Como falamos na matéria anterior, uma das questões que normalmente povoa a mente dos pais na hora de escolher a atividade física para os filhos é: a partir de qual idade podem começar a se exercitar e quais esportes são indicados ou não para crianças? Vinicius Vieira, médico especialista em Endocrinologia e Medicina do Esporte, explica que a idade varia de acordo com o desenvolvimento individual de cada criança, mas geralmente é recomendado que elas se envolvam em atividades físicas desde tenra idade.
Os bebês podem começar com movimentos simples, como rolar e engatinhar, enquanto as crianças mais velhas podem participar de jogos e esportes adequados à sua idade. No entanto, é importante lembrar que as atividades devem ser adaptadas ao nível de desenvolvimento da criança, levando em consideração fatores como força, coordenação motora e habilidades cognitivas. “Além disso, a supervisão adequada de adultos e o foco no divertimento e na segurança são fundamentais para garantir uma prática de exercícios saudável e benéfica para as crianças”, pontua.
Já entre os esportes que não são indicados para crianças, uma modalidade que geralmente não é aconselhável é o levantamento de peso de alto impacto ou levantamento de peso olímpico. Por envolverem atividades de levantar cargas pesadas acima da cabeça, elas exigem uma técnica adequada para evitar lesões. “Crianças em fase de crescimento possuem ossos, músculos e articulações em desenvolvimento, o que as torna mais suscetíveis a lesões. Além disso, a alta intensidade desses exercícios pode sobrecarregar o sistema cardiovascular imaturo das crianças. É importante que as crianças pratiquem atividades físicas adequadas à sua idade, como jogos recreativos, esportes coletivos e atividades que promovam o desenvolvimento motor e a diversão de forma segura”, enfatiza Vieira.
Já a médica Mônica Bergamo, pós-graduada em Nutrologia e Medicina do Esporte, lembra também que alguns esportes de impacto, como a ginástica olímpica, devem ser avaliados com cautela, principalmente se houver carga excessiva de treinamento com objetivos de competição. Em alguns casos, a musculação também deve ser avaliada como esporte a partir da adolescência e não em crianças menores.
“O mesmo para Crossfit. Mas, novamente, somente se for feito de forma intensa e com objetivos competitivos. A prática dessas modalidades deve ser avaliada individualmente com o pediatra, baseada no desenvolvimento de peso/ estatura/ idade óssea”, determina. E vai além: “A promoção da saúde e a construção de um corpo saudável começa na infância. Permitir que crianças fiquem em estado de sobrepeso é inaceitável. Dieta saudável e atividade física são essenciais para o crescimento, desenvolvimento e uma vida longeva”, conclui.
A HORA DA ESCOLHA
E, então, chegou a hora de escolher. Depois de todas as informações que passamos aqui, listamos algumas modalidades e suas diferentes abordagens e características. Prontos?
JUDÔ
O professor de Judô da Hebraica Rio, Emídio Ulisses de Souza, que é ex-atleta de judô e jiu jitsu, campeão brasileiro das duas modalidades, vice-campeão e campeão dos Jogos Estudantis Universitários (JUBES), ex-atleta e treinador do Flamengo, explica que esse esporte melhora na capacidade de comunicação e o fato de torna-las mais confiantes para se relacionarem com seus pares, além do condicionamento físico e motor.
Além disso, outro benefício importante é a questão da defesa pessoal. “É preciso citar também a disciplina. Todo mundo precisa de disciplina e, infelizmente, ela é muito mal interpretada na sociedade. A pratica do judô, seja para o adulto ou criança, nos torna mais disciplinados, não na essência da palavra, mas no ato, no dia a dia, na prática regular. A metáfora do treinamento do judô explicita muito essa relação da disciplina.” Confira nosso bate-papo:
Quais partes do corpo mais se desenvolvem com a sua modalidade?
O judô é muito amplo. Ele trabalha a bilateralidade, trabalha as três formas de consumo energético.
Quais ensinamentos ele traz para a vida de quem o pratica?
Muitos pediatras indicam a pratica da natação, por exemplo, que a criança precisa aprender a nadar para não se afogar, e também para desenvolver a questão da respiração e tudo mais. E eu super entendo isso. Mas o judô não é somente um esporte, definitivamente. Ele faz parte da ferramenta acadêmica. Não podemos, por exemplo, incentivar um aluno a ser super inteligente, mas com maus hábitos alimentares, com sobrepeso. E a luta vai sintonizar tudo isso. Eu costumo dizer que no tatame você não consegue esconder muita coisa a nível de personalidade. Então, as pessoas precisam enxergar a luta, especificamente o judô, como uma ferramenta mesmo do processo educacional e, quando adulto, como terapia ocupacional, e não como um esporte qualquer, ou para se divertir. Se divertir, é obvio, todo mundo quer, mas o judô nunca será só isso. É ensinamento para a vida.
