Com a chegada das festas de fim de ano, muitos pais e familiares começam a se perguntar quais presentes são mais adequados para as crianças. Embora a vontade de agradar seja grande, é essencial ter em mente que nem todos os itens são indicados para os pequenos.
AnaMaria conversou com a psicóloga Manueli Tomasi, onde exploramos os tipos de presentes que devem ser evitados, levando em conta a segurança, o desenvolvimento e o bem-estar das crianças.
Afinal, um presente deve não apenas trazer alegria, mas também ser apropriado para a idade e as necessidades dos pequenos.
Exposição precoce das crianças
A reflexão sobre o impacto da ideologia mercadológica e de consumo na vida das crianças e adolescentes é mais do que necessária; é urgente. Em um mundo saturado por discursos que exaltam a posse de objetos e a busca por vidas “instagramáveis”, observamos uma transformação nas relações sociais e na construção de identidade das novas gerações. O valor atribuído ao ter em detrimento do ser gera um ambiente em que o reconhecimento social se torna atrelado à aparência e ao consumo.
Nesse contexto, as crianças se tornam espectadoras de um espetáculo onde os brinquedos, muitas vezes exibidos em plataformas como Instagram e TikTok, se transformam em símbolos de status. Essa exposição precoce a estilos de vida idealizados não apenas distorce a compreensão do que é a infância, mas também impõe padrões de beleza que, longe de serem inclusivos, representam uma violência aos direitos fundamentais de crianças e adolescentes.
Neste cenário, onde o consumismo e a competição se intensificam, é essencial que reavaliemos as formas como promovemos o brincar e a vivência da infância. Precisamos cultivar um espaço que valorize a autenticidade, a criatividade e a empatia, em vez de submeter as crianças a um ideal estético que, muitas vezes, é inatingível e prejudicial. A mudança começa com a conscientização e a crítica ética ao modelo vigente, permitindo que possamos construir um futuro mais justo e saudável para todos.
“A exposição a produtos de beleza na infância e o uso dos filtros, promove a valorização
de um ideal de vida e estético, podem colaborar para adoecimentos psicossociais da infância,
principalmente quando falamos de meninas, que marcadas por pressões de gênero, sofrem
para estarem à altura do ser “bela”, como, por exemplo, corpo magro e curvaturas”, explica a especialista.
Efeitos psicológicos
A sexualização precoce das crianças tem se tornado uma preocupação crescente em nossa sociedade, impactando diretamente seu desenvolvimento saudável. Essa influência se manifesta na adoção de características, gestos e comportamentos que não correspondem à sua faixa etária, levando a uma adultização incompatível com seu desenvolvimento físico, mental e emocional.
Durante a infância, as bases psíquicas de um indivíduo são estabelecidas. É um período crucial para a formação das primeiras visões de mundo, onde o lúdico e o simbólico desempenham papéis fundamentais.
Quando as crianças são expostas a ideais e comportamentos sexualizados, essa vivência se torna distorcida, prejudicando a construção de uma identidade saudável e segura. O brincar, que deveria ser um espaço de exploração e descoberta, muitas vezes é inundado por expectativas que não pertencem a essa fase da vida.
“Para brincar não é necessário apenas objetos de valor ou o último brinquedo lançado. Brincar e se divertir pode ser um caminho de conexão entre adultos e crianças, com espaços para brincadeiras de recortes, pinturas, desenhos, jogos que estimulem a imaginação, mas que seja um processo de desconexão das mídias e mais tempo com as crianças e com a criança que habita em cada adulto”, aponta Manueli.
Essa dinâmica é especialmente evidente em datas comemorativas, como o Dia das Crianças ou Natal, que, em vez de ser uma celebração das relações afetivas e do tempo de qualidade, acaba se transformando em um evento que prioriza o lucro e o impulso econômico das grandes indústrias.
Como escolher presentes
Romper com uma ideologia mercadológica que prioriza o consumo em detrimento das relações humanas é essencial para promover uma infância mais saudável e plena. É fundamental incluir tempo de qualidade, brincadeiras e brinquedos que estimulem a criatividade, a diversão e o vínculo entre crianças e adultos.
Esses elementos são essenciais para o desenvolvimento emocional e social dos pequenos, proporcionando experiências significativas que vão muito além do simples ato de receber presentes.
Não é justo esperar que as crianças sejam calmas ou que se desconectem das tecnologias e do consumo quando estão constantemente cercadas por esses estímulos, muitos dos quais vêm dos próprios adultos. A pressão por estar sempre atualizado, seja por meio de gadgets ou das últimas modas, é uma realidade que as crianças absorvem. Quando os adultos se envolvem com esses mesmos padrões, dificultam o entendimento das crianças sobre a importância de equilibrar diversão, criatividade e momentos de interação genuína.
Promover brinquedos que incentivem o brincar livre, atividades ao ar livre e interações sociais é um passo crucial. Essas experiências ajudam a desenvolver a imaginação e a capacidade de resolução de problemas, além de fortalecer laços familiares.
Quando os adultos se dedicam a momentos de qualidade, como ler juntos, brincar de forma colaborativa ou simplesmente conversar, estão criando um ambiente onde as crianças podem aprender a valorizar o estar junto, em vez de apenas o ter.
Assim, é preciso promover uma mudança cultural que valorize experiências autênticas em vez de produtos, afirma a psicóloga.
Quais itens não devemos presentear as crianças?
Ao escolher presentes para crianças, é importante considerar não apenas a diversão, mas também a segurança e o desenvolvimento saudável. Um dos itens que deve ser evitado são brinquedos com peças pequenas, pois representam risco de asfixia para crianças menores. Da mesma forma, brinquedos com partes cortantes podem causar cortes e lesões, sendo essenciais para a segurança dos pequenos.
Presentes que sexualizam ou adultizam as crianças, como certos brinquedos ou roupas, devem ser evitados, pois promovem estereótipos de gênero e comportamentos inadequados para a idade. Isso inclui também maquiagens para crianças, que contêm muitas vezes químicos prejudiciais e incentivam pressões para atender a padrões de beleza que não são adequados.
Além disso, tecnologia excessiva deve ser evitada, uma vez que dispositivos que incentivam o uso prolongado de telas podem substituir brincadeiras ativas e criativas. Brinquedos que imitam comportamentos de adultos, como kits de “cuidado com bebês” ou utensílios de cozinha, podem pressionar as crianças a se comportar de forma madura demais.
Por último, é importante evitar brinquedos que promovem a competição excessiva, pois podem gerar estresse e ansiedade, em vez de proporcionar diversão e aprendizado.
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