A cirurgia bariátrica é uma alternativa eficaz para pessoas com obesidade que não conseguiram resultados duradouros apenas com dieta, atividade física e acompanhamento clínico. Além de promover perda significativa de peso, ela ajuda no controle de doenças associadas, como diabetes tipo 2, hipertensão e apneia do sono.
Mas você sabia que existem diferentes técnicas de bariátrica? Cada uma tem características próprias, mecanismos de ação distintos e indicações específicas.
Como funcionam as cirurgias bariátricas
De forma geral, os procedimentos atuam de duas maneiras principais:
- Restritivos: reduzem o tamanho do estômago, limitando a quantidade de alimento ingerido.
- Disabsortivos: diminuem a absorção de nutrientes, ao modificar o trânsito intestinal.
Algumas técnicas combinam os dois mecanismos, potencializando os resultados.
Os principais tipos de cirurgia bariátrica
- Bypass Gástrico em Y de Roux
É o procedimento mais realizado no Brasil. Consiste em criar um pequeno reservatório no estômago e conectá-lo diretamente ao intestino delgado, desviando parte do trânsito alimentar.
- Mecanismo: restritivo e disabsortivo.
- Vantagens: grande perda de peso, melhora rápida do diabetes tipo 2.
- Atenção: exige acompanhamento nutricional rigoroso, pois pode levar a deficiências vitamínicas.
- Gastrectomia Vertical (Sleeve)
Nessa técnica, cerca de 70 a 80% do estômago é retirado, deixando-o em formato de tubo.
- Mecanismo: restritivo.
- Vantagens: manutenção do trânsito intestinal, menor risco de deficiência nutricional que o bypass.
- Atenção: pode aumentar o risco de refluxo gastroesofágico.
- Derivação Biliopancreática com Duodenal Switch
É uma técnica mais complexa e menos realizada. Preserva parte do estômago (como no sleeve), mas altera significativamente o trajeto intestinal.
- Mecanismo: restritivo e fortemente disabsortivo.
- Vantagens: maior perda de peso entre todas as técnicas, excelente controle de diabetes.
- Atenção: risco elevado de deficiências nutricionais; hoje praticamente abandonada na prática clínica.
- Banda gástrica ajustável
Um anel de silicone inflável é colocado ao redor da parte superior do estômago, criando uma pequena bolsa que limita a passagem de alimentos.
- Mecanismo: restritivo.
- Vantagens: procedimento reversível, menos invasivo.
- Atenção: resultados menos expressivos; em muitos países, caiu em desuso.
Novas técnicas em estudo no Brasil
A cirurgia bariátrica continua em evolução, e novas técnicas vêm sendo pesquisadas para melhorar a segurança e a eficácia dos resultados. Por aqui, eu acompanho de perto junto ao Instituto Medicina em Foco sob a minha coordenação, todos esses avanços, participando de discussões científicas e contribuindo para a difusão de conhecimento.
Sleeve com válvula antirrefluxo
O sleeve gástrico tradicional é hoje uma das técnicas mais realizadas no país, mas pode estar associado ao aumento do refluxo gastroesofágico. Para reduzir esse efeito, surgiram estudos sobre o sleeve com válvula antirrefluxo, que acrescenta um mecanismo para proteger contra esse sintoma.
Essa técnica ainda tem caráter experimental e não está amplamente disponível, mas representa uma linha promissora de pesquisa.
SADI-S (Single Anastomosis Duodeno-Ileal bypass with Sleeve)
O SADI-S combina o sleeve gástrico com uma derivação intestinal única, buscando unir bons resultados de perda de peso e controle metabólico a um risco menor de complicações nutricionais quando comparado ao duodenal switch.
Também considerada uma técnica de uso experimental no Brasil, o procedimento vem sendo estudado em centros especializados como no Instituto Medicina em Foco, o qual eu acompanho esses avanços de forma crítica, avaliando o potencial futuro da técnica.
Qual a melhor cirurgia para cada caso?
Não existe uma “melhor” técnica universal. A escolha depende de fatores como:
- Grau de obesidade e presença de doenças associadas.
- Hábitos alimentares e estilo de vida.
- Condições anatômicas e clínicas do paciente.
- Expectativas em relação à perda de peso e qualidade de vida.
O mais importante é que a decisão seja feita junto a uma equipe multidisciplinar — cirurgião, nutricionista, endocrinologista e psicólogo — garantindo segurança, acompanhamento e resultados sustentáveis.
A cirurgia bariátrica é uma ferramenta poderosa contra a obesidade, mas não é uma solução mágica. Independentemente da técnica escolhida, o sucesso a longo prazo depende da adesão a novos hábitos de vida, acompanhamento médico e autocuidado contínuo. Mais do que perder peso, trata-se de ganhar saúde e qualidade de vida.
Dr Rodrigo Barbosa, cirurgião digestivo sub-especializado em cirurgia bariátrica e coloproctologia do corpo clínico dos hospitais Sírio Libanês e Nove de Julho. Sou também CEO do Instituto Medicina em Foco e coordenador do Canal ‘Medicina em Foco’ no Youtube.