A partir de qual idade pode começar na sua modalidade?
A partir dos 3 anos já é possível aplicar os fundamentos, a forma de cair no solo, entre outros. Nessa fase já é possível ensinar os princípios, os mandamentos do judô e preparar a personalidade da criança para começar a se desenvolver na modalidade.
Existem pré-requisitos para fazer a sua modalidade?
Um dos princípios do judô é a resiliência. Então, tudo é adaptável. Uma pessoa amputada, uma pessoa cega, homem, mulher, gordo, magro, alto ou baixo. Não tem essa discriminação no judô. Agora, obviamente, se a pessoa tem uma patologia fisiológica, um problema cardiorrespiratório, alguma limitação, faz acompanhamento de medicação controlada, entre outras situações similares, então temos que ponderar algumas coisas. Mas a nível de somatotipo não há nenhuma restrição.
Existem benefícios para o lado escolar?
Sim. Primeiro, os resultados oriundos da disciplina. Ensina também a saber lidar com frustrações e derrotas. No processo educacional na segunda e terceira infância, já beirando a adolescência, também é muito importante. Acredito também no poder de comunicação, já que as pessoas que praticam judô são mais comunicativas e têm um autoconhecimento um pouco mais apurado.
TAEKWONDO
André Herrmann, faixa preta 5º Dan, instrutor certificado ATA (American Taekwondo Association) e diretor das escolas do Rio de Janeiro; e Guilherme Coleraus, faixa preta 4º Dan, instrutor certificado pela ATA (American Taekwondo Association), responsável pela Elite Artes Marciais Icaraí, explicam que esta é uma atividade física completa, pois trabalha parte cardiorrespiratória, controle motor e bilateralidade, além de concentração, equilíbrio e memória.
“Utilizamos a marcialidade como forma de disciplina, mostrando que o importante é fazer o que é preciso primeiro para depois fazer o que se tem vontade e assim reforçando os valores ensinados em casa, resultando em benefícios que vão além da nossa escola. Exemplo disso são as habilidades de liderança que ensinamos para os nossos alunos, como persistência, autorresponsabilidade, confiança, entre outras. Tornamos as crianças mais autônomas em suas responsabilidades, formando-as pessoas fortes e vencedoras na vida”, explica André.
Quais partes do corpo mais se desenvolvem com a modalidade?
O Taekwondo é uma das poucas atividades que trabalha todos os grupos musculares, preparando uma pessoa para praticar qualquer atividade física. Assim, por possuirmos uma variedade de chutes e golpes com os braços, a região da coxa (quadríceps e jarrete) e o bíceps, tríceps e antebraço seriam as áreas mais desenvolvidas na nossa arte marcial.
Quais benefícios, além dos físicos, a modalidade traz para as crianças?
Para as crianças, a nossa arte marcial desenvolve principalmente a concentração, confiança, atitude e a autonomia, com diversas atividades que exigem esses atributos. Existem partes nas aulas em que as crianças demonstram e treinam os seus movimentos sozinhos, trabalhando a parte da autocorreção, que está dentro da autonomia falada anteriormente. Outro ponto muito importante que é motivo de procura pelos pais, é o aumento da confiança e da autoestima principalmente em casos de bullying. A criança confiante aprende a dizer o “Não” como defesa, se impõe e tem melhores escolhas e é capaz de tomar as melhores decisões em situações até de perigo.
Quais ensinamentos traz para a vida de quem o pratica?
Costumamos dizer que ser um faixa preta não é somente treinar no mínimo 5 anos, vai muito além disso… ser um faixa preta é fazer o que é certo, é ser responsável pelos seus atos, ser um líder e isso não requer uma faixa de cor preta amarrada na cintura e sim confiança e autorresponsabilidade que são os ensinamentos que mais levamos para vida e temos como objetivo, passar isso para os nossos alunos também, tornando-os fortes e vencedores na vida e para a vida. Faça o seu melhor, sempre!
A partir de qual idade pode começar na modalidade?
