No desfile da folia, ninguém quer ver criança passando perrengue! E para garantir que os pequenos foliões brilhem na avenida do Carnaval sem sustos, é preciso um verdadeiro Kit de Sobrevivência Nota 10. Mas o que pode e o não se pode fazer com os pequenos na hora de comemorar a festividade mais esperada pelos brasileirinhos?
Na coluna de hoje, conversamos com especialista que vão desmistificar mitos e trazer verdades sobre como curtir esses dias com nossos pequenos foliões.
Atenção à pele
A gente sabe que o calor é um convite para camisetinhas e roupas de banho para sair em bloquinhos. Entretanto, todo cuidado é pouco quando se trata da pele de crianças (e de adultos também).
O pediatra Cláudio Ortega, de Niterói, pontua que sol forte, calor intenso e muita exposição ao ar livre exigem uma dupla de respeito na proteção: protetor solar e chapéu. “O filtro solar deve ter FPS acima de 30 e precisa ser reaplicado a cada duas horas”, reforça Ortega. A também pediatra Mariana Dagostino Bolonhezi D’avila, do Instituto Macabi, explica o porquê. “A radiação ultravioleta (UV) pode penetrar através das nuvens e refletir em superfícies, alcançando a pele e causando danos. Portanto, a aplicação de protetor solar deve ser mantida”.
Ainda sobre proteção, é importante trazer um alerta já que muitos pais ainda têm dúvidas: sim, mesmo com o tempo nublado ou à sombra, é preciso usar filtro. “As crianças não deveriam sair nunca em exposição solar sem filtro solar. E aí, pensando no carnaval, que geralmente as crianças saem para brincar em áreas descobertas, é essencial também que elas estejam protegidas. Lembrar de usar o filtro solar, de também usar roupas de proteção UV e da hidratação, que é uma grande aliada nesse processo. Então é preciso tomar bastante água”, orienta Lívia Franco, pediatra e docente do curso de Medicina do Centro Universitário Max Planck (UniMAX Indaiatuba). Ela lembra, ainda, que as roupas com proteção são estratégias complementares. “Primeiro porque elas não vão pegar toda a região do corpo, pois rosto, mãos e pés ficam para fora. E se as roupas estiverem muito molhadas ou esticadas, podem reduzir bastante a proteção. Então, o essencial é combinar a barreira da roupa com o filtro solar. Lembrando que menores de seis meses de idade não podem usar ainda o filtro solar, sendo assim, nesse caso específico, é recomendado sempre as roupas UV”, complementa.
Mas, atenção: para bebês menores de 6 meses, o uso de protetor solar não é recomendado. “Nessa faixa etária, a proteção deve ser garantida por meio de roupas adequadas, chapéus de aba larga e permanência na sombra. A partir dos 6 meses, são indicados protetores solares específicos para crianças, preferencialmente aqueles com filtros físicos e/ou minerais”, orienta Mariana.
Ortega lembra, ainda, que é válido investir em tecidos leves, como algodão, que ajudam a evitar superaquecimento e irritações na pele. “Evite roupas apertadas ou acessórios pesados que possam incomodar”, orienta Ortega. O look ideal é aquele que permite correr, brincar e aproveitar sem incômodos!
Outra medida necessária relacionada à pele é a proteção contra os mosquitos, que normalmente aparecem mais quando está calor. Por isso, o uso de repelentes infantis é fundamental – inclusive, vale investir em produtos à base de icaridina, que são os mais indicados para crianças.
De olho na alimentação
Ir para bloquinhos e bailes é uma alegria, mas é preciso manter o corpo em condições para aproveitar esses dias. Ou seja, nada de arriscar na alimentação.
