Dessa forma, a nova produção da Netflix, Senna, acerta em conduzir a narrativa com foco na vocação, determinação e ambição do piloto e mostrar um pouco do percurso que ele teve que percorrer até chegar ao estrelato. Era um mundo completamente diferente, um Brasil pós-ditadura e um planeta pós Guerra Fria. Já a Fórmula 1, modalidade que o consagrou, era um esporte considerado europeu e elitizado: vale pensar no episódio que mostra um membro da monarquia de Mônaco entre um dos principais convidados de uma festa privada das equipes.
Por isso, ao conectar o esporte dos colonizadores ao sonho nacional, Senna se tornou uma espécie de príncipe brasileiro.
E, para que este conto de fadas se tornasse completo, faltava apenas uma grande princesa! E é neste quesito que a série derrapa, já que sabemos amplamente que Adriane Galisteu foi o último grande amor da vida do piloto, quando era apenas uma modelo pobre e no início da carreira. O que para muitos não combinava!
Neste sentido, indo contra a realidade e seguindo um imaginário quase feudal, a série reproduz os preconceitos de classe da família de Senna, exclui Galisteu da jogada, cria rivalidade feminina, e, sem grandes surpresas, dá mais tempo de tela para Xuxa, a “rainha” dos baixinhos… A questão aqui é que o desejo sempre costuma falar mais alto!
Ressalto aqui que a exclusão de Galisteu da série, tendo apenas 2 minutos, foi um pedido que partiu da própria família de Ayrton Senna. Uma grande bobagem na verdade, né? Como se ignorar os fatos fosse trazer de volta quem já se foi.
Apesar disso, a série é excelente! Recupera a saga e o brilho de Ayrton Senna que, para muitos como eu, era apenas um herói do passado.