Na nossa modalidade costumamos dizer que a idade mínima é de 4 anos, porém existem crianças que conseguem começar um pouco antes com 3 e meio, dependendo da maturidade e desenvoltura dela. A idade máxima, não estipulamos, pois nunca é tarde para começar a treinar e tentar algo novo.
Há pré-requisitos para fazer a sua modalidade?
Não, apenas força de vontade para aprender algo novo.
Há benefícios para o lado escolar?
Com certeza, como eu falei anteriormente trabalhamos a autonomia e concentração das crianças, dentro e fora do esporte. E isso eles levam para vida, fazendo as provas escolares com maior atenção, criando uma melhor organização para estudo e aproveitamento melhor do tempo livre. Os alunos recebem condecorações em aula, quando os pais nos avisam de sua melhora escolar, tanto no comportamento, quanto nas notas.
FUTSAL
Luis Malka Y Negri, coordenador do time de futsal da Hebraica Rio, explica que o aprendizado específico do futsal ajuda no trabalho em equipe e também a lidar com adversidades, desenvolvendo o corpo de forma global.
Quais ensinamentos ele traz para a vida de quem o pratica?
Todos os ensinamentos, pois vivenciam tudo o que o ser humano pode vivenciar emocionalmente, seja nos treinamentos ou jogos. Além disso, lidar com derrotas e vitorias, trabalho em equipe e resiliência.
A partir de qual idade pode começar na sua modalidade?
De 5 para 6 anos.
Há pré-requisitos para fazer a sua modalidade?
Qualidade técnica.
Há benefícios para o lado escolar?
Sim, cognitivo e de autoestima.
BALÉ
Mariana Branco Gongora, professora de educação física escolar da Escola Canadense de Niterói, coordenadora do curso de pós-graduação em neurociências aplicadas da UFRJ e professora de balé por mais de 10 anos em academias de balé de Niterói, explica que a prática proporciona diversos benefícios para as crianças, dentre eles podemos destacar o desenvolvimento das capacidades rítmicas e da consciência corporal, como equilíbrio e flexibilidade. “E analisando pelo lado cognitivo, a prática estimula a concentração, a memória e atenção. E, por último, não podemos esquecer a questão dos valores como disciplina, trabalho em equipe e socialização”. diz.
Quais partes do corpo mais se desenvolvem com a sua modalidade?
Podemos dizer que todas as partes da cabeça aos dedos dos pés. O balé é uma atividade completa, pois todo o corpo precisar estar em harmonia para que os passos possam ser realizados, nas sequências fora da barra, membros superiores e inferiores trabalham de forma dinâmica e os pés trabalham o tempo todo mudando de nível, ora nas pontas dos pés, pra voltados para fora (andeour), ora o corpo todo apoio em uma pequena base de apoio (sapatilhas de pontas).
Quais benefícios, além dos físicos, a sua modalidade traz para as crianças?
Os benefícios do balé vão muito além da forma física. A autoestima e autoconhecimento, além dos valores como disciplina e integração social fazem parte dos benefícios afetivo-sociais que as crianças trabalham durante as aulas de forma espontânea e descontraída.
Quais ensinamentos ele traz para a vida de quem o pratica?
Não é apenas o aprendizado motor e os movimentos do balé que são trabalhados durante as aulas. O lado social e emocional tem um grande destaque também. Durante as aulas as crianças, adultos e idosos criam laços, dividem suas ansiedades e trocam experiências. Durante as apresentações é sempre gratificante ver as alunas conversando umas com as outras, acalmando as que estão mais nervosas e demonstrando que uma precisa da outra para que tudo ocorra perfeito! Torcem para que tudo dê certo quando estão se apresentando, ajudam no canto do palco quando alguém esquece um pedacinho da coreografia, por exemplo. Esses aprendizados servem de ensinamento para a vida das crianças de como se viver em sociedade, ajudar os outros e compreender e compartilhar momentos com o próximo.
A partir de qual idade pode começar na sua modalidade?
As aulas de balé podem ser feitas por crianças a partir de 2/3 anos, o que chamamos de baby class e não tem limite para a sua prática! Em todas as idades é possível colher benefícios, na primeira infância as crianças aprendem as posições básicas dos pés e braços e o lúdico é o que norteia as aulas, quando a bailarina já está maior, passos mais difíceis e sequências mais elaboradas são vivenciadas e exploradas pelas alunas e nas aulas para a terceira idade tem um foca mais na socialização e ritmos e movimentos de mobilidade.