Para Claudio, a melhor escolha é levar lanchinhos leves e confiáveis, como frutas picadas, biscoitos simples e sanduíches naturais. “Evite comidas vendidas na rua, pois podem estar expostas a temperaturas inadequadas e trazer risco de intoxicação alimentar”, explica Ortega. Para Livia, o risco de intoxicação, comendo alimentos na rua, de procedência não conhecida, é muito grande. “Então, o ideal é consumir alimentos nos lugares que você já conhece e confia. Uma opção também válida é levar algo de casa, podendo ser um lanche mais natural. Porém, deve estar em condição adequada de refrigeração. Isso porque, levar algo da geladeira e deixar em exposto ao sol, é muito perigoso e pode estragar rapidamente”, avalia.
Mariana comenta, também, que é aconselhável evitar alimentos de difícil digestão, como frituras, comidas gordurosas e processadas. “Optar por refeições leves, ricas em frutas, verduras e proteínas magras, garante energia adequada e bem-estar durante as atividades”. E Livia complementa: “É importante também evitar que a criança consuma alimentos jamais consumidos e que podem causar alergias ou algum desconforto”, diz.
Outro ponto importante é sobre a hidratação, já que o calor faz a criançada suar mais e perder líquidos rapidamente. “A oferta de água deve ser constante, mesmo que a criança não peça. Água de coco e sucos naturais também são boas opções, mas refrigerantes e bebidas muito açucaradas podem aumentar a sede”, alerta Ortega. Para Livia, apenas água é suficiente. “Mas é preciso lembrar que, além da quantidade normal de água que uma criança deve ingerir no dia, em situações de exposição maior e com grande perda de líquido, essa quantidade precisa ser aumentada”, analisa Livia.
Segurança merece atenção dobrada
Multidão e criança pequena não combinam sem uma dose extra de segurança. Por isso, o ideal é que os pais coloquem pulseiras de identificação nos pequenos foliões, com nome, telefone dos responsáveis e possíveis alergias. “Além disso, crianças pequenas devem estar sempre de mãos dadas com um adulto responsável”, reforça o pediatra.
Outro ponto importante é, quando as crianças já são mais crescidas, ter um local de encontro em caso de se perderem. Mas é preciso que seja um lugar de fácil identificação para a criança, como uma loja, um prédio ou qualquer ponto de referência. Embora os mais velhos já andem com celular, nunca é bom pegar em áreas com aglomeração de pessoas ou que tenham muito barulho, pois correm os risco de não escutarem nada ao tentar falar. Então, um bom plano B é deixar um ponto de encontro já marcado em caso de desencontros.
Falando em volume alto, uma medida bastante esquecida é sobre fones de ouvido abafadores, que podem realmente proteger a audição das crianças no meio da folia. “Fones de ouvido abafadores são eficazes na proteção auditiva das crianças em ambientes ruidosos, como blocos de Carnaval. Os abafadores reduzem o impacto do som sem impedir a criança de interagir com o ambiente, recomendados especialmente para bebês e crianças pequenas”, avalia Mariana.
Vale lembrar, ainda, quando se fala sobre segurança para os pequenos no carnaval, que os blocos de crianças geralmente são adaptados com som mais baixo e com melhora na sua infraestrutura. “Frequentar os blocos de adulto tem esse problema do som muito alto, da falta de infraestrutura para elas em relação a banheiros etc, além do contato com adultos alcoolizados, que podem ter comportamentos inadequados com as crianças. Temos, ainda, a questão da superlotação, pois uma criança pequena pode não ser vista e participar de algum tipo de acidente, como pisoteamento ou algo do tipo”, enfatiza Livia.
Diversão para todas as crianças
Embora para muitas crianças o Carnaval seja sinônimo de alegria, fantasias e brincadeiras, para as que estão dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA), o excesso de estímulos pode transformar a festa em um grande desafio. O barulho das marchinhas, as luzes piscantes nos bailes e até mesmo as mudanças de rotina podem gerar desconforto e crises sensoriais. Então, para ajudar as famílias a aproveitarem o feriado com mais tranquilidade, a neuropsicóloga Bárbara Calmeto compartilha estratégias para minimizar os impactos do Carnaval no bem-estar dos pequenos.
