Sabe a famosa frase “Quanto mais velho, melhor”? Pois é, diferente do que muita gente pensa, não funciona para vinho. Essa e outras mentiras já contadas ao longo dos anos, acabaram transformando o feliz momento de tomar uma taça de vinho no jantar em um acumulado de regras que, na maior parte dos casos, são desnecessárias. Isso faz com que muitas pessoas se afastem da bebida por medo de passar vergonha ou por achá-la complicada demais.
Para desmistificar alguns tabus e te ajudar a compreender de vez quais são os mitos e as verdades sobre o universo da bebida, conversamos com a sommelière Natália Cacioli, da Evino, um dos maiores e-commerces de vinho do Brasil. Confira as principais lorotas sobre o vinho, indicadas por quem entende do assunto:
1. Quanto mais velho o vinho, melhor
Não precisa se preocupar com a idade do vinho. A maior parte da produção é pensada para atender à demanda de consumo imediato. São vinhos de safras mais recentes (de até cinco anos), frutados, macios, fáceis de beber. Uma parcela bem pequena de vinhos é feita para envelhecer, como os famosos Barolo, Brunello de Montalcino ou um Pinot Noir de um grande produtor da Borgonha. São vinhos bem caros e que precisam de um longo tempo de amadurecimento para atingir seu ápice. Esses vinhos encarecem com o passar dos anos e tem quem ganhe dinheiro com isso. Portanto, se você está interessado em beber e não em investir, pode ficar com os vinhos mais jovens sem medo de ser feliz.
2. Se a garrafa é pesada, o vinho é bom
Se a garrafa é pesada é porque o vidro é mais espesso. Ou seja, foi gasto mais material e a garrafa é, consequentemente, mais cara. Vinhos de guarda usam garrafas espessas para reduzir a incidência de luz e para ter uma garrafa mais resistente, já que o vinho ficará guardado por muito tempo. Para vinhos de consumo imediato a espessura da garrafa faz alguma diferença? Não. O produtor pode escolher uma garrafa mais simples para reduzir o custo final do produto.
3. O fundo da garrafa côncavo indica qualidade. Esse furo deve ser usado para colocar o dedo na hora de servir
Essa é apenas uma característica de linha de produção. E não foi feita para colocar o dedo. Ao segurar a garrafa por ali, aliás, ela pode escapar da mão e fazer um estrago. Segure com firmeza, pelo corpo da garrafa, mesmo. Isso não é suficiente para fazer o vinho esquentar, como algumas pessoas justificam.
4. Se o vinho é fechado com rosca ou rolha sintética ele não presta
Cortiça é um material natural, retirado de uma árvore chamada Sobreiro, presente principalmente em Portugal e que precisa de 25 anos para estar pronta para a primeira extração da cortiça. Ou seja, é um recurso caro e finito. Mas e o que isso tem a ver com o vinho? A cortiça é um tipo de material que permite uma pequena troca de oxigênio entre o líquido na garrafa e o ambiente externo, processo importante para vinhos de guarda. Se você comprou o vinho e vai tomá-lo hoje ou semana que vem, a cortiça não faz diferença. Rolhas sintéticas e tampas de rosca são mais sustentáveis e baratas.
5. Vinho meio-seco é doce e não é bom
Vinho meio-seco não é doce ou mais-ou-menos-doce. A nomenclatura não ajuda – mas a verdade é que os vinhos etiquetados como meio-seco têm, na maioria dos casos, a mesma percepção em boca de um vinho seco. Mas por que isso acontece? Por uma questão de legislação. Quem define se o vinho será etiquetado como “seco” ou “meio-seco” no Brasil é o Ministério da Agricultura. Aqui, a legislação leva em conta apenas a quantidade de açúcar residual, enquanto que, na Europa, é feita uma relação entre açúcar e acidez. Isso faz com que muitos vinhos considerados “secos” na Europa sejam classificados como “meio-secos” no Brasil.
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6. Vinho tinto é mais complexo que vinho branco
São estilos diferentes, mas cada um com suas maravilhas e momentos. A principal diferença do vinho tinto para o vinho branco é que o primeiro tem propriedades que vêm da casca da uva: cor e tanino – aquela sensação de adstringência que “seca” a boca. Tanino é um conservante natural e, por isso, é um fator importante para a longevidade do vinho. Os brancos se destacam pela refrescância (tecnicamente chamada de acidez) e, apesar de serem vinhos majoritariamente feitos para consumo rápido, alguns têm grande potencial de guarda.
7. Vinhos com mais de 13% de álcool são superiores
Tem muita gente que usa o teor alcoólico como indicativo de qualidade, mas sem entender de onde vem esse número. O álcool é resultado da fermentação, que tem origem na transformação do açúcar das uvas pelas leveduras. Ou seja, quanto mais açúcar tem o fruto, maior o potencial alcoólico daquele vinho. Lembrando que o açúcar é da uva – não há adição. Regiões quentes produzem frutos com maior concentração de açúcar e, portanto, seus vinhos têm mais álcool. Vinhos tintos variam, normalmente, entre 12% e 15%, enquanto os brancos ficam, na maior parte dos casos, entre 10% e 13%. Mas o fato é que a percepção do álcool na boca depende de muitos outros fatores, que vão além do número estampado no rótulo.
8. Vinho tinto é com carne vermelha e vinho branco é com peixe
Harmonização é muito pessoal. Existem orientações básicas, mas não regras. Vinhos tintos têm taninos (aquela sensação de adstringência) e a gordura ajuda a disfarçar essa sensação, daí a harmonização com carnes vermelhas. Já vinhos brancos e rosés costumam ser mais leves, por isso normalmente são indicados para carnes brancas e outros pratos igualmente leves. Agora imagine um frango à parmegiana: fritura, queijo, molho vermelho – um tinto vai cair muito bem. Outra situação: pleno verão brasileiro, churrasco à beira da piscina e, em vez de um vinho tinto encorpadão, que tal um espumante geladinho? Resumindo: harmonização não é ciência exata e você pode comer/beber o que tiver vontade.
9. No restaurante o garçom coloca um pouco de vinho na taça para você analisá-lo e decidir se gostou
Na verdade, a proposta desse ritual em restaurantes é verificar se o vinho tem algum defeito. A degustação é feita rapidamente e não há necessidade (na verdade pega mal) de ficar cinco minutos analisando o vinho e dissertando sobre aromas e sabores. Se você não se sente confortável para fazer essa avaliação, peça ao sommelier do restaurante – faz parte da função dele. E mais: a etiqueta não manda servir o vinho para degustação ao homem da mesa e, sim, para quem pediu fez o pedido.
10. Vinho rosé é feito da mistura de branco com tinto
Mito. Rosé, na verdade, é um vinho produzido com uvas tintas. Durante a vinificação, o mosto das uvas (ou seja, o suco antes de ser fermentado) fica em contato com as cascas por um breve período para extrair apenas um pouco de cor e aromas.