Há pré-requisitos para fazer a sua modalidade?
Não existe! O balé pode ser praticado por crianças e adultos de ambos os sexos! Hoje em dia, já encontramos mais meninos e homens fazendo aulas, pois buscam aproveitar os benefícios que a prática do balé proporciona.
Existem benefícios para o lado escolar?
Sim! Durante as aulas de balé, os alunos precisam memorizar os passos, os movimentos dos braços, ficar atentos à música para acompanhar a contagem e ainda dançar sincronizado com os outros alunos. Essas características estimulam a cognição das crianças e consequentemente podem auxiliar as crianças durante as aulas escolar, a conseguir se manter concentrado para realizar uma atividade, interagir com os outros alunos. Saber compreender que é necessário ficar atento às explicações dos professores para poder realizar as atividades.
NATAÇÃO
Roberta Avila Romão de Toledo, professora de educação física há 17 anos, coordenadora de esportes da Global Me School, especialista em educação física escolar, psicomotricidade e neurociência aplicada na educação, explica que o esporte oferece inúmeros benefícios para o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças. Ajuda, por exemplo, a melhorar a saúde cardiovascular, uma vez que é um exercício aeróbico que fortalece o coração e melhora a circulação sanguínea.
“Já o fortalecimento muscular proporcionado pela natação ajuda as crianças a manter uma postura correta e a aprimorar a coordenação motora. A atividade ainda melhora a resistência física e a capacidade pulmonar das crianças. Outro benefício é que por ser uma atividade relaxante e divertida, ajuda as crianças a reduzir o estresse e a ansiedade, e a superação de novos desafios durante uma aula de natação aumenta a autoestima e a confiança das crianças”, diz.
Quais partes do corpo mais se desenvolvem com a sua modalidade?
A natação é um exercício físico completo: trabalha os músculos das pernas, braços, ombros, costas, abdominais e glúteos… No entanto, algumas partes do corpo são mais desenvolvidas do que outras dependendo do tipo de nado. Por exemplo: no nado peito, os músculos das pernas são mais exigidos do que no nado livre (crawl) para poder gerar a propulsão durante o nado. Por outro lado, o nado livre demanda mais esforço dos braços e dos ombros.
Quais benefícios, além dos físicos, a sua modalidade traz para as crianças?
Além dos benefícios físicos, a natação pode por exemplo ajudar no desenvolvimento cognitivo, (melhorando concentração, coordenação e memória), aumentar a autoconfiança e reduzir a ansiedade da criança. Ela também ajuda na socialização (com colegas e professores, ensinando por exemplo a criança a trabalhar em equipe) e ensina os pequenos a terem mais disciplina e a lidar com suas emoções, como a frustração, por exemplo.
Quais ensinamentos ele traz para a vida de quem o pratica?
A natação requer disciplina e dedicação, então os alunos aprendem a ser organizados e a gerenciar seu tempo para treinar regularmente. Além disso, é um esporte que exige persistência e resiliência para superar as dificuldades e melhorar o desempenho. Trabalho em equipe e autoconfiança também são outros ensinamentos muito importantes trazidos pela natação, além do respeito (aos professores e aos colegas). Todos esses ensinamentos podem ser depois aplicados em outras áreas de suas vidas no futuro.
A partir de qual idade pode começar na sua modalidade?
A prática de adaptação pode começar a partir dos seis meses, quando a criança entra na piscina acompanhada do pai ou mãe e do professor de natação, que estimula os exercícios. Não há uma idade máxima, sendo uma atividade física que pode ser praticada a vida toda.
Há pré-requisitos para fazer a sua modalidade?
A criança precisa ter altura e equilíbrio suficientes para se deslocar com segurança e autonomia dentro da piscina.
Há benefícios para o lado escolar?
Os benefícios para o desempenho escolar de crianças e adolescentes podem incluir um maior desenvolvimento cognitivo, melhorando a capacidade de aprendizado e concentração, e um maior desenvolvimento de habilidades sociais. Além disso, a redução do estresse e da ansiedade e a melhora na autoestima, já mencionados antes, também podem ter um importante impacto no desempenho escolar de quem pratica a natação.
CAPOEIRA
Marcelo de Souza Silva, mestre em capoeira do Grupo de Capoeira Angolinha (na capoeira, é conhecido como Mestre Magoo), destaca que os benefícios da capoeira, em especial para as crianças, é o desenvolvimento físico, de forma bem equilibrada e funcional, melhorando a flexibilidade, a força, o equilíbrio, a coordenação motora e a consciência corporal.
