Câncer de mama e maternidade: duas palavras que, quando aparecem juntas, despertam medo, dúvidas e muitas perguntas. Mas, segundo o oncologista José Bines, da Oncologia D’Or, essa combinação, apesar de delicada, é cada vez mais comum – e, com informação e acompanhamento médico, é possível enfrentá-la com segurança.
O câncer de mama é o segundo mais frequente entre as mulheres, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. E vem atingindo, cada vez mais, mulheres jovens, muitas delas em fase reprodutiva. Estima-se que até 7% dos casos acontecem antes dos 40 anos e, nesta faixa etária, a doença representa mais de 40% dos tumores diagnosticados.
Com o aumento da maternidade tardia no Brasil – de 9,1% em 2000 para 16,5% em 2020 entre mulheres com mais de 35 anos -, a chance de vivenciar essas duas realidades ao mesmo tempo se tornou mais frequente. O médico José Bines esclarece os principais pontos que envolvem o diagnóstico antes, durante ou depois da gravidez.
É possível engravidar depois do câncer?
Sim. E esse é um dos mitos mais importantes a serem derrubados. “Hoje em dia, já está bem estabelecido que a gestação após o câncer de mama não aumenta o risco de recidiva nem de metástase da doença”, afirma Bines.
A maior dúvida, segundo o especialista, está na necessidade de interromper o tratamento para engravidar — que pode durar de 5 a 10 anos. “A dúvida é se a interrupção do tratamento vai implicar na volta da doença, e não a gravidez em si”, explica.
Um estudo de 2023, chamado Positive, deu novo fôlego para mulheres com desejo de maternidade: ele mostrou que pacientes com tumores de baixo risco, após dois anos de tratamento, puderam pausar a medicação para engravidar e amamentar.
Mas o médico faz um alerta: “Vale mencionar que esse estudo acompanhou as mulheres por um período curto. Seria importante que este acompanhamento fosse mais longo para assegurarmos que a interrupção do tratamento não aumenta a possibilidade de recidiva.”
Quando o câncer é descoberto durante a gravidez
O câncer de mama é o tipo mais comum diagnosticado durante a gestação. Pode surgir em até 3,8% das grávidas e, muitas vezes, é mais difícil de perceber por causa das alterações naturais nas mamas nesse período. “A percepção do tumor muitas vezes é difícil tanto para o médico como para a paciente”, observa Bines.
Mesmo assim, a gravidez não precisa ser interrompida. O tratamento deve ser cuidadosamente planejado, levando em conta a fase da gestação e o tipo de tumor. “É possível tratar com segurança, respeitando o momento da gestação”, reforça o oncologista.
E quando o câncer aparece após o parto?
Embora a gestação traga proteção a longo prazo, há um risco aumentado de câncer de mama nos primeiros meses após o nascimento do bebê. Diversos estudos mostram que o câncer diagnosticado nesse período costuma ser mais agressivo.
Uma pesquisa realizada na Bélgica apontou que mulheres diagnosticadas com câncer até um ano após o parto apresentaram a doença em estágio mais avançado em comparação com pacientes fora do contexto da maternidade. Isso se deve a fatores como o atraso no diagnóstico, a demora no início do tratamento e, possivelmente, à própria biologia tumoral do pós-parto.
Mesmo com o bebê nos braços, o tratamento exige interrupção da amamentação e acompanhamento médico rigoroso.
Tratamento e planejamento familiar
Com os avanços da medicina, existem alternativas para mulheres que ainda querem engravidar. Uma das mais indicadas é o congelamento de óvulos ou embriões antes do início da quimioterapia.
“O médico precisa abordar essa questão com toda paciente jovem no início da consulta, porque os tratamentos são longos e o passar dos anos diminui as chances de gravidez”, alerta o médico.
Cada caso é único. Por isso, o diálogo com o oncologista deve ser aberto, claro e constante. “A mulher deve conversar com o seu médico e entender qual é o risco de recidiva e como o câncer pode comprometer tanto a gestação como a criação de seu filho ou de sua filha”, afirma José.
Resumo:
O câncer de mama pode surgir antes, durante ou após a gravidez, e exige acompanhamento médico atento. A boa notícia é que, com planejamento e apoio, é possível tratar a doença sem abrir mão da maternidade. O diálogo com o especialista é essencial para tomar decisões seguras e personalizadas.
Lígia Menezes
Lígia Menezes (@ligiagmenezes) é jornalista, pós-graduada em marketing digital e SEO, casada e mãe de um menininho de 3 anos. Autora de livros infantis, adora viajar e comer. Em AnaMaria atua como editora e gestora. Escreve sobre maternidade, família, comportamento e tudo o que for relacionado!