A ciência traz novos aprofundamentos sobre a alimentação materna durante a gestação. E, no Dia da Gestante, celebrado nesta terça-feira (15), pesquisadores da Universidade La Trobe (Austrália) mostraram que alguns tipos de bactérias podem ser encontradas no nosso organismo antes mesmo do nascimento, mostrando que a alimentação da mãe tem influência na composição da microbiota fetal.
A nutricionista Natalia Barros, mestre em ciências pela UNIFESP e fundadora da NB Clinic, comenta que, de fato, a nossa microbiota começa a ser formada ainda na barriga da mãe. E por que isso é importante? “A microbiota materna durante a gravidez molda a microbiota vaginal e o leite materno, o que irá alterar a microbiota infantil pioneira durante uma janela crítica no desenvolvimento, tanto no útero como também no bebê após nascer”, explica Natalia.
Segundo ela, o conceito Developmental Origins of Health and Disease (DOHaD) – em português, Origens Desenvolvimentistas da Saúde e da Doença -, já propõe que diversos fatores ambientais, como desnutrição, estresse e exposições a produtos químicos durante a gestação e a infância estão relacionados com o aumento do risco de diversas doenças futuras.
Vem daí a importância do estudo publicado no final de julho, na revista Frontiers in Nutrition por pesquisadores da Universidade de Yamanashi. “Ele chamou a atenção por concluir que a deficiência de fibra dietética materna durante a gravidez pode influenciar um risco aumentado de atraso no neurodesenvolvimento da prole”, resume a nutricionista.
Ela conta que a pesquisa utilizou um banco de dados, para avaliar o consumo alimentar de fibras e ácido fólico e o atraso no desenvolvimento por domínios diferentes. “Mesmo após levar em consideração a ingestão de ácido fólico, que tem um papel essencial no desenvolvimento neural, houve uma ligação significativa entre a ingestão de fibra dietética materna durante a gravidez e o atraso no desenvolvimento infantil”, observa a especialista.
Isso é significativo porque, segundo Natalia, “a fibra dietética regula o microbioma intestinal, por meio da produção de ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs) produzidos pela fermentação bacteriana da fibra”, detalha, resumindo que esse processo tem grande importância para o eixo intestino-cérebro. “Os resultados do estudo sugerem que a ingestão inadequada de fibras dietéticas maternas durante a gravidez afetou o atraso do neurodesenvolvimento infantil por conta da diminuição da produção de SCFAs”, conclui a nutricionista.
NUTRIÇÃO CORRETA PARA O FUTURO DO BEBÊ
“Esse desequilíbrio nutricional materno durante a gravidez pode afetar não só o neurodesenvolvimento de seus filhos, mas também aumentar o risco de problemas futuros, como sobrepeso, síndrome metabólica e diabetes, entre outros, aponta Natalia.
Por isso, a orientação nutricional durante a gravidez é fundamental para a saúde do binômio mãe-bebe, explica a nutricionista, ao detalhar: “Invista em alimentos ricos em fibras, como grãos, cereais, sementes, feijões, batatas, vegetais, frutas, cogumelos e verduras”.
No que diz respeito ao volume de ingestão de fibras, Natalia orienta o consumo de 25g, valor recomendado pelas diretrizes brasileiras. Ela conta que a média de consumo do estudo foi de 10g/dia, sendo que o grupo com maior consumo, respondeu ingerir cerca de 18g/dia.
RESSALVA
Na visão de Natalia, a pesquisa mostra algumas limitações, por ter sido feita com humanos, o que impede de avaliar os efeitos da fibra alimentar isoladamente. “Embora o estudo tenha considerado o impacto da ingestão de ácido fólico durante a gravidez, a possibilidade de outros nutrientes terem um impacto não pode ser descartada”, pondera a especialista.
Outro questionamento dela diz respeito ao método de questionário autoaplicável, em que a compreensão pessoal das perguntas pode influenciar nas respostas. “Também se limitou ao não avaliar outros fatores do desenvolvimento cerebral, como o tipo de parto, a amamentação e a introdução alimentar”, acrescenta Natalia.