Quais partes do corpo mais se desenvolvem com a sua modalidade?
Apesar da capoeira exercitar o corpo todo, como citado, membros inferiores, coxas e panturrilhas são bastante requisitadas e fortalecidas, na ginga, nos golpes de pernas, defesas (com agachamentos) e membros superiores (braços e ombros), além, claro, do abdômen e das costas.
Quais benefícios, além dos físicos, a sua modalidade traz para as crianças?
Além dos benefícios físicos, a capoeira desenvolve nas crianças a disciplina por meio das regras do jogo, da rotina de exercícios e treinos, dos movimentos técnicos da capoeira, sociabilizando os alunos, pois precisam respeitar e aguardar o tempo do outro, precisam agir coletivamente para que enquanto uns jogam os outros tocam e cantam, e se alternam nessa colaboração. Essa coletividade reforça ainda mais a noção de pertencimento de grupo, da importância de viver em sociedade com respeito, igualdade e trabalho.
Com os desafios da expressão corporal do jogo da capoeira (por meio da ginga), das expressões musicais por meio de instrumentos e cantigas, os alunos vão ganhando também auto confiança, pelo ambiente favorável, perdendo a timidez, aliviando estresses e ansiedades. Tudo isso ocorre de forma bem natural, porque a capoeira tem por essência, uma característica muito desejada e discutida hoje em dia, nas atividades psicopedagógicas: a capoeira é lúdica. Foi assim que o povo escravizado a criou, uma luta disfarçada de dança.
Quais ensinamentos ele traz para a vida de quem o pratica?
O trabalho em equipe, a colaboração e o respeito pela diversidade, tema muito em pauta hoje em dia, mas que para a capoeira sempre foram alicerces, justamente por ser uma manifestação popular, que nasceu da resistência e luta do povo afrodescendente e se desenvolveu ao longo de décadas da nossa história, nas classes menos favorecidas. A roda da capoeira e seu jogo, são a dissimulação da luta de um povo em forma de ‘dança’, por meio da ginga, entoados pela musicalidade e de cantigas que retratam a história do povo e do Brasil, de mestres que transmitiram por gerações seus valores e ensinamentos pela oralidade e situam todos que a praticam, numa origem histórica, cultural e geográfica, dando essa sensação de pertencimento, importância e existência. Eu ouso em dizer, hoje em dia, que a capoeira é uma verdadeira, real e palpável rede social.
A partir de qual idade pode começar na sua modalidade?
Em geral as academias de capoeira têm treinos coletivos, sem separação por idades, pois como disse, sua filosofia sempre foi de natureza inclusiva, colocando a importância da igualdade e respeito. Entretanto, treinos exclusivos e direcionados para as crianças, têm sido implantados nas academias e escolas. Em geral, a partir dos 5 anos as crianças já aderem bem aos treinos de capoeira e se desenvolvem, mesmo se não forem aulas exclusivas para a sua faixa-etária. Com o aumento da expectativa de vida hoje e melhoria dos cuidados com a saúde, não há limites para a prática da capoeira. Para cada público, pode ocorrer um trabalho direcionado das aulas e mesmo nos ambientes de academia, é possível ter a abordagem e adaptação personalizadas.
Há pré-requisitos para fazer a sua modalidade?
Não há requisitos específicos para se fazer capoeira, embora muitos sempre me perguntem se precisa saber fazer uma “estrelinha” ou “plantar bananeiras” (parada de mãos). Respondo sempre que somente a disposição e tempo para praticar uma atividade física regular, que com certeza mudará seus conceitos e sua vida.
Há benefícios para o lado escolar?
Como comentei, a disciplina que o curso das aulas impõe, a prática da ética do jogo da capoeira e os valores de coletividade, respeito e educação que a roda da capoeira nos faz praticar diariamente promovem esse aprendizado e reforçam a educação de seus lares, para o cotidiano dos alunos, inclusive ambiente escolar. A prática de lutas marciais desenvolve muito a autoconfiança, melhora da autoestima e, sobretudo, o autocontrole, quando bem orientados.
TÊNIS
Paulo Camargo, ex-tenista profissional e autor do livro “1% Até onde você iria?”, conta que o esporte desenvolve a coordenação motora, aumenta o nível de concentração, trabalha a disciplina e também ajuda a desenvolver características importantes como a resiliência.
