A puberdade é um período cheio de transformações, e a menstruação é um dos momentos mais significativos na vida de uma menina. Conhecida como menarca, a primeira menstruação geralmente ocorre entre os 10 e 14 anos, mas pode variar dependendo de fatores como genética, alimentação e estilo de vida. Apesar de ser um processo natural, esse tema ainda é cercado de tabus e desinformação, o que pode gerar desconforto e até impactar a vida escolar das jovens.
Segundo o Patrick Bellelis, ginecologista especializado em endometriose e colaborador do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, “apenas uma pequena parcela das meninas se sente bem informada quando chega a primeira menstruação”. Esse cenário, aliado à falta de acesso a produtos e infraestrutura adequados, contribui para a pobreza menstrual, um problema que afeta milhões de meninas no Brasil.
Pobreza menstrual: um desafio que afeta a educação das meninas
A pobreza menstrual é uma realidade alarmante no país. De acordo com um relatório do Unicef, mais de 4 milhões de estudantes frequentam escolas sem condições básicas de higiene, como banheiros com papel higiênico e sabonete. Além disso, dados da ONU revelam que uma em cada quatro meninas falta às aulas durante o período menstrual por falta de absorventes ou infraestrutura adequada.
Essa situação pode resultar em até 45 dias de faltas escolares por ano, impactando diretamente o desempenho e a aprendizagem das jovens. “A desinformação, associada à falta de acesso a instalações e produtos de higiene pessoal, gera desconforto e até bullying, fatores que podem excluir as meninas de suas atividades escolares”, explica o Bellelis.
Volta às aulas: como apoiar as meninas durante o período menstrual
Com a volta às aulas, é essencial que escolas e famílias estejam preparadas para acolher as meninas nesse momento tão importante. A falta de diálogo e o desconhecimento sobre o tema podem aumentar o estresse e o constrangimento, especialmente para aquelas que estão vivenciando a menarca.
Para ajudar, é fundamental que as escolas ofereçam banheiros limpos e equipados, além de promoverem campanhas de conscientização sobre a menstruação. Em casa, os pais podem iniciar conversas abertas e sem tabus, garantindo que as meninas se sintam seguras e informadas. “A menstruação faz parte da vida e não deve causar qualquer preocupação ou constrangimento”, reforça o especialista.
Sinais de que a menstruação está chegando
Antes da primeira menstruação, o corpo dá alguns sinais que podem ser percebidos semanas ou até meses antes. Entre eles, estão o crescimento dos seios, o aparecimento de pelos pubianos e axilares, e o surgimento de secreção vaginal. Além disso, é comum que as meninas notem mudanças no corpo, como o aumento dos quadris, ganho de peso e até alterações de humor.
Após a menarca, é normal que as jovens sintam cólicas menstruais, conhecidas como dismenorreias primárias. “A cólica é causada pela contração da musculatura do útero e pode gerar desde um mal-estar leve até uma dor mais intensa, que também pode impedir a menina de ir à escola”, explica o Bellelis.
Menstruação precoce ou tardia: quando procurar ajuda médica
Em alguns casos, a menstruação pode ocorrer de forma precoce ou tardia, o que exige atenção especial. A puberdade precoce, por exemplo, acontece quando a menarca ocorre antes dos 8 anos. Nesses casos, as meninas podem apresentar desenvolvimento das mamas, surgimento de acne e até odor corporal adulto. Além dos impactos físicos, essa condição pode causar problemas emocionais, já que as meninas podem se sentir diferentes das colegas.
Por outro lado, a ausência de menstruação após os 15 anos, conhecida como amenorreia primária, também merece atenção. “Se uma jovem perceber que a menstruação está interferindo em sua capacidade para ir à escola ou fazer qualquer outra atividade cotidiana, é importante que procure um médico”, orienta o especialista.
Como combater a pobreza menstrual e garantir direitos básicos
Combater a pobreza menstrual é um passo essencial para garantir que todas as meninas tenham acesso a condições dignas durante o período menstrual. Isso inclui a distribuição gratuita de absorventes, a melhoria da infraestrutura escolar e a promoção de campanhas de conscientização.
Além disso, é fundamental que a sociedade como um todo se mobilize para quebrar tabus e promover um diálogo aberto sobre o tema. Afinal, a menstruação é um processo natural e não deve ser motivo de vergonha ou exclusão.
Volta às aulas com mais consciência e acolhimento
A volta às aulas é um momento de recomeço e aprendizado, e isso inclui também a forma como lidamos com a menstruação no ambiente escolar. Ao oferecer suporte e informação, podemos garantir que as meninas se sintam confortáveis e seguras para vivenciar essa fase sem medo ou constrangimento.
Como bem ressalta o Bellelis, “a menstruação faz parte da vida e não deve causar qualquer preocupação ou constrangimento”. Vamos, juntos, transformar essa realidade e garantir que todas as meninas tenham o direito de viver essa fase com dignidade e respeito.
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