“Eu tinha 24 anos, em 2012, e senti o nódulo quando estava em um momento bastante especial da minha vida, quando me preparava para fazer uma viagem romântica com o meu então namorado, Caio, que hoje é o meu marido. Arrumava justamente as malas quando esbarrei a minha mão no seio e senti a presença de um relevo grande. Na hora fiz o autoexame, da forma como via na TV, e percebi uma espécie de pedrinha. Acabei indo viajar, mas corri ao posto procurar um mastologista quando voltei”, relembra a empreendedora social Linda Rojas em entrevista à AnaMaria Digital.
Como o câncer de mama, estatisticamente falando, costuma ser mais associado a mulheres acima dos 60 anos de idade, apesar de ter presença também em outras faixas etárias, a primeira médica que examinou Linda descartou a presença do câncer. De acordo com a profissional de saúde, o problema poderia estar ligado ao anticoncepcional que Linda tomava. Apesar disso, sugeriu alguns exames.
Com as guias para fazer em mãos, ela confessa ter ficado tentada a jogá-los na gaveta e seguir a vida normalmente, acreditando que estava bem. “A forma como a médica falou comigo me deixou em paz. Até acabei falando para todo mundo que estava bem, mas sei que deveria ter feito o exame imediatamente”, analisa.
No entanto, depois de um tempo, sua sogra a alertou que era preciso procurar uma segunda opinião médica. “Fui em outro profissional, que concordou que poderia ser algo leve, mas não descartou a possibilidade do câncer. Após uma bateria de exames, constatou-se a presença do nódulo”, detalha.
APESAR DE JOVEM, DOENTE
Linda diz que receber o diagnóstico de câncer de mama foi um susto grande, ainda mais pela falta de conhecimento que ela tinha sobre a doença. “Foi um choque imenso tanto para mim, quanto para família e amigos. Ninguém espera essa notícia em plena juventude. Nessa idade nós esperamos viver tanto, completar novos ciclos e projetos. Então vem o baque da doença… foi difícil naquele momento. Não sabia o que fazer a partir dali, justamente por não saber muito com o que estava lidando”, conta.
O que ela não imaginava é que teria uma nova provação aos 29 anos. Isso porque, após passar por todo o tratamento indicado durante aqueles cinco anos, e justamente no mês em que receberia alta, Linda precisou lidar novamente com o câncer. “Tive a recidiva [volta da doença] na mesma mama, o que também é surpreendente para alguém novo. Confesso que foi um baque mais doloroso do que na primeira vez”, relembra.
Infelizmente, apesar de ser rara, essa possibilidade existe. De acordo com o mastologista Alexandre Pupo, do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo (SP), mesmo quando a paciente faz todo o tratamento corretamente, existe uma probabilidade de 4% a 7% de recidiva da doença. “Consideramos um risco baixo, mas acontece”, ressalta.
Linda diz que a doença em si nem foi tão agressiva, mas afetou bastante seu emocional. “Pensei que a vida estava me traindo. A ideia de ter que passar por todo sofrimento de novo me deixou angustiada demais. Eu já estava cansada”, conta.
Foto: Arquivo Pessoal
UMA NOVA VISÃO
Atualmente, Linda vê a situação como um aprendizado. “Passei a valorizar as pequenas coisas, que continuam acontecendo na vida, apesar de uma má notícia. Sei que é muito complicado enxergar isso quando estamos imersos no problema, mas aos poucos a gente consegue mudar o foco, pegar os aprendizados. Hoje quando os efeitos colaterais estão fracos, por exemplo, já é uma grande vitória”, diz.
Linda precisa tomar medicação novamente por mais cinco anos, o que trouxe efeitos colaterais diferentes. “Mudou o remédio da primeira vez. Agora consiste em uma injeção mensal na barriga, que causa uma menopausa precoce. Passei a sentir ondas de calor, perda de massa óssea e muscular, além de dor nas articulações. No entanto, quando alinhado com algumas atividades físicas indicadas, esses sintomas diminuem”, detalha.
Além disso, o segundo diagnóstico veio em 2017, quando ela já havia criado o blog “Uma Linda Janela”, que acumula quase 20 mil seguidores nas redes sociais, o que a ajudou a enxergar a doença de uma forma mais leve, graças ao apoio dos seguidores. “O mais belo para mim, é essa forma de conexão com as outras mulheres, com outras vidas. Me emocionei muito durante todo o processo e ainda tenho meus momentos de emoção. É uma grande rede de apoio”.
Linda também transformou sua jornada na palestra motivacional e de conscientização nomeada “Pequenas Felicidades”. Sua mensagem de superação e seus aprendizados já foram levados para dezenas de empresas, marcas e instituições de diversos segmentos.
Linda durante uma palestra na Globo | Foto: Arquivo Pessoal
AUTOEXAME NÃO É DIAGNÓSTICO PRECOCE
Outubro é o mês escolhido para a campanha de conscientização sobre o câncer de mama, justamente para alertar o mundo sobre a importância da prevenção. “Uma questão que acontece muito é o foco no autoexame, que é importante, mas não é uma forma de diagnóstico precoce como muita gente acredita”, pontua o mastologista Alexandre Pupo.
“Ele tem a finalidade de lembrar às mulheres sobre a importância de se conhecer e não negligenciar a saúde das mamas, mas o autoexame só vai detectar o câncer quando já está em um nível mais avançado”, explica. Segundo o médico, o mais indicado é fazer o acompanhamento médico de rotina com o seu ginecologista para um diagnóstico precoce. “Não podemos descartá-lo, mas sozinho ele não é sinônimo de detecção imediata da doença.”
FIQUE ATENTA
Pupo ressalta ainda a importância de ficar de olho em outros sintomas, além da presença do nódulo em si. Procure um médico se apresentar mudanças sutis, como:
- Saída de secreção do bico do peito, com um aspecto de sangue ou até mesmo um líquido transparente;
- Retração da pele das mamas, especialmente se o mamilo se apresentar invertido
Apesar do medo do diagnóstico sempre existir, é preciso entender que, quanto mais rápida a detecção da doença, maiores as chances de cura. “Antes de mais nada, somos responsáveis pela nossa saúde. É preciso entender esse amor e ter a coragem de realizar o exame e encará-lo, caso seja positivo. O medo e a insegurança vão surgir, mas é preciso dar a cara a tapa e buscar o diagnóstico precoce. Existem tratamentos cada vez mais avançados hoje em dia”, aconselha Linda Rojas.
PREVENÇÃO
Ilustração via CANVA