Quais partes do corpo mais se desenvolvem com a sua modalidade?
Neste esporte praticamente todos os músculos do corpo são usados, devido ao alto nível de intensidade que o esporte exige.
Quais benefícios, além dos físicos, a sua modalidade traz para as crianças?
O tênis por ser um dos esportes mais técnicos e estratégicos de todos, durante toda sua trajetória desde o inicio das atividades, até o momento em que os jogadores começam a participar de torneios, o nível de exigência do lado mental é muito alto, onde a concentração, disciplina, resiliência, estratégia e foco, são características básicas nesse esporte mesmo quando analisamos atletas amadores.
Quais ensinamentos ele traz para a vida de quem o pratica?
O tênis é dos esportes mais completos de todos, tanto no lado físico como mental e seu lado competitivo que esse esporte cria, faz com que seus participantes desenvolvam seu lado competitivo, onde são condicionados a transformar problemas em soluções e derrotas em grandes lições, nas quais imediatamente após suas derrotas, reagem na busca de treinarem mais focados para vencer na próxima oportunidade, desenvolvendo sua resiliência.
A partir de qual idade pode começar na sua modalidade?
O início pode acontecer a partir dos 3 anos em escolinhas de Baby tennis e o fator limitador para interromper a pratica desse esporte seria apenas relacionada a limitação causada pelo condicionamento físico devido a uma lesão ou uma doença.
Há pré-requisitos para fazer a sua modalidade?
Apenas adquirir uma raquete e o tênis adequado para evitar possíveis lesões.
Há benefícios para o lado escolar?
Um dos principais objetivos é o desenvolvimento da concentração e da disciplina, que estão ligados diretamente ao lado competitivo, em que são obrigados a aprender na pratica que a vitória depende de um bom trabalho e a derrota é uma grande oportunidade para treinar e corrigir os erros para vencer no próximo desafio.
HANDEBOL
Eduardo Ramalho da Cunha, treinador de handebol e coordenador de esportes do Colégio Arbos São Bernardo do Campo, explica que hoje contamos com a chancela da Federação Brasileira de Mini-Handebol, que atualiza os treinadores afim de discriminar o máximo de conhecimento aos profissionais. “Através da modalidade do handebol, ensinamos aos alunos não só fundamentos e parte motora, mas, sim, o principal que é saber lidar com próximo, extrair o melhor dos colegas e entender a força do esforço coletivo”, diz.
Quais partes do corpo mais se desenvolvem com a sua modalidade?
Esta pergunta foi certamente uns dos motivos da paixão pelo handebol. Às vezes vem o comentário de que é um esporte violento e de força física, mas quando se entende as regras e se aprende os fundamentos básicos da modalidade, entramos em um mundo de muita técnica e variações táticas. Isso faz com que o atleta entenda a importância da atividade física e metal para se tornar completo.
Quais benefícios, além dos físicos, a sua modalidade traz para as crianças?
O principal é saber lidar com a inteligência emocional, usar os exemplos de atletas mais completos como meta e saber comparar o seu esforço consigo mesmo. Um dos exercícios que faço com as equipes é levá-los a reflexão da evolução de como iniciaram na o ano na quadra e como estão finalizando.
A partir de qual idade pode começar na sua modalidade? E até qual idade é possível se beneficiar dela?
Temos várias categorias e faixas etárias, esta é mais uma das várias modalidades que não tem idade para começar. A idade tem mais peso na adolescência, quando os atletas se encontram diante das peneiras para uma carreira profissional.
Há pré-requisitos para fazer a sua modalidade?
No Mini-Handebol temos o compromisso de lapidar e motivar essas joias, os fundamentos básicos podem ser aprendidos em qualquer momento, mas certamente saber fazer o passe, recepção, arremesso e regras são fundamentos que irão facilitar no processo.
Há benefícios para o lado escolar?
Sim, principalmente a concentração e o foco. Temos também uma ação de ver os boletins e junto com o grupo acharmos saídas para auxiliar quem precisa de ajuda.
SKATE
Cláudio de Souza Sonhador, licenciado em educação física, professor no Neim Rogério de Freitas e autor do livro “Skate na escola: atividades para iniciação da prática do skate na educação física escolar”, diz que a atividade contribui para uma melhora no aspecto motor, cognitivo e no social.
Quais partes do corpo mais se desenvolvem com a sua modalidade?
Membros inferiores.
Quais benefícios, além dos físicos, a sua modalidade traz para as crianças?