Previsibilidade ajuda a reduzir a ansiedade – Para evitar que a criança se sinta sobrecarregada, é essencial prepará-la com antecedência. “Explique como os blocos e bailes são organizados, por que as fantasias são usadas e qual o motivo da música alta. Mostre que, mesmo sendo algo fora da rotina, ainda é um ambiente seguro para brincar”, recomenda Calmeto. Outra estratégia eficiente é apresentar um cronograma claro sobre o evento. “Crianças ficam mais tranquilas quando sabem o que esperar. Diga quanto tempo vai durar, quando termina e o que vai acontecer em cada momento. Se forem a um baile, deixe a criança participar do planejamento, perguntar sobre o que mais lhe interessa e, se possível, levar um amigo”, orienta.
Ambiente mais confortável e seguro – Mesmo com planejamento, a exposição prolongada a estímulos intensos pode ser desgastante. Por isso, escolher bem o local e onde ficar dentro dele faz toda a diferença. “Evite aglomerações. Nos blocos de rua, prefira as laterais, que costumam ser mais vazias. Nos bailes, opte por mesas mais distantes do centro do salão, onde o som e a movimentação são menos intensos”, sugere. Se ainda assim a criança demonstrar incômodo, fones de ouvido com abafadores de som podem ser úteis – mas com uma ressalva. “É um recurso pontual, para momentos específicos. Se a criança usar por muito tempo, pode desenvolver uma sensibilidade maior ao som”, alerta a especialista.
Respeite o ritmo da criança – Mesmo com todas as adaptações, algumas crianças podem simplesmente não querer participar das festividades. E está tudo bem! O importante é respeitar os limites delas. “Se for inevitável estar perto de comemorações, tente oferecer algo que traga conforto, como um brinquedo especial ou um paninho de apego. Além disso, encontrar espaços mais tranquilos pode ser uma boa solução”, completa a neuropsicóloga.
Cuidado com o calor e o bem-estar – No meio da animação, Bárbara lembra que é comum que algumas rotinas sejam esquecidas – o que pode impactar diretamente no bem-estar da criança. Fique atento a alguns cuidados essenciais, como manter uma alimentação leve e incentive a hidratação com água e sucos naturais; escolher fantasias frescas e confortáveis, que não apertem ou causem irritação; e garantir um banho relaxante e uma boa noite de sono após o evento para ajudar a regular o sistema sensorial da criança.
Para quem planeja viajar – Se a ideia da família for viajar durante o Carnaval, a preparação também é essencial. “A mudança de ambiente pode ser desconfortável para crianças com TEA. Hotéis e casas alugadas são diferentes do que estão acostumadas, e até detalhes como dividir o quarto, comer em um refeitório barulhento ou lidar com uma pressão diferente da água do chuveiro podem incomodar”, explica Calmeto. Para suavizar essa transição, Bárbara sugere levar brinquedos e objetos familiares para criar uma sensação de segurança; fazer trajetos de carro mais longos antes da viagem para preparar a criança para o tempo na estrada; ter sempre snacks preferidos à mão para manter o conforto na alimentação; e criar uma playlist com músicas que a criança gosta, para ajudá-la a relaxar no novo ambiente.
Direto ao ponto
A seguir, Lívia Franco e Mariana Dagostino Bolonhezi D’avila respondem outras questões para ajudar pais nesse momento de comemoração – e calor.
Aventuras Maternas – Bebês podem usar qualquer tipo de protetor solar ou há restrições por idade?
Lívia Franco – As crianças pequenas (dos seis meses até dois anos) só podem usar os filtros físicos, chamados também de filtros minerais. Eles são filtros que criam uma película que faz com que o raio solar seja repelido. A partir dos dois aninhos, pode começar a utilizar os filtros químicos, que deixam a pele muito menos esbranquiçada e transformam o raio solar em calor para ele ser evaporado. Ele é absorvido pelo organismo, podendo também causar algumas alergias e reações de pele. Mas, no geral, ele fica bem mais confortável de passar, é mais fininho e não deixa a pele esbranquiçada.
