O inverno deste ano teve início na última segunda-feira, 21 de junho. Além de trazer muito frio, a estação é a que causa a maior incidência de doenças respiratórias, sejam infecciosas ou alérgicas. E já aviso: o nariz está sempre envolvido nisso!
Exatamente por este motivo, também é comemorada a 2ª Semana da Respiração Nasal, cujo tema é “Respirar pelo nariz é viver melhor”. A iniciativa é da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cervico Facial e Academia Brasileira de Rinologia, e acontece justamente para esclarecer sobre os perigos em esquecer o nariz entupido.
Para entender melhor o impacto que respirar pela boca traz ao nosso corpo é preciso entender as funções do nariz. Ele é responsável pela limpeza, umidificação e aquecimento do ar inspirado, possuindo um complexo mecanismo de defesa contra todos os agentes nocivos inalados.
Desta maneira, respirar pela boca faz com que o ar inalado chegue aos pulmões sem condicionamento necessário para que as trocas gasosas ocorram de forma efetiva. Ou seja, o ar chega mais seco, frio e sujo do que deveria. Isso favorece infecções (faringite, amigdalites, traquejes e pneumonias) e piora de crises de asma.
Além disso, o fluxo de ar contínuo pela boca acaba gerando mudanças na anatomia do rosto. Com a boca aberta, há um relaxamento da musculatura mastigatória, alteração de posicionamento da língua, dentes e oclusão bucal.
Em outras palavras: os dentes entortam, existem problemas na mordida (aberta, cruzada e etc) e mastigação que leva a desequilíbrio estéticos faciais, além de alteração na mastigação de alimentos.
Estes problemas são mais evidentes nas crianças, nas quais um período prolongado de respiração bucal causa desequilíbrio no crescimento dos ossos faciais, trazendo impactos para a vida adulta também. Muitas pessoas que usam aparelhos ortodônticos não se atentam a respiração pela boca.
Respirar pelo nariz é fundamental para que o tratamento dentário tenha sucesso, exatamente pela necessidade de um adequado posicionamento da língua e musculatura da face fazendo com que o aparelho tenha seu efeito.
SEM DESCANSO
Outro problema do nariz obstruído está no sono. Dormir bem e ter um sono repousante (ou reparador) é muito importante em todas as idades. Só que a obstrução nasal faz com que respiremos mais pela boca durante o sono, causando o famoso ronco.
Ele nada mais é do que um sinal de que há dificuldades para a passagem do ar durante o sono, dificultando a oxigenação sanguínea adequada. Podem ainda ocorrer pausas respiratórias por obstrução a passagem do ar, também conhecida por apneia do sono. Óbvio que a apneia do sono é causada por uma combinação de fatores, mas indiscutivelmente o nariz entupido é um deles.
Ela pode ocorrer tanto em adultos quanto em crianças. Uma noite mal dormida acontece várias vezes ao longo da vida. O problema está quando, isto é, o “normal” no sono de alguém. Seus impactos para o desempenho no trabalho, estresse, memória são difíceis de estimar.
ASSUNTO É BEM SÉRIO
Para as crianças, roncar e respirar pela boca pode ter consequências ainda mais graves. O prejuízo às noites de sono pode provocar déficit de aprendizado, alterações de humor, irritabilidade e alterações na produção de hormônios, prejudicando o crescimento e aumentando a produção de urina. Isso faz com que ela, inclusive, sofra de enurese noturna, que nada mais é que do termo médico para o xixi na cama.
Assim, quem não respira bem pelo nariz não dorme bem, não come bem e está sempre cansado. Isso dificulta a produção tanto no trabalho quanto na escola e ainda a realização de exercícios físicos. Sem exercícios, aumenta a chance de ganho de peso (em todas as idades), o que aumenta o risco cardiovascular ao longo da vida.
CADÊ O CULPADO?
Entre as principais causas de obstrução nasal:
Rinites alérgicas e não alérgicas;
Desvio de septo;
Sinusites;
Aumento de adenoides, conhecida como a “carne esponjosa” nas crianças;
pólipos nasais;
Tumores nasais benignos e malignos.
O médico responsável pelo diagnóstico e tratamento da obstrução nasal é o otorrinolaringologista. Ele será capaz de investigar a causa do problema por meio de exame físico e de exames complementares, como a nasolaringofibroscopia e tomografia computadorizada da face. Com esses dados, poderá propor a melhor solução para cada caso específico, que varia desde uma simples lavagem nasal, ao uso de medicamentos e até cirurgias.
Muitas vezes haverá necessidade de atuação multidisciplinar, com ajuda do odontologista e fonoaudiólogos, para resolver totalmente os problemas gerados por não respirar pelo nariz.
Por isso a dica da semana é: Respirar pelo nariz é viver melhor!
*DRA. MAURA NEVES é formada na Medicina pela Faculdade de Medicina da USP. Residência em Otorrinolaringologia pelo HC- FMUSP. Fellow em Cirurgia Endoscópica pelo HC- FMUSP. Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP. Médica Assistente do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo -SP. Aqui na Revista AnaMaria, trará quinzenalmente um conteúdo novo sobre a saúde do ouvido, nariz e garganta. Instagram: @dra.mauraneves