Dormir é muito importante para a nossa saúde. Tanto que o dia 17 de março foi escolhido para ser o Dia Mundial do Sono. Nas consultas com meus pacientes, inclusive, costumo dizer que, se o sono não fosse importante, não dormiríamos cerca de um terço das nossas vidas. No entanto, existem várias doenças que atrapalham o sono, sendo que o ronco e a Síndrome da Apneia do sono as mais frequentes.
Muito além das brincadeiras entre amigos, sobre quem ronca mais ou menos, o ronco tem grande impacto na eficiência do sono e pode esconder algumas doenças sérias, piorando outros problemas de saúde. Para entender melhor, vamos por etapas!
O QUE CAUSA O RONCO?
O ronco é um ruído causado pelo estreitamento das vias aéreas superiores durante a passagem do ar. Tal estreitamento causa vibração de estruturas como o palato mole (conhecido com céu da boca), úvula, língua, amígdalas e faringe e gera o barulho que identificamos como ronco.
É NORMAL RONCAR?
O ronco pode ser normal quando ocorrer em algumas condições, como quando a pessoa está mais cansado ou após uso de bebidas alcoólicas. Neste caso, acontece um relaxamento muscular que leva a língua a cair para trás, reduzindo a passagem do ar e gerando o ruído.
Durante um resfriado, também costuma acontecer a congestão nasal, causando o ronco e sendo algo normal. Contudo, quando ele acontece todos os dias ou é mais alto, denota obstrução importante a passagem do ar e pode indicar a síndrome da apneia do sono.
E O QUE É ESSA TAL APNEIA DO SONO?
Quando falo apneia do sono, ou da suspeita dela, quero que vocês entendam que o problema é mais do que apenas o barulho. Isso porque o som gerado pelo ronco é apenas a ponta do “iceberg”. Como o ronco resulta da obstrução da passagem do ar, essa obstrução causa uma pausa respiratória.
Por definição, a pausa respiratória deve durar mais do que 10 segundos. Na maioria das vezes, ocorre repetidamente durante o sono (o número de vezes depende da gravidade da doença), reduzindo a oxigenação sanguínea e impactando a qualidade do sono, função cardíaca, entre outros.
Na apneia do sono, o roncador para de respirar várias vezes durante a noite por conta da obstrução. Ou seja, o roncar não é sinal de que o sono seja bom, muito pelo contrário, mostra haver obstrução da passagem e ar e redução de oxigênio no corpo.
SERÁ QUE EU TENHO APNEIA DO SONO?
Alguns sintomas sugerem a ocorrência de mais do que apenas ronco. Entre eles, estão:
- Boca seca ao acordar ;
- Pausas respiratórias presenciadas durante o sono – com ou sem sons sufocantes – e sensação de sufocamento ;
- Sonolência diurna ou fadiga;
- Sono fragmentado;
- Dor de cabeça matinal;
- Nocturia (acordar durante a noite para ir ao banheiro urinar);
- Dificuldade na concentração e perda de memória;
- Irritabilidade.
Para ter certeza é necessária uma avaliação específica com um médico otorrinolaringologista, que vai examinar nariz, boca e garganta do paciente na busca de pontos de obstrução a passagem do ar. Além disso, um exame específico do sono, chamado de polissonografia, nos ajuda a confirmar a presença de apneia, determinar sua gravidade, guiar o tratamento mais adequado e diferenciar a presença de outras doenças do sono.
Cada caso terá um tratamento mais adequado, que pode envolver ou não uma cirurgia, uso de aparelhos para dormir melhor e até fonoterapia para fortalecimento da musculatura da via respiratória.
TEM COMO PREVENIR O RONCO?
Alguns fatores funcionam como agravantes do problema como a posição do sono, como uso de bebidas alcoólicas, obesidade, uso de remédios para dormir ou de calmantes. Obstrução nasal e excessos alimentares antes de dormir também pioram os sintomas. Importante frisar que a apneia do sono é uma doença crônica séria que, se não tratada adequadamente, traz grandes impactos ao corpo a longo prazo.
MAS NÃO PODE FICAR RONCANDO?
Não! As apneias repetidas, queda de oxigênio no sangue e desequilíbrio do sono aumentam o risco de desenvolver aterosclerose, hipertensão arterial sistêmica, insuficiência coronariana, arritmias e acidente vascular encefálico, sem falar a redução da qualidade de vida e desempenho social e no trabalho.
Portanto, se você ou seu parceiro tem esses sintomas, vale uma avaliação médica!
*DRA. MAURA NEVES é formada na Medicina pela Faculdade de Medicina da USP. Residência em Otorrinolaringologia pelo HC- FMUSP. Fellow em Cirurgia Endoscópica pelo HC- FMUSP. Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP. Médica Assistente do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo -SP. Aqui na Revista AnaMaria, trará quinzenalmente um conteúdo novo sobre a saúde do ouvido, nariz e garganta. Instagram: @dra.mauraneves