Aventuras Maternas – Usar sombrinha ou boné elimina a necessidade de reaplicar o protetor solar?
Lívia Franco – O uso de ambos se assemelha a situação das roupas UV. Devem ser combinados ao filtro solar e, obviamente, a reaplicação do filtro é muito importante porque ele tem tempo eficácia. Caso não seja reaplicado, vai perdendo a sua capacidade de proteção.
Aventuras Maternas – Qual o risco de exposição prolongada ao calor, mesmo em blocos infantis?
Lívia Franco – A exposição solar, desde o nascimento, já começa a ter efeito cumulativo que pode levar ao câncer de pele. Mas em caso agudo assim, pensando num risco imediato, seria a desidratação e também as queimaduras de pele pela exposição. Então é bastante perigoso e precisamos cuidar!
Mariana Dagostino Bolonhezi D’avila – A exposição prolongada ao calor pode levar a quadros de desidratação, mesmo em ambientes destinados ao público infantil. Sintomas incluem sede intensa, pele seca, irritabilidade, tontura e, em casos mais graves, confusão mental e desmaios. Para prevenir tais condições, é crucial manter a hidratação adequada, oferecer períodos de descanso em locais frescos e evitar exposição direta ao sol nos horários de pico.
Aventuras Maternas – Beber muito suco ou isotônico é uma boa estratégia para evitar a desidratação?
Lívia Franco – Beber muito suco isotônico não é uma boa estratégia para evitar desidratação. O ideal mesmo é consumir bastante água. Além de que o suco vai ter açúcar, o que não é benéfico à saúde da criança; e o isotônico pode fazer uma desregulação dos eletrólitos.
Mariana Dagostino Bolonhezi D’avila – Não é uma boa estratégia. Embora sucos naturais possam contribuir para a ingestão de líquidos, eles não devem substituir a água como principal fonte de hidratação. Bebidas isotônicas são indicadas principalmente após atividades físicas intensas e não são necessárias para todas as crianças. O consumo excessivo dessas bebidas pode levar à ingestão elevada de açúcares e calorias desnecessárias. A água deve ser incentivada como a principal fonte de hidratação.
Aventuras Maternas – Em dias muito quentes, dar picolé ou sorvete ajuda na hidratação?
Lívia Franco – Os picolés não fazem a reposição adequada! A maioria deles tem muito açúcar e aí acaba gerando maior necessidade de tomar água. Sendo assim, eles são só estratégias para refrescar as crianças, mas não para evitar a desidratação.
Aventuras Maternas – Existe algum cuidado especial para crianças com alergias ou problemas respiratórios durante o Carnaval?
Lívia Franco – É importante evitar os sprays e confetes que podem causar algum tipo de reação alérgica. Não utilizar roupas inadequadas, dando preferência para peças mais leves e confortáveis. Evitar que a criança fique com muito calor, porque isso também pode exacerbar essa alergia. Se a criança for asmática, levar a bombinha dela para o carnaval. Vai ser importante para evitar desfechos inadequados ou indesejados.
Mariana Dagostino Bolonhezi D’avila – Crianças com alergias ou doenças respiratórias, como asma e rinite, exigem cuidados adicionais. A exposição a poeira, fumaça, perfumes e aglomerações pode desencadear crises alérgicas. É recomendável evitar locais com grande concentração de fumaça e odores fortes; levar medicações prescritas; garantir a hidratação para manter as vias aéreas umidificadas; optar por fantasias e acessórios hipoalergênicos; e monitorar sinais de desconforto respiratório e buscar atendimento médico se necessário.
Em tempo: Carnaval é festa, mas o ritmo precisa acompanhar o fôlego dos pequenos. Se a criança começar a demonstrar cansaço ou irritação, é hora de reduzir o ritmo. “Se ela estiver desanimada ou sonolenta, é sinal de que o passeio já deu o que tinha que dar. O importante é a diversão, sem exageros”, conclui Ortega.