Olá a todos! Estamos próximos das férias de fim de ano, com a promessa de muita diversão por vir. Assim, escolhi explicar tudo sobre as dores de ouvido durante viagens de avião, justamente para você ficar prevenido e não perder nada do descanso!
Para entender o motivo da dor é importante primeiro lembrar que o ouvido (orelha media- atrás do tímpano) é um espaço com ar. De um lado temos a membrana timpânica e, do outro, há a tuba auditiva, estrutura ósseo-cartilaginosa que comunica a orelha média ao fundo do nariz (rinofaringe) e que regula a entrada e saída de ar de dentro do ouvido.
Esta entrada e saída de ar permite a equalização da pressão da orelha média com a pressão do meio ambiente, o que mantém o sistema de transmissão do som em pleno funcionamento.
Alterações nesse mecanismo de entrada e saída do ar levam incômodos nos ouvidos, que variam dede uma sensação de ouvido tampado (disfunção da tuba auditiva) a dores importantes e lesões auditivas, que chamamos de barotrauma (trauma por variação de pressão).
MAS, ENTÃO, COMO FUNCIONA A TUBA AUDITIVA?
Quando estamos em repouso, a tuba encontra-se fechada. Neste período, o ar contido na orelha média vai sendo reabsorvido pelo ouvido, o que causa uma pequena pressão negativa. Isto é normal e ajuda na entrada do ar quando a tuba e abrir.
Para abrir a tuba contamos com dois músculos, o músculo tensor do véu palatino (o mais eficiente) e o levantador do véu palatino, que abrem a tuba durante uma deglutição ou bocejo. Uma pessoa normal deglute uma vez por minuto quando acordado e uma vez a cada cinco minutos quando dormindo. Este será o tempo normal de renovação do ar dentro do ouvido.
E POR QUE ACONTECE A DOR DE OUVIDO?
Como falei acima, quando a tuba auditiva não funciona adequadamente podemos ter sintomas. Isto ocorre tanto em voos e mergulhos (variação de pressão do meio ambiente que necessitam de compensação ativa da tuba auditiva), quanto em diversas situações do dia a dia, como gripes, por exemplo.
Falando nisso, em condições como gripes, resfriados, rinite ou sinusites nas quais há congestão nasal, presença de secreção nasal ocorre inflamação da tuba auditiva e esse sistema de entrada/saída de ar nos ouvidos fica prejudicado. Este é inclusive um dos mecanismos que geram infecções como otites nestes casos.
Já em voos e mergulhos será necessário um ajuste dos ouvidos por conta da mudança de pressão do meio ambiente. Este ajuste é diferente na decolagem e no pouso.
A mudança da pressão durante o voo depende da velocidade da subida ou descida. Começando na pressão no nível do mar e ganhando altitude, é necessária uma mudança de 3 a 5 mmHg (40 – 60 metros) antes que ocorram sintomas, que se inicia com a sensação de ouvido cheio.
Ao atingir 15 mmHg de diferencial (160 metros), sente-se um estalo no ouvido, o tímpano volta para a posição anterior e a plenitude auricular desaparece. A tuba é forçada a se abrir pelo excesso de pressão na cavidade timpânica e permanece aberta até que o diferencial de pressão fique menos de 40 metros.
Na descida (tanto em pousos quanto em mergulho), ao contrário, a pressão negativa dentro da cavidade timpânica impede a abertura da tuba que só se abrirá com manobras (como deglutição, movimentos da mandíbula, mascar chicletes ou Valsalva).
Se a tuba não abre regularmente durante a descida, cria-se um grande diferencial de pressão, que, quando alcança um nível de 80 a 90 mmHg, gerando uma incapacidade dos músculos tubários em se abrirem com manobras, sendo necessária ascensão da aeronave ou parada do mergulho) para não haver ruptura da membrana
POUSO VERSUS MERGULHO
Em relação à aviação, o mergulho apresenta o atenuante de que as velocidades de ascenso e descenso são mais lentas, entretanto, o meio aquático ser hiperbárico, ou seja, pequenas variações de profundidade provocam grandes diferenças pressóricas. Desta forma, observa-se mais barotrauma, em termos relativos, em mergulhos que na aviação.
QUAIS SÃO OS SINTOMAS DO BAROTRAUMA?
Os sintomas variam conforme a lesão sofrida e podem ser leves (dor de ouvido leve, sensação de ouvido cheio, zumbido com baixo volume, diminuição da audição) e, geralmente, desaparecem rapidamente logo que a ventilação é restabelecida. Na lesão severa temos dor de ouvido intensa, às vezes incapacitante, perda severa da audição, zumbido, mais intenso, vertigem e perfuração timpânica.
DICAS PRÁTICAS
- Sempre em voos levar uma balinha ou garrafa de água para ajudar a abertura da tuba auditiva;
- Evitar voar e/ou mergulhar quando houver sintomas de obstrução nasal;
- Realize lavagem nasal para manter a saúde em dia;
- Consulte seu otorrino em caso de dúvidas.
*DRA. MAURA NEVES é formada na Medicina pela Faculdade de Medicina da USP. Residência em Otorrinolaringologia pelo HC- FMUSP. Fellow em Cirurgia Endoscópica pelo HC- FMUSP. Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP. Médica Assistente do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo -SP. Aqui na Revista AnaMaria, trará quinzenalmente um conteúdo novo sobre a saúde do ouvido, nariz e garganta. Instagram: @dra.mauraneves