa luta deve impactar mais a próxima geração do que a atual. “Assim como as nossas antepassadas já abriram caminhos para que as mulheres pudessem votar e trabalhar, temos que continuar abrindo caminhos para que a nova geração trabalhe num mercado com equidade de gênero”, afirma.
IDEIAS QUE VIRARAM NEGÓCIOS
A motivação para abrir o primeiro negócio pode nascer de diferentes formas, seja pela necessidade financeira, por um sonho ou até mesmo por seguir uma tradição familiar. No caso da empresária Kim Machlup, fundadora da Baskets, ter nascido em uma família de empreendedores foi o ponto inicial. Mais do que isso: ela sempre gostou muito de criar e construir coisas, principalmente quando havia um grande desafio envolvido.
Durante seis anos, Kim foi sócia de um fundo de investimento de impacto e, por meio deste trabalho, ela conheceu e investiu em muitos empreendedores. “Este mundo foi me conquistando cada vez mais, até o momento que senti que chegou a minha hora de empreender um negócio no qual eu mesma gostaria de ser cliente”, revela.
Foi aí que nasceu a Baskets, uma startup que conecta produtores artesanais brasileiros de alimentos e bebidas a consumidores. “Queremos promover a produção nacional, que é incrível e muita gente desconhece, ao trazer os pequenos produtores para o mundo digital”, afirma.
Para completar, a empresa de Kim foi inaugurada em plena pandemia, época em que muitos negócios acabaram encerrando suas atividades. “Foi justamente por causa dela que surgiu a necessidade de buscar uma plataforma que reunisse e facilitasse o acesso aos pequenos produtores. A pandemia acelerou também as compras online e isso fez com que o negócio tivesse mais certeza do caminho”, explica a empreendedora.
Trabalhando há anos com negócios de impacto socioambiental, a empresária procurou entender as dores dos produtores e também dos consumidores para pensar em um modelo de negócios que trouxesse uma solução boa para ambos os lados. E parece que deu certo, né?
A Baskets conecta produtores artesanais brasileiros de alimentos e bebidas aos consumidores / Foto: Arquivo Pessoal
MEDO DO NOVO… QUEM NUNCA?
Antes de abrir a cervejaria, Luiza sentiu receio, sim, e não foram poucos. Ela conta que conhecia muito pouco sobre este mercado que, segundo ela, se hoje é pequeno, na época era ainda menor.
“Eu não conhecia ninguém e ninguém me conhecia. Deu medo empreender com pouca experiência e conhecimento de mercado – e isso eu não recomendo, que fique bem claro. Este medo poderia ter sido evitado”, afirma.
Para dar início aos planos, a empresária fez curso de sommelier de cervejas em 2013, um ano antes da empresa começar a operar. “Foi lá que comecei a conhecer mais estilos e aí, sim, a cerveja virou um amor conquistado”, disse.
Ela conta que, em 2014, quando a Dádiva foi inaugurada, o intuito era sempre colocar no mercado produtos ousados, cervejas que expandissem os horizontes das bebidas artesanais.
“A gente procura olhar para a cerveja como um universo a ser desbravado, cada receita como um projeto desafiador. Algumas das nossas produções, inclusive, fazem paralelos com outros diversos mundos da gastronomia, como o do vinho, por exemplo”, destaca.
A empresária Luiza Lugli Tolosa apostou na ousadia e lançou cervejas diferenciadas no mercado/ Foto: Arquivo Pessoal
IMPORTÂNCIA DA PRESENÇA FEMININA NOS NEGÓCIOS
Para Kim, qualquer tipo de diversidade de visão sobre os negócios agrega muito e, com a mulher, não é diferente. “Acredito que temos um espaço importante a ser ocupado, trazendo nossa visão. Importante que isso não seja traduzido como uma adaptação de nossa visão à que existe hoje, mas sim de realmente trazermos uma nova lente para os negócios”, ela afirma, ressaltando que existem vários estudos sobre como empresas com mulheres na liderança desempenham melhor.
Luiza diz que, apesar da demora, a mudança em relação à presença feminina nos negócios está ocorrendo. “Há um movimento (espero que não apenas uma bolha) no qual o assunto é colocado à mesa para reflexão, onde as ideias evoluem e mais espaço é conquistado. É muito importante que nós, as mulheres, valorizemos as outras”, afirma.
E, segundo a empresária, o apoio entre mulheres pode ser feito de muitas formas, desde um comentário na rede social a gastar seu dinheiro em negócios fundados e geridos por elas. “Grupos de empreendedoras, ou de outra afinidade entre você e outras mulheres, fazem com que você veja que não está sozinha. Desculpem o clichê, mas esta união dá muita força”, garante.
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Muitos sonham em ter o próprio negócio, mas boa parte acaba ‘jogando a toalha’ antes mesmo de dar o primeiro passo. É sabido que montar uma empresa vai muito além de ter apenas dinheiro para investir, é preciso estar preparado e assumir os riscos, pois não existe uma receita de bolo para o sucesso.
No entanto, alguns passos são fundamentais e podem ajudar- e muito- nesse começo. Segundo Kim, o primeiro é não ter medo, já que errar é natural do ser humano, independentemente de gênero.
Ela explica que muitas mulheres se sentem fragilizadas diante de um espaço masculino e acreditam que o fracasso pode ser relacionado ao fato de serem mulheres e, por este medo, não se jogam nesta aventura. “Mas não é verdade! Somos tão capazes (ou mais! hehehe) do que os homens e podemos fazer muito! Precisamos nos arriscar, empreender e mostrar que temos todas ferramentas para prosperar”, garante.
Já Luiza chama a atenção para outro ponto crucial nessa caminhada rumo ao próprio negócio: o autoconhecimento. “Procure se conhecer bem. O que você sabe fazer bem, o que você gosta de fazer, quais são as suas fraquezas, o que você não tem experiência. Se conhecer bem ajuda a se planejar e a se cercar de pessoas que podem te ajudar naquilo que você não é tão boa ou tem tanta experiência”, aconselha.
Por fim, a empresária orienta que as mulheres não devem sofrer sozinhas. “Tem muita gente empreendendo e com as mesmas dúvidas que você. Crie ou participe de grupos de empreendedores, isso ajuda muito”, conclui.