Acredito muito que se eles conseguirem se levantarem após uma queda de skate, o que acontece muito e vai acontecer, e se manterem com uma mente firme, eles terão um aprendizado pra vida toda, de que a vida é isso, cair e se levantar. O esporte nos traz isso como uma grande lição.
Quais ensinamentos ele traz para a vida de quem o pratica?
A não desistir. Aprender com os erros. Se entregar nos treinos. E talvez eu a chamaria de Mãe, a nossa disciplina.
A partir de qual idade pode começar na sua modalidade? E até qual idade é possível se beneficiar dela?
A partir dos 6 anos já podem liberar o rolê de skate. Eu sugiro praticar até onde seu corpo aguentar.
Há pré-requisitos para fazer a sua modalidade?
Não. Somente acreditar que é possível e que vai valer a pena.
Há benefícios para o lado escolar?
Sim, com toda certeza. Já tivemos muitos relatos de pais, de que os filhos mudaram após começarem a participar do projeto de skate.
FUTEBOL
Carla Santos de Oliveira, preparadora física CF4/Bangu de Futebol Feminino, conta que, de maneira geral, o esporte em si traz inúmeros benefícios físicos, cognitivos, mentais e sociais. “Podemos citar melhora de coordenação, níveis de força, condição cardiorrespiratória, velocidade de reação, concentração. Estimula socialização, organização de metas, comunicação, entre outros”, diz.
Quais partes do corpo mais se desenvolvem com a sua modalidade?
Se pensa muito no trabalho de pernas no futebol, mas a parte central do nosso corpo trabalha muito tanto para a transferência de força, quanto para o equilíbrio e estabilidade no corpo, pois é um esporte de contato. Se observarmos um movimento de chute, por exemplo, veremos que tem todo um movimento de braço, tronco e perna para que esse chute saia potente.
Quais ensinamentos ele traz para a vida de quem o pratica?
Eu acho que o grande benefício social dos esportes é essa coisa de conviver com o outro, depender do outro (que também depende de você), porque é uma equipe. Então, são todos por um objetivo comum. Mesmo que não sejam melhores amigos, mas é preciso respeitar as diferenças, entender limitações do outro e próprias, entender essa coisa que nem sempre o melhor para você é o melhor para o coletivo e que é possível equilibrar isso tudo.
A partir de qual idade pode começar na sua modalidade?
Começou a dar os primeiros passos, já podemos trabalhar com parcelas do futebol. É só desmembrar o futebol da imagem do jogo propriamente dito e considerar as partes do jogo. Chutar bola é parte do jogo. Crianças fazem isso já nos primeiros passos.
Há pré-requisitos para fazer a sua modalidade?
Existe sempre a necessidade de ter condições de saúde que permitam a prática de esportes.
Há benefícios para o lado escolar?
Sim. De maneira direta, por exemplo, o esporte pode trazer concentração e disciplina e isso se refletir no desempenho escolar. De maneira indireta, vejo o esporte funcionar como “moeda de troca”. A criança e o adolescente serem cobrados por pais e/ou professores do esporte que tenham boa nota para seguir no esporte.
ATLETISMO
Leonardo dos Santos Francisco, treinador da Confederação Brasileira de Atletismo, treinador da Federação de Atletismo do Rio de Janeiro, treinador campeão da Federação Estudantil do Rio de Janeiro, treinador campeão da Confederação Brasileira Estudantil do Brasil e professor de educação física escolar na Rede Daltro, explica que o atletismo ajuda a combater a obesidades infantil e o sedentarismo infantil, potencializando a autoestima, diminuindo o estresse, a ansiedade e a depressão (o que foi comprovado durante a pandemia). “Também preenche saudavelmente as horas ociosas das crianças e adolescentes e auxiliar equipes multidisciplinares nos atendimentos que necessitem de atenção especial (TDH, autismo…)”, diz.
Quais partes do corpo mais se desenvolvem com a sua modalidade?
Em relação aos treinos das provas de corridas – saltos são mais desenvolvidos os membros inferiores, mas também são treinados os membros superiores. Já em relação aos treinos das provas de arremessos – lançamentos são mais desenvolvidos os membros superiores, mas também são treinados os membros inferiores.
Quais benefícios, além dos físicos, a sua modalidade traz para as crianças?
Vale destacar os benefícios da prática do atletismo às crianças, tais como desenvolvimento da autoestima, auto superação, ajudar na mudança social (possibilitando o aluno-atleta transformar-se em um atleta de alto rendimento, conseguindo bolsa financeira, bolsa de estudos integrais), fazer a inclusão de pessoas fora de forma do padrão físico da sociedade, além de propiciar chances às crianças com deficiências físicas a tornarem-se alunos-atletas paralímpico.
Quais ensinamentos ele traz para a vida de quem o pratica?
Poder aprender, através da prática regular do atletismo, que não se tem limites para sonhar e conquistar os objetivos e metas de vida.
A partir de qual idade pode começar na sua modalidade?
O atletismo pode ser iniciado desde os 6 anos de idade.
Há pré-requisitos para fazer a sua modalidade?
Ao iniciar a prática regular do atletismo é preciso um atestado médico.
Há benefícios para o lado escolar?
Os benefícios escolares da prática do atletismo são melhorar a concentração dos alunos durante as aulas; melhorar a percepção das coisas a sua volta; melhorar a coordenação motora; melhorar a sociabilização; permitir conseguir bolsas de estudos integrais em escolas particulares que apoiam o esporte; preencher as horas ociosas de crianças que moram em áreas de baixo IDH; possibilitar a participação em competições escolares de nível Estadual, Nacional ou Mundial.
KOMBATO
Paulo Albuquerque, fundador do Kombato, pesquisador em defesa pessoal e especialista em segurança pública, diz que este é um sistema criado para dar segurança para todos, e, sendo assim, toca em muitos assuntos considerados “pesados” para crianças. “Mas sabemos que crianças podem participar da proteção e segurança desde os 4 anos de idade. Então, hoje temos um currículo, o “K2”, Kombato Kids, ensinando equilíbrio psicológico, avaliação de risco, fuga de incêndio, desenvolve atenção, foco, equilíbrio físico e psicológico, e a quem recorrer em momentos de risco, tudo isso sem assustar as crianças mencionando algo relacionado a violência. Para este projeto, é mais adequado o uso de professoras, que são mais simpáticas e empáticas com as crianças do que professores homens”, diz.
Quais partes do corpo mais se desenvolvem com a sua modalidade?
Coração (capacidade cardiovascular), braços (e em especial antebraços) e pernas.
Quais benefícios, além dos físicos, a sua modalidade traz para as crianças?
O foco do Kombato é ser uma arte para adultos, mas como citado anteriormente tem um treinamento separado para crianças. Os benefícios são: saber o que fazer quando se passa por situações de risco à segurança: Para onde fugir, com quem falar, como discernir uma pessoa boa de uma ruim, tipos de assédios, tudo para se resguardar antes de qualquer tipo de ação. É treinar a mente para ter foco e equilíbrio nas horas mais adversas.
Quais ensinamentos ele traz para a vida de quem o pratica?
Através do estudo de situações reais, não relacionadas apenas a violência, mas também a outros tipos de ameaças às nossas vidas e valores, se aprende a ter bom senso e capacidade de avaliar problemas. Até mesmo pessoas mal intencionadas (ensinamos leitura corporal) e evitar riscos relacionados à internet, por exemplo.
A partir de qual idade pode começar na sua modalidade?
Existe o currículo para crianças, que inicia aos 4 anos de idade, mas recomendamos a idade mínima de 14 anos acompanhado pelos pais para compreender bem nossos ensinamentos e, acima dos 18 já sem a presença dos pais. A ideia é poder se beneficiar do Kombato até o fim da vida.
Há pré-requisitos para fazer a sua modalidade?
Ter curiosidade de aprender coisas novas, repensar conceitos antigos e querer melhorar sua vida. Atualmente, a única restrição que temos é para pessoas que tenham cometido crimes, ou usem remédios controlados. Fora isso, 99% das pessoas conseguem praticar, e sim, todos conseguem melhorar sua vida em vários aspectos com o Kombato. Inclusive, já tivemos vários alunos com várias necessidades especiais, o que comprova a amplitude deste trabalho.
Há benefícios para o lado escolar?
Existe um programa especial separado para segurança em escolas. Ele deve ser feito lado a lado com os professores e inspetores. Engloba desde resolução para bullying físico, resolução para as humilhações e até mesmo cobrindo bullying na internet. Engloba agressões internas do colégio entre alunos e como resolver, e também outras situações mais específicas como subtração de bens materiais, e como lidar com pais abusivos, etc. Tudo isso em busca de ajudar na formação e no caráter para resolução de conflitos